Droga!

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Droga!

Abri a porta da sala e entrei correndo, anunciando — Eu passei papai! Consegui entrar para os Agulhas Negras.

Meu pai lustrava meu troféu do campeonato estadual de matemática sobre uma pequena escada. O velho desceu rapidamente ao ouvir meu anúncio, olhou fixamente para mim e expos um largo sorriso. Então retirou os óculos e sussurrou — Eu já sabia, sempre soube, Hanna — E, usando o nódulos dos dedos, apertou meu nariz, como sempre fazia quando a mamãe ainda vivia com a gente.

Sara, a esposa do meu pai, entrou na sala. Ela amamentava a pequena Alice em seus braços, minha irmã e única coisa boa advinda desse casamento. Ao nos observar com um sorriso contido, Sara expressou se com a voz suave e calculada — Parabéns Hanna, você merece. — Encarei-a por alguns instantes, pois não tinha intenção de esconder meu desgosto a substituta da mamãe. Corri para a escada, mas não subi para o piso superior, ao invés disso, recostei a parede para ouvir aquela mulher dizer — Ela não gosta de mim. — enquanto via a sombra dançante da Sara balançando a Alice em seus braços.

Meu pai reagiu — Paciência, meu amor. Ela ainda não superou a morte da mãe. Amanhã conversaremos sobre isso, nós três juntos... Quero dizer, nós quatro. — Pude imagina-lo acariciando a pequena Alice ao corrigir o próprio discurso.

Ouvir o papai falando da minha mãe com aquela mulher de forma tão fria, provocou uma sensação de traição. Não havia duvidas para mim, ele caiu no joguinho de sedução dela. Que patético! Subi a escada e fui para o meu quarto, desolada.

No dia seguinte, meu pai havia preparado uma festa surpresa. A música estava alta e a casa estava cheia. Os cadetes da escola preparatória dos Agulhas Negras alugaram a diária de um ônibus só para a festa.

Estava conversando com alguns colegas do colegial quando meu pai desligou o som e gritou no meio da sala pedindo a atenção de todos. Não acreditei quando ouvi os convidados gritando de forma desordenada "Discurso, discurso, discurso...". O falatório do velho teve uma abertura tão grandiloquente quanto vergonhosa: — Parece que foi ontem, o dia em que meus olhos puderam ver aquele ser vivo que chorava e mal conseguia abrir os olhos... — suspirou — O magnífico pendão da esperança! A grandeza de seu espírito, júbilo. Nos trouxe o afeto que encerra em si próprio. — Afeto que encerra em si próprio? Fala sério, nem conseguiria explicar o que ele quis dizer com isso. E assim, o Papai prosseguiu por mais de meia hora e durante o vergonhoso falatório o velho me puxava, forçando um abraço, meio desajeitado. Todos me olhavam e eu só conseguia pensar no desejo de vê-lo calar a maldita boca.

Com exceção do discurso patético do velho, a festa estava bacana. Porém, um convidado inesperado estava prestes á transformar a festa em uma tragédia familiar.

A campainha tocou. Sara abaixou o som e, olhando para meu pai, apontou para a porta. Era a Doutora Leah, psiquiatra da Escola Preparatória de Cadetes usava uma jaqueta de couro preta com uma echarpe no pescoço. Seu caminhar transmitia toda a imponência necessária a uma pessoa que se leva a sério.

Aquela pomposa não se daria o trabalho de vir até minha casa se não fosse para falar sobre meu comportamento. Papai a atendeu e os dois conversaram por um bom tempo em seu escritório. Notei que demoram mais de uma hora e, ao sair, ela caminhou em direção à porta olhando com desdém indisfarçável aos estudantes espalhados pela casa. Porém, ao olhar para mim, a Doutora Leah serrou os lábios e deitou o rosto, em tom desolado. Ela se achava tanto que não conseguia evitar a expressão máxima de sua arrogância, a dó.

No fim da festa, o inevitável esperava por mim. Enquanto recolhia os copos e pratos descartáveis espalhados na sala, ouvi meu pai chamar. O chamado com o meu primeiro nome, acompanhado do segundo, soou tão grave e silábico que pude predizer a tragédia trazida por aquele corvo de jaqueta e lenço no pescoço. Fui à cozinha. Meu pai aguardava com os braços cruzados, recostado a pia e olhando para mim incisivamente. As sobrancelhas serradas e a testa enrugada denunciavam seu ódio, muito acima do convencional para uma bronca. Sara secava a louça, mas assim que cheguei ela pendurou o pano de prato e caminhou para a sala. Porém, meu pai a segurou pelo braço e impôs — Isso é uma conversa em família.

Sara libertou seu braço com tranquilidade e sentou-se a mesa, — Minha presença aqui é desnecessária.

Meu pai se limitou a dar de ombros em resposta ao comentário da esposa, em seguida, o velho olhou para mim arqueando as sobrancelhas. O ódio em seu rosto foi subitamente substituído por decepção, puxou a cadeira de frente para Sara e, olhando para mim, ordenou — Sente-se. — Fiquei incomodada ao perceber que papai conversaria comigo na frente daquela mulher. Protestei! A moda dos indianos, sem me mover. O velho caminhou em minha direção lentamente e alertou — Não pedirei uma segunda vez.

Sentei, com os braços cruzados. Mas virei o rosto para os lados, evitando olhar diretamente para eles. Aquela mulher que ocupava o lugar da minha mãe ofereceu uma feição complacente enquanto olhava para mim. — Qual é o drama? — reagi, oferecendo uma micro expressão de raiva.

Papai estava realmente furioso, sua mão se agitou com o dedo apontado para mim — A Senhora Leah esteve aqui hoje e não trouxe boas notícias mocinha. Disse que seu rendimento na academia foi singular. Que apesar de suas notas serem boas e não ter faltas, notou um comportamento estranho nas ultimas semanas.

Cocei a cabeça, — Como assim pai?

— Ela disse que eu devia ficar atento, pois se a academia descobrisse qualquer envolvimento de um de seus acadêmicos com drogas, você seria expulsa do exercito". Ele aproximou o rosto do meu, pude sentir o cheiro do seu hálito de cerveja "Aquela mulher me ameaçou... — bufou apoiando o punho serrado a frente da testa — Ela ameaçou te levar ao conselho tutelar. — concluiu voltando a recostar na pia, com os braços cruzados.

— Ela está viajando, pai. Essa mulher pegou birra de mim. Como você pode acreditar no que ela disse. Eu sou tua filha!

Naquele momento ovelho surtou, se aproximou de mim como um lince sobre o pequeno coelho, socou amesa e anunciou — Ela disse que vocêdeixou cair isso do seu armário. — Suas narinas estavam dilatadas e olhostrovejavam sangue. Então, a mão serrada sobre a mesa abriu lentamente e revelouuma capsula de cocaína.    

    

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A Imperatriz de LevronOnde histórias criam vida. Descubra agora