I - Não sabe quem sou eu?

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— O que disse? — Arqueei as sobrancelhas e o peguei pela gola de sua camisa, pronto para socá-lo.

— Você é marrenta demais, Tânia — ele riu debochando.

Henry, o maior estúpido que já havia conhecido, desde o dia que havia esbarrado em mim naquele festival. Além de não ser da vila, ele gostava de me enfrentar. Por que diabos tem que ser eu?

— Tânia, solte-o agora! — a velha dona da pensão do outro lado da rua havia gritado para mim. Aquela mulher me aguentou desde a época que parei na frente da porta dela.

— Como soltá-lo? Eu quero deixar marcas nesse lindo rostinho, e com minhas próprias mãos — gritei, pronta para socar a cara daquele idiota.

— Você só sabe arranjar confusão, garota? — Henry riu. Ele nunca parava de debochar da minha cara. Sentia-se superior, e isso me deixava com muita raiva.

— Se você fosse forte, eu até que diria, mas olhe para você, sendo intimidado por uma simples... — Henry havia posto meu braço para trás enquanto colocava uma adaga em meu pescoço, não me deixando terminar de falar.

— O que disse? Eu não entendi — ele cochichou em meu ouvido.

Dei um forte pisão em seu pé, o que fez o mesmo me soltar e cair para trás com tudo dentro do chafariz que havia atrás de nós. Todos que estavam ocupados olharam e começaram a rir, mas foi momentâneo, até alguns cavaleiros com o brasão de Griffo chegarem.

— Henry — o do meio o chamou — o que diabos está fazendo? — Revirou os olhos, enquanto os outros dois riam.

— Tomando um banho — falou fazendo gestos como se estivesse passando sabão.

— Não tire sarro de mim, pirralho. Vamos o rei está o chamando.

— O rei? — Perguntei perplexa.

— Você ia socar o príncipe, Tânia, que coisa feia. Isso dá cadeia, sábia? — Ele debochou novamente.

— O que... — fiquei sem ação. Como um idiota como Henry poderia ser o príncipe?

O vi partir no cavalo branco, dando alguns tapas em minha cabeça para ver se aquilo era mesmo verdade. A velha estava do meu lado me olhando, perplexa também. A olhei sem ação, esperando que dissesse algo que fazia com que o quê acabássemos de ver fizesse sentido. Olhei para o chão e vi a pequena adaga que Henry estava segurando. Admirei-a por alguns instantes antes de pegá-la. Ela tinha o brasão de Griffo, com alguns enfeites de pedrinhas amarelas em seu cabo.

— Oh garota — a velha chamou minha atenção — vamos entrar.

A noite estava calma e serena, porém as ruas pareciam desertas. Eu gostava de sair essa hora da noite, sem que a velha descobrisse. *Conhecia um lugar onde a lua reflete e as estrelas brilham como se estivessem felizes. Um campo cheio de flores, e um lago, o lago que eu considerava mágico.*

Não era muito longe, eu estava seguindo alguns gnomos, o que me fez achar o local. Eles ficaram com raiva? Sim, mas quem liga? Contanto que eu não mexesse nas flores eu poderia passear por lá.

Sentei na beira do lago e fiquei olhando as estrelas. Quando você é órfã e desconhece do seu passado, fica tentando entender o porquê do seu propósito de vida. Era o que eu fazia. Ia para a beira do lago e ficava pensando em como as coisas poderiam ser mais simples se eu soubesse quem sou de verdade.

Ouvi um leve ruído vindo dos arbustos. Levantei-me lentamente com a adaga em mãos. Não dava para enxergar nada pela imensa escuridão do local, onde simples luzes de vaga-lumes não clareavam muita coisa.

O dragão Indomável: A lenda de TitâniaOnde histórias criam vida. Descubra agora