— Seja quem for, acho que não vai fazer mal se a visita me esperar até voltar com o meu cafezinho — comentou meu pai, nos deixando.
O funcionário apenas abriu a porta e fez sinal para que a tal visita entrasse. Um rapaz franzino, usando óculos e camisa sem gravata, entrou carregando uma cesta de chocolate com um ursinho e um laço vermelho.
— Ele é seu namorado? — Sara olhou séria em minha direção.
Só depois de alguns segundos olhando para aquela versão tosca do Mil House em live action, reconheci o Gael. O que não diminuiu em nada minha dúvida — O que você está fazendo aqui?
— Como assim? Você me chamou.
Tentei cruzar os braços, mas fui impedida pelos braceletes — Não pode ser! Nem eu mesma sabia que estava aqui.
Gael retirou o celular do bolso e se aproximou mostrando a mensagem REALVIDA, AJUFDA!!!!
Era mesmo meu número. Minha foto estava com o título Coisa Linda S2.
Sara fez uma expressão de estranhamento enquanto pegava o celular da mão do garoto. Ela analisou a mensagem e reagiu com aspereza — Mas essa mensagem é de dois dias atrás — enquanto encarava o garoto.
— Do dia em que tentei fugir — deduzi, olhando fixo para o nada — Talvez tenha sido um breve momento de lucidez. Tentei pedir ajuda — conclui, voltando-me ao Mil House — Por que você demorou dois dias para vir até aqui?
Aquele garoto pegou o seu celular da mão da Sara, oferecendo um sorriso nervoso — Na verdade, não havia entendido a mensagem até hoje cedo, pensei que fosse alguma coisa metafórica sobre a vida.
Sara se aproximou do garoto encarando-o e deixando-o visivelmente sem graça.
— Eu quero falar com o Gael — alardeei.
Sara deu de ombros, mas insisti insinuando a porta com o queixo. A esposa do meu pai contorceu os lábios, estava contrariada, mas deixou o quarto.
Gael colocou a cesta na mesa e as mãos nos bolsos. O garoto olhava para o alto, evitando olhar diretamente para mim.
Irrompi — Fala sério, porque eu mandaria uma mensagem para você? — Perguntei, suspirando um sorriso debochado.
— Para te ajudar... Eu acho... — ele olhou para meus braceletes — Porque te prenderam na cama?
Bufei ao olhar os braceletes — Como vou saber? — Olhei para a cesta que ele trouxe — Porque você trouxe isso?
Gael encolheu os ombros — É só um presente... — abaixou a cabeça.
Suspirei — Valeu.
— Ei? Você não se lembra de nada mesmo? Quero dizer, nem mesmo daquele dia que a gente foi para o Parque?
Que parque, garoto? Estou com um problema real e você vem com esse papinho de amizade — levei as mãos á cabeça e comecei a chorar. Gael se aproximou e eu alertei — Fique longe, por favor. Ele encurvou os ombros e retraiu os braços. Logo olhei para ele, arrependida — Não é você...
Ele levantou a mão interrompendo minha fala — Sou eu sim... — cruzou os braços — Já conheço esse discurso, ouço isso sempre que tento alguma coisa com alguma garota.
Ri por um breve momento — Não é o que você está pensando. É que você não acreditaria se contasse o perigo que você corre ficando ao meu lado.
Ele riu — Tudo bem, confesso que essa me surpreendeu.
Sacudi a cabeça. Percebi que aquele garoto não sabia de nada e estava ali por que recebeu a mensagem da vizinha que ele se interessava. Essa era a brecha, uma oportunidade — Me empresta seu celular, por favor?
Gael entregou o aparelho e eu comecei a fuçar em suas pastas de músicas que variavam entre Matanza, Lady Gaga e RPM. Ele ouvia RPM, dá para acreditar? Um garoto de vinte e poucos anos que ouvia RPM.
Coloquei a primeira música no volume máximo.
Gael olhava com estranheza e questionou — O que você está fazendo? — sem entender por que eu balançava a cabeça desordenadamente, fingindo conhecer o ritmo da música.
— Você precisa me ajudar a sair daqui — sussurrei com a cabeça agitante, ao som de Olhar 43.
Ele arregalou os olhos — Na boa Hanna, estou começando a entender porque te amarraram nessa cama.
Mandei um beijo para ele no momento em que a música dizia E prum garoto introvertido, apontando o indicador para ele e continuando com um sinal de "venha". Ele se aproximou, com o rosto duvidoso. Puxei sua gola e cochichei em seu ouvido — Eu estou aqui contra a minha vontade, preciso sair daqui — olhei de canto para a câmera de segurança no canto da parede.
Ele olhou para a câmera e sua face assumiu umtom sério. Em seguida, se afastou e abaixou a cabeça. Parecia tentar processara informação. De repente, o garoto levantou a cabeça e cantou junto com amúsica Já saindo, indo embora.",1xs
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A Imperatriz de Levron
Mystery / ThrillerTudo começou quando minha alma ainda pertencia a um corpo humano, em um tempo onde humanos podiam ter outros humanos como propriedade. Caminhei do inferno ao paraíso, ainda em vida. Após morrer, fui condenada ao inferno. Mas Lúcifer, o príncipe da l...