Conto 8 - Era Uma Vez em Dezembro

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Autor: Amauri Filho

Sinopse:

A revolução começou. O rei caiu. Presa em sua casa de veraneio, a família real aguarda o seu julgamento enquanto mudanças sociais, econômicas e políticas estão em curso no país. Mantida em cativeiro dentro da própria casa, a princesa Lara, com o jeito delicado e singelo da dama da corte que ela fora educada para ser, passa a despertar a atenção (e outros sentimentos) de Edgar, um dos jovens soldados que compõe a guarda do local. Um amor inocente que surge de uma paz apenas aparente. Um amor juvenil em meio a um conflito de interesses. Um amor pueril que precisa enfrentar forças muito maiores e poderosas para se fazer valer.

Música Tema: "Once upon a december" (da trilha sonora do filme "Anastasia")

Classificação: +13

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PARTE I

Quase toda noite, a jovem tinha o mesmo sonho.

Ela acordava em sua cama no palácio real ouvindo o som dos tiros e os gritos. Desesperada, a princesa, suas irmãs e seu irmão mais novo se encontravam no corredor e corriam ao encontro do pai, da mãe e da avó. Do alto do imenso mezanino, a jovem via populares e soldados que lutando contra alguns dos últimos oficiais da guarda-real que ainda se mantinham fiéis ao rei. Um dos guardas se aproximava, gritando para o monarca que levaria ele e sua família em segurança para fora do palácio. O rei, inocentemente, acreditava e caminhava em direção ao homem. A poucos metros do pai, a princesa via o homem retirar uma adaga de dentro da manga, pronto para enterrá-la no peito do monarca. Sua avó, contudo, com um grito, entrava na frente no rei e recebia um profundo golpe em seu peito, caindo morta instantaneamente. O guarda, então, era morto com o tiro de um companheiro na revolução, que gritava para que outros revoltosos prendessem a família real, mas não os matasse e nem os ferisse.

Mas o que a assustava, na verdade, não era a violência do sonho em si, mas o simples fato de que não era um pesadelo que a sua sempre fértil mente produzirá sozinha. Era uma vivência recente que a traumatizara e ela não conseguia esquecer: ela ainda se lembrava dos olhos abertos e sem vida da avó apunhalada fitando o vazio enquanto ela era conduzida à força pelos revoltosos para fora do palácio real.

Por vários dias após a queda do governo de seu pai, a princesa Lara acreditou que ficaria encarcerada nos calabouços da capital até que a junta militar (que assumira o governo em caráter interino) decidisse que toda a família real fosse executada. Esse pensamento, contudo, mostrou-se errado quando, apenas cinco dias após o deflagrar da revolta, a jovem, seus irmãos e seus pais foram conduzidos até a casa de veraneio da família real, no norte do país. Lá, foram recebidos com todo o conforto e mordomias com os quais estavam acostumados a ter pelo simples fato de pertencerem à realeza; a proibição de abandonarem o local, entretanto, era a única coisa que lhes lembrava de que seus títulos de nobreza já não mais existiam: eram prisioneiros dentro de sua própria moradia e lá residiriam até que forças maiores decidissem seus destinos. Forças maiores que, há meses, pressionavam o rei no Parlamento por uma infinidade de mudanças que ele, sozinho, não podia ou não queria realizar. Forças maiores que se aproveitaram da insatisfação popular e do consequente e crescente ódio contra a família real para assumirem o poder. Quando dezembro chegou, a princesa contabilizou um total de seis meses presa na luxuosa casa localizada entre as montanhas.

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