Conto 13 - L'amore

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Autora: Leeh

Sinopse:

Pedro Luiz – ou apenas Luiz, como gosta de ser chamado – é um soldado da FEB (Força Expedicionária Brasileira) que, antes de viajar para a Europa a fim de lutar ao lado dos Aliados na Campanha da Itália, conhece uma prostituta, Clarice Freitas, na região do Lapa, no Rio de Janeiro. Porém, ao passar uma noite com ela, ambos não são capazes de negar que a atração entre eles é mútua, de tal maneira que deixa ambos os corações abalados devido a trágica situação em que se encontram: ela, uma prostituta; ele, um soldado prestes a ir para a Guerra.

Música Tema: Something - George Harrison

Classificação: +16/18

***

Em toda a minha vida, eu já estive à beira da morte, pelo menos, umas três vezes.

Na primeira vez, possivelmente eu não havia aprendido nem a andar e nem a falar ainda. Mas mesmo com menos de um ano de idade, as minhas células, a minha massa corporal e qualquer outra estrutura em meu organismo já tiveram que combater a alguma doença, embora frágeis. Eu tinha acabado de ganhar uma vida e estava prestes a perdê-la – assim, vale lembrar que muitos não tiveram a mesma oportunidade que eu tive enquanto ainda bebê.

Já estava no lucro.

A terceira vez ocorre exatamente neste momento.

A cada barulho de disparo eu penso que será a minha vez. E então eu fecho os olhos com força e tento dirigir meus pensamentos a alguma coisa que me traga paz. É, no mínimo, impossível. O cheiro de sangue alheio e podre ronda todo o lugar onde eu estou e rondará para onde quer que eu vá, descendo como ácido pelo meu esôfago e desafiando o meu estômago a ser mais forte do que eu penso. E o pior é que o fedor não está aqui em vão: corpos ensanguentados, em estados de decomposição, recém-mortos, homens feridos, queimados, esmagados, baleados, triturados são ingredientes principais da guerra e malditamente não sumirão daqui de uma hora pra outra.

E eu tenho sorte por estar vivo?

Talvez eu deva morrer.

Embora cedo, eu sinto frio por conta da falta de alimentos em meu organismo. Estou me sentindo um velho e não um soldado da Força Expedionária Brasileira de 21 anos. Com um pouco mais de disposição, eu conseguiria fugir do meio deste forte de terra sem ser baleado ou atingido.

Mas eu estou à espera de minha morte – e acho que o meu número limite de vezes em que eu pudesse estar à beira dela eram dois.

A segunda vez foi quando eu conheci Clarice.

Eu não sei como descrevê-la e uso o resto do tempo que tenho para achar algo bom o suficiente.

Ela disse "fique vivo" mas eu não dei garantia nenhuma. Eu poderia simplesmente morrer por dentro por ter que deixá-la.

Eventualmente eu passo a mão na terra à minha frente para tentar sentir os cabelos dela em meus dedos já que eles possuíam a mesma tonalidade de marrom.

— Será que o senhor precisa de uma acompanhante?

Ali estava ela e aquela foi a primeira frase vinda de sua voz que chegou em meus ouvidos. O marrom de seus cabelos estava escuro por conta da iluminação do bar e seus lábios estavam com umas manchas da espuma da cerveja.

Amores MilitaresOnde histórias criam vida. Descubra agora