XI - A queda do dragão vermelho

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Visão Titânia

Abri meus olhos bem lentamente, movimentando cada músculo, membro e dedos do corpo. Eu estava coberta por um tipo de pele de urso, que era bem aconchegante, diga-se de passagem. Senti uma forte pontada em minha cabeça, levando a mão até a mesma para massageá-la. Sentei-me e olhei ao redor para me localizar. Sem sucesso, eu não fazia ideia de onde estava. 

Parecia um tipo de cabana de madeira. Ao lado esquerdo havia algumas janelas e, pelo clima, estava frio e o dia anoitecendo. Na frente tinha um tipo de baú, e um espelho em cima, onde eu pude ver meus cabelos ruivos arrumados em uma longa trança. E em minha direta estava um grande armário e o que parecia ser uma escada que dava para o andar de baixo. 

Pus meus pés na madeira fria do chão, e calcei as sapatilhas que estavam ao lado da cabeceira. Em cima da mesma, pude ver a pintura de uma moça com uma criança de colo. Ela tinha cabelos castanho escuro e seus olhos eram cor de avelã. A criança tinha olhos que me pareciam familiar. Eram verdes, profundos, intimidadores pra uns, plenos para mim. Senti um cheiro familiar vindo do andar de baixo. Pareciam bolinhos que saíra da travessa há alguns minutos. 

Andei em passos largos até a escada, descendo-a devagar. Olhei ao redor, e pude ver uma pequena sala com uma lareira acesa e uma cadeira de balanço e uma mesa de jantar com apenas dois lugares. Havia velas nos cantos da sala, e o cheiro de bolinhos certamente viriam da cozinha que ficava depois de uma meia parede que estava logo depois do armário. 

Uma senhora corcunda estava decorando os bolinhos enquanto mexia uma colher de pau no caldeirão que continha algo que também cheirava bem. Ela cantarolava uma canção que soava familiar também. Aquela senhora deveria ser a moça de cabelos castanhos que estava na pintura, por seu cabelo ser visivelmente dessa cor, porém mais claro e desbotado devido a idade. 

- Oh, você acordou - Ela se virou para mim oferecendo um bolinho pronto e decorado - Em cima da mesa está o chá - Falou por fim. 

Peguei o bolinho de sua mão sem dizer nada, e segui para a mesa. Não havia nada em cima dela, nem mesmo o bule de chá ou xícaras. Decidi abrir a boca para chamar sua atenção e avisar que não havia nada do que falara, mas com o estalar de seus dedos, duas xícaras e um bule florido surgiu em cima da pequena mesa de madeira. Pisquei algumas vezes, e a senhora apenas riu com minha reação. 

Ambas pegamos uma xícara, porém ela havia levantando a sua. Mesmo sem entender levantei a minha, e o bule começou a flutuar, colocando a quantidade exata de chá em cada uma das xícaras. A senhora fechou e abriu a mão, fazendo dois torrões de açúcar surgirem em cima da mesma. 

- Isso não aprece nada normal para você, Titânia? - Ela dirigiu a palavra a mim.

- Na verdade, isso tudo me parece muito familiar - Dei um breve suspiro olhando ao redor. 

- Eu sei, meu pequeno dragão - Ela sorriu. Sua falta de dentes também me fizeram dar um breve sorriso. 

- Então... Quem é você? E onde estamos? - Perguntei finalmente.

- Admira-me você não se lembrar - Ela me olhou um pouco confusa e sem ânimo, e por fim suspirou - Bem, meu nome Zelena, e eu sou uma bruxa, como você deve ter percebido.

- Uma bruxa... - Repeti ainda confusa, e ela assentiu - Nós temos algum tipo de ligação ou algo do tipo? 

- Bem... você nasceu humana nesta vida - Apontou para mim com a mão de cima a baixo - E nasceu nessa casa, por isso parece familiar. 

- E você é?...

- Não, nós duas não temos uma ligação muito forte - Ela tirou um papel do bolso, mostrando uma moça jovem e ruiva segurando um bebê - Veja... Esta é você e sua mãe nesta vida - Colocou o papel em minhas mãos.

 - Minha mãe? - Olhei para todos os detalhes daquela foto, sentindo uma forte vontade de chorar.

- Sim, porém... Depois dessa foto ela sumiu, e nunca mais retornou. Ninguém sabe porque, mas ela deixou você aqui, e eu a encontrei.

- Por que eu não lembro dessas coisas? - Tentei buscar palavras para explicar, mas estava ficando cada vez mais nervosa -  Eu tenho visões o tempo todo, mas nada se submete a esta vida! Eu tinha uma mãe, e agora sei quem é! Mas por que ela foi embora? Por que nós morávamos aqui? Eu tenho tantas perguntas, e nenhuma delas podem ser respondidas! - Senti meu coração se apertar.

- Minha querida, as chances dela estar viva não são grandes -  Ela se levantou e segurou minhas mãos - Você sabe o quão difícil é encontrar uma bruxa ultimamente? Nós nos encondemos por vários motivos. Diferente das fadas, diferente de Crisântemo nós somos renegadas, mal vistas. 

Senti uma forte dor em meu corpo, fazendo com que meu corpo cambaleasse de um lado para o outro. E então eu lembrei. A guerra. Max. Os dragões. E eu estava aqui batendo papo com uma bruxa. Dei um forte grunhido, assustando a velha senhora. Meus olhos mudaram de cor naquele momento, e meu corpo se encheu de escamas negras. Zelena pediu que me acalmasse, ou destruiria tudo ao redor. Minha alma draconiana estava querendo sair naquele momento, e lutar contra ela fazia meu corpo doer cada vez mais. 

- EU PRECISO SAIR DAQUI! - Minha voz saia distorcida como a de um demônio.

- Você não pode! Lá fora não é seguro! - Zelena segurava meus braços fortemente.

- MEUS AMIGOS ESTÃO NA GUERRA! - Dentes e garras ficavam mais perceptíveis em meu corpo que agora era negro por conta das escamas.

- A GUERRA ACABOU HÁ UM MÊS! 

Meu corpo paralisou. Aquelas palavras ecoavam na minha cabeça como vozes demoníacas. Arregalei meus olhos, sentindo uma lágrima escorrer pelo meu rosto. Lentamente, meu corpo foi tomando a forma humana novamente. Sentei-me de volta na cadeira, enquanto Zelena me devolvia o chá que havia feito. 

Demorou um tempo até cair a ficha, mas eu não fazia ideia de que estava desacordada por tanto tempo. Olhei para ela em busca de resposta, pois, naquele momento era o que eu mais queria. Respostas. Não era simples, eu sabia, mas eu só precisava saber se tudo estava bem, e que aquela guerra nós tínhamos ganhado.

- Nós...

- Eu sei que não é essa a resposta que você quer, perdoe-me, mas nós perdemos - Zelena limpava seus olhos com um lencinho que guardava no bolso. 

- Onde... Onde todos estão? - Eu olhava fixamente para o nada, sem qualquer tipo de reação.

- A maioria dos dragões fugiram por conta do dragão negro, que em um passe de mágica também sumiu. As outras criaturas, as que sobreviveram, foram levadas para o covil dos Caçadores, provavelmente para serem comercializados em outros continentes. Os humanos... A maioria mortos, porém alguns foram colocados nos calabouços de Griffo, que foi tomada pelos Caçadores. 

- Então há uma grande chance que meu irmão esteja vivo e tenha levado os dragões ao nosso verdadeiro lar - Zelena assentiu - E quanto a Max e Henry... Tenho quase certeza de que ambos estão presos em Griffo. 

- Você pretende voltar lá para resgatá-los, certo? - Ela sorriu já sabendo da resposta.

- Eu preciso... Griffo é meu lar.

- Aqui é seu lar.

- Onde é exatamente, aqui? - Perguntei um pouco confusa.

- Gavinna, o terceiro reino.


***

NOTAS FINAIS!

Bem gente, como vocês podem ver, nosso dragãozinho está um pouco longe demais de Griffo kkk. Vocês pensaram que tinha acabado ali, né? Só que não! Ainda tem muito chão pra ela percorrer, but... Sim, é o fim da nossa primeira história com Titânia! Eu disse que esse capítulo seria mais legal, e ele veio assim com tanta facilidade que My God. Enfim, não esqueçam de dar a estrelinha que me motiva baaaastante, e espero não ter matado Dmitry_Hayden do coração com esse capítulo. 

Até o próximo! 

O dragão Indomável: A lenda de TitâniaOnde histórias criam vida. Descubra agora