Conto 15 - Meus Ideais

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Autora: Georgeane Braga

Sinopse: 


O México é um dos países da América com os maiores índices de tráfico de mulheres, de crianças e feminicídio. Em meio a esse horror que ladeiam as cidades, Malena é sequestrada juntamente com outras meninas. Por um milagre, uma equipe de uma organização secreta, que combate os cartéis, consegue achá-las antes que elas cumpram seu destino. Malena tem uma nova chance que milhares não tiveram e isso mostra a ela um novo caminho. Mas as coisas nem sempre são tão fáceis... Às vezes, um ideal de vida requer lutar todos os dias contra a dor e o medo.

Vídeo Tema:  Tráfico Humano

Classificação: +13

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Eu o vejo ali, com seu uniforme militar olhando para o porta-retratos de um dos nossos momentos mais felizes e posso, praticamente, ler seus pensamentos. Ele tem medo por mim; ainda tem dúvidas quanto a minha decisão. Mas escolhemos um ideal na vida que faz toda a diferença. No fundo, Juan sabe o que ele representa para mim: hoje, meu marido, e sempre, meu salvador em vários sentidos. E esse ideal de vida, devo a ele.

Lembro-me como se fosse hoje, aquela noite de dezembro angustiante. Havia três semanas que estávamos sendo transportadas de lugar para lugar em caminhões sujos e fedidos; eu e mais 23 moças, amontoadas como cães sem dono. As idades variavam entre 12 e 20 anos. Eu tinha 18.

Vítimas de mais um sequestro dos inúmeros que ocorriam em Tenancingo, éramos xingadas o tempo todo; as mais rebeldes apanhavam e eram estupradas. Meu pensamento estava em minha mãe e no quanto ela devia estar desesperada e sem esperanças.

Era cotidiano no México, principalmente em Tenancingo, Estado do Tlaxcala, ouvir notícias sobre o desaparecimento de crianças e mulheres. Não que éramos um povo acostumado a isso, mas um povo sem força.

A polícia não se preocupava com as mães lastimosas e desesperadas enquanto clamavam por socorro. Os chefes de polícia olhavam-nas com desgosto e, muitas vezes, desprezo. Alguns as culpavam chamando-as de relapsas em seus cuidados para com as filhas.

O fato é que em alguns casos, as meninas eram sequestradas em suas próprias casas ou na saída das escolas.

Entretanto, sabíamos que tanto a polícia quanto os políticos das cidades eram pactuantes dos cartéis de tráficos de entorpecentes e humanos. As drogas, a prostituição e tráfico de órgãos eram o que mantinham a riqueza dos poderosos.

Lembrei também de Dona Rosa, uma senhora amiga de mamãe que perdeu a filha há longos doze anos, quando esta foi ao mercado de bicicleta e nunca mais voltou. Os irmãos acharam apenas o veículo e o pacote com os itens comprados, jogados na rua. A busca incessante de Dona Rosa nunca resultou em nada e agora minha mãe também entraria para a lista das "mães desgraçadas".

─ Saiam! Saiam! ─ éramos puxadas aos arrancos por três ou quatro homens de dentro do caminhão e encaminhadas para uma casa no meio do nada. Olhei ao redor e vi alguns carros parados e homens conversando. Certamente negociando sua mercadoria: nós.

Uma mulher velha e com semblante frio abriu a porta. Fomos empurradas para um porão onde havia outras moças. Um lugar lúgubre e com alguns colchonetes no chão.

─ Amanhã cedo partiremos. É bom que durmam, pois, terão muito trabalho pela frente! ─ disse um dos homens com um sorrisinho maldoso antes de fechar a porta pesada e trancá-la.

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