Capítulo X: Morte

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AVISO: Este é mais um capítulo focado em Fatäe. Cenas muitos fortes seguem, portanto, se você for sensível, recomendo que pule este capítulo. Não se preocupe, para todo capítulo muito forte irei disponibilizar um anexo em resumo do que aconteceu na trama para que todos possam acompanhar.

Sentada em seu trono, Fatäe admirava as últimas luzes do crepúsculo. Por alguma razão que não compreendia ao certo, a escuridão noturna causava espantos e calafrios nos corações dos súditos que ainda ousavam viver nas terras que havia tomado para si, e embora fosse desejosa de condenar todos à morte ou a um destino pior, entendeu que o terror diário de suas almas lhe alimentava melhor o cerne.

Antes de assumir o controle daquele corpo decadente e frágil, pensava ser o Reino da Prata muito menos grandioso. Tal proposição retardou em muito seus planos, afinal, a atual prioridade era perseguir Oberom, não só para vingar-se, mas por saber ser ele o único com o conhecimento para detê-la em seus planos.

Já havia transcorrido uma semana desde que Oberom partira para sabe-se lá onde, e Fatäe, antes que pudesse ousar conquistar outras terras, deveria primeiro fazer-se soberana em suas próprias ilhas. Ao descobrirem acerca do ritual de sangue à ocasião da coroação de Aenir, os habitantes que permeavam as demais ilhas do Arquipélago Marinho optaram por revoltar-se contra o assassino de seu soberano. Eram homens e mulheres ignorantes que de nada sabiam sobre a verdadeira face dos acontecimentos ali desdobrados.

Entretanto, sendo ela a Mãe de Todo o Mal, viu vantagem naquilo. Durante as pequenas insurgências que se faziam em seus domínios, via a oportunidade perfeita pra espalhar mais da miséria de sua malevolência, assim como conquistar mais Corruptos para suas fileiras. Era questão de tempo até que tudo se resolvesse. No fim, o que fora planejado para desestabilizá-la acabara por fortalecê-la.

Mas eis que aquela noite não era uma noite comum. Fatäe era entendida da urgência e magnitude de seu plano, e para concretizá-lo, receberia em sua presença um ilustre convidado, o qual o simples nome já lhe causava contentamento. Mardaquê, como o fiel lacaio e entendido de necromancia que era, organizou mais um terrível ritual de sangue. Pelo o que havia dito mais cedo, - "não é a morte o que importa, mas sim como se morre" - as coisas de certo sairiam da forma como mais agradava a agradava.

Fatäe certificara-se de que seu corpo estivesse em bom estado de conservação, não queria definhar enquanto conversava com uma deidade. Para tal, naquela mesma tarde, descera até uma das câmaras de tortura que idealizara, grandes buracos no chão na forma de quadrados, onde as paredes molhadas de sangue e sucos dos corpos em sofrimento embrenhavam o ar de podridão. Eram estruturas recentes moldadas por suas Emanações, ainda vazias, era verdade, mas já ecoando os gritos que a faziam deliciar.

O grande foço terroso e pútrido estava calmo, ou tão calmo quanto poderia estar. Fatäe ainda não encontrara pessoas suficientes para atormentar, o que fazia do lugar um buraco vazio de desesperança onde, vez ou outra, gritos doloridos e alaridos de gargantas secas imploravam pelo fim da vida. Após tediosamente perpassar mais e mais câmaras desocupadas, Fatäe abruptamente interrompeu-se ao encontrar as deliciosidades de uma das masmorras. Haviam mulheres lá, nuas, presas por ferros pelos pulsos, machucadas, magoadas, de hematomas e sangrantes. Mas o que verdadeiramente atraiu sua atenção foram gemidinhos vindos da parede oposta. Os sibilos vinham de uma estrutura de metal que assemelhava-se a um grande castiçal. Havia em baixo uma bacia acoplada na estrutura onde ervas queimavam, levantando uma leve fumaça aromática que defumava o conteúdo da cesta apoiada logo acima da estrutura.

Fatäe adentrou a câmara e rumou direto para a cesta. Ouviu as correntes das paredes tremerem levemente ao sentirem os repuxões das mulheres, que tremiam em temor ao ver a figura desfigurada da rainha Nadêa aproximar-se. Sabiam que era quela uma outra criatura, fosse pela expressão amarga e os retalhos na face, fosse pelos olhos carmins de íris negras. Entretanto, tão logo pôs as mãos na cesta, o silêncio quebrou-se, e as moças puseram-se a chorar e gritar.

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