Nosso Segredinho

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No dia seguinte, Sara estava lavando o banheiro de cima, com a pequena Alice à porta, no bebê conforto. Aproximei do banheiro e brinquei com minha irmã esfregando meu nariz no dela. Ela sorriu.

— Ela gosta de você — Sara comentou enquanto esfregava o azulejo, sem olhar diretamente para mim.

— Eu sei... E você? — Arrisquei, mas arrependi-me quase que instantemente.

Sara estava engatinhada sobre o piso, parou de esfregar e virou a cabeça para mim argumentando — Eu o que?

Envergonhada pela estupidez da pergunta, segui pelo corredor.

Ela levantou e chamou — Hei? — parei sem me virar e ela prosseguiu com a voz suave — Se quer mesmo saber, acho que você é uma garota esperta e uma excelente irmã para a Alice, mas...

Virei, ficando de frente para ela — Mas o que?

Sara ajeitou o cabelo atrás da orelha — É uma pena que não perceba o que está acontecendo com o seu futuro.

— Do que está falando? Se está falando daquela droga, não uso nada...

Ela serrou os olhos, como se demonstrasse arrependimento por falar — A droga é só um composto químico. Estou falando que deveria ouvir o seu pai. Ele quer te ajudar com seu problema.

— Isso é besteira, não tenho problema nenhum, não sou uma viciada ou qualquer coisa do tipo. Balancei a cabeça em tom desaprovador — Você fala de problemas? E se eu estiver mesmo com problemas? Ou pior: e se eu for o problema? — Caminhei em sua direção até ficarmos frente a frente — Essas são palavras formam sua bela expressão moralista, mas não passam disso, palavras. — dei de costas e voltei para o meu quarto.

Esparramei na cama e vi a bíblia que o papai me deu quando era pequena, abri aleatoriamente: "Mas nada há encoberto, que não haja de ser descoberto; nem oculto, que não haja de ser conhecido" Lucas 12:2.

A leitura foi interrompida por batidas a porta, então Sara revelou sua face, para depois esgueirar o corpo todo para dentro do quarto — Eu só queria... — Irrompeu ela com a voz quase inaudível e, mesmo com indisfarçável insegurança, tentou prosseguir — Bem, é que... — chacoalhou a cabeça — Deixa para lá... — voltou-se para a porta.

A interrompi antes que ela fechasse a porta — Não saia. Fale, por favor.

Ela ofereceu meio sorriso — No fundo concordo com você! Só queria que soubesse que posso oferecer caminhos que podem ir além das palavras.

Levantei meio corpo da cama — Como assim?

Ela balançou a cabeça, visivelmente arrependida de ter começado, seja lá o que tivesse tentado dizer — Esquece Hanna, foi só uma ideia maluca — respondeu enquanto fechava a porta.

Levantei e corri atrás dela, alcançando-a no corredor e a puxei pelo braço — Você fala como se fosse algum tipo de feiticeira?

Como um animal acuado, ela chacoalhou o braço libertando-se da minha mão e puxou a gola da minha camisa, vociferando em tom assustadoramente grave — Nunca mais me chame de feiticeira, elas não passam de vagabundas traidoras.

Sem compreender sua reação, apenas fiz que sim com a cabeça, apavorada. Sara passou a mão sobre a boca, como se estivesse limpando-a e se ajeitou.

— Eu quero saber. Quero conhecer esse tal caminho — desatei, receada.

Sara olhou para baixo, refletindo, então olhou para mim — Tudo ficará entre nós, você entendeu? Se seu pai ficar sabendo do que vou lhe mostrar hoje, posso garantir pessoalmente que se arrependa de ter me procurado nesse corredor.

Fiz que sim com a cabeça.

A Imperatriz de LevronOnde histórias criam vida. Descubra agora