Capítulo 3

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O pânico se instaura em mim, subo as escadas correndo e me tranco no quarto, eu sei que isso nada adianta, mas de alguma forma me sinto mais segura aqui dentro. O que quer que tenha sido desapareceu, aos poucos minha respiração desacelera.

Eu sabia da existência dos espíritos/fantasmas maus, mas até agora nunca tinha ouvido a voz de um, o que ele quer comigo eu não sei.

***

- Dakota?

Batidas fortes na porta me despertam do sono, devo ter dormido sem perceber. O relógio na cabeceira marca 22:00. Me levanto e abro a porta.

- O que houve? Por que está trancada e tem um porta retrato quebrado na sala?

Pondero se devo ou não falar a verdade para minha mãe, ela já tem tantos problemas, e nunca acreditou em mim mesmo, quem acreditaria?

- Eu deixei cair sem querer, mas estava muito cansada e acabei vindo dormir, pensei que acordaria antes de você chegar para limpar, desculpe.

Ela me olha desconfiada, rugas se formam em sua testa, minha mãe é tão diferente de mim, seus cabelos loiros e seus olhos azuis da cor do céu mostram que se eu não parecesse tanto com meu pai poderia facilmente ter sido adotada. Ela sempre foi linda, mas desde que meu pai nos deixou ela acabou assumindo os dois papéis e isso fez com que tivesse menos tempo para cuidar de si.

- Tudo bem, vai querer alguma coisa? Trouxe Yakisoba.

- Claro.

Desço e limpo o resto do vidro no chão, pego uma das caixinhas e o Hashi, sento no balcão da cozinha e minha mãe senta de frente a mim.

- Então como foi o primeiro dia de aula? Fez algum amigo novo?

Continuo olhando para a caixa cheia de macarrão e legumes em minha mão, mesmo sem olhar para cima eu sei que minha mãe está atenta olhando para mim esperando a resposta.

- Não.

É tudo o que consigo dizer.

- Aconteceu mais alguma coisa?

Minha mãe fala com a voz desconfiada, tomo cuidado com as palavras que vou usar para não acabar falando da minha detenção.

- Bom, tirando o fato de eu ser obrigada a passar o resto do ano sendo dupla de um imbecil que se chama Matthew na aula de literatura, nada demais aconteceu.

Minha mãe sabia de Matthew e Priscila e como eu odiava os dois e sua turma.

- Apenas ignore, mostre que é superior, só mais um ano e estará longe daqui fazendo sua tão sonhada faculdade.

- Eu irei tentar mãe, irei tentar.

***

O despertador toca, mais cinco minutos, preciso de mais cinco minutos.

- Dakota acorda hora da aula.

Minha mãe bate na porta e acaba me despertando, respiro fundo e levanto. Mais uma vez escolho uma calça larga e uma casaco comprido, prendo o cabelo de qualquer maneira e saio de casa.

O caminho para aula é tranquilo, estranhamente o colégio está silencioso, os corredores antes cheios de alunos falantes, hoje abriga alunos calados, o que aconteceu?

Pelo alto falante o Diretor Rogers manda uma mensagem.

Convoco todos os alunos para um reunião de emergência na quadra.

Será que pegaram algum aluno com drogas de novo? Da última vez que isso aconteceu foi um saco, passamos a semana inteira vendo palestras sobre o quanto faz mal usar drogas.

Todos os alunos estão em silêncio, parece que sabem o que aconteceu. Ainda não vi Matthew nem sua turma.

O som de metal rangendo desperta a atenção de todos, o Diretor abre a porta do ginásio e fica posicionado no meio da quadra, seu rosto está apreensivo, todos os professores param ao seu lado, algo muito maior do que drogas achadas com um aluno aconteceu.

- Caros alunos, acho que todos sabem o que aconteceu, é com muito pesar que anúncio essa notícia terrível, nosso estimado aluno Matthew Hestings sofreu um acidente ontem de carro e se encontra entre a vida e a morte, seu estado é gravíssimo, ele está em coma e sua família está muito abalada. Por isso peço que quem puder e quiser doar sangue para ele, que me encontre na minha sala mais tarde.

A notícia me atingiu em cheio, ainda mais por ter desejado sua morte, mas eu não falei de verdade, eu só estava cansada de ser atormentada o tempo inteiro, será que isso aconteceu por minha causa? Afasto o pensamento sem sentindo, é impossível alguém pensar na morte de alguém e essa pessoa sofrer um acidente por isso, provavelmente ele estava bêbado e ultrapassou o sinal vermelho.

Mesmo me convencendo que Matthew seria idiota o suficiente para causar seu próprio acidente dirigindo bêbado, a sensação ruim não saiu do meu peito. Ele está em coma e por mais que eu o odiasse não queria que morresse.

O diretor nos dispensou da quadra e do resto das aulas do dia, provavelmente para quem quiser ir doar sangue poder ir sem perder aula, me pergunto se ele faria o mesmo se fosse qualquer outro aluno, já que o Sr e Sra Hestings são os que mais doam para a construção e reforma de coisas na escola, como a reforma da biblioteca por exemplo.

Quando saio da quadra algo me chama atenção, andando de um lado por outro no estacionamento está Matthew? Balanço a cabeça para afastar o pensamento de ter visto ele, mas ele continua lá. Ele está em coma não está?

Antes que eu pudesse desviar o olhar Matthew me vê, e sabe que consigo vê-lo, ele avança em minha direção, ando para o lado oposto do estacionamento indo em direção a biblioteca.

Abro a porta e entro no majestoso prédio que abriga a nova biblioteca, Matthew parece ter desaparecido, foi só minha mente de novo, só isso.

Respiro fundo e fecho os olhos, mas quando os abro Matthew está na minha frente. Sua camisa branca com gola V está manchada de sangue, assim como seu Jeans da Levis.

- Dakota você pode me ver?

- Não... não... não.

Respiro fundo e vou andando biblioteca a dentro.

- Dakota para de fingir eu sei que você me vê.

- Você está em coma, devo estar alucinando ou algo assim.

Ignoro os olhares dos alunos que estão sentados nas mesas e continuo avançado pelo labirinto de livros, mas Matthew não desiste.

- Dakota por favor me diga o que está acontecendo? Eu morri?

Paro e decido encara-lo.

- Pelo que o Diretor disse você está em coma ou algo assim e perdeu muito sangue.

- E por que você é a única que consegue me ver? Pera aí, então todo aquele lance de ver fantasmas é verdade?

- Eu não sei está bem? Tudo que eu via eram espíritos que morreram e estavam indo embora, nunca tinha visto alguém em coma antes.

- Dakota você precisa me ajudar, eu não posso morrer.

- Engraçado como agora você lembra meu nome né.

- Estou falando sério, eu não quero morrer, tenho muito o que viver ainda.

- Olha eu queria poder ajudar, mas não posso. Eu apenas consigo ver você. E se puder me deixar em paz eu seria grata.

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