Eles

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— Meu nome é Berenice, minha jovem — comentou a senhora enquanto colocava chá em uma xícara de porcelana branca com flores azuis que pareciam ser desenhadas à mão.

Meu nome é... — tentei dizer.

— Eu sei seu nome, Hannah — completou a senhora com o mesmo sorriso simpático ofertado a Sara.

O lobo parecia ainda maior dentro da casa. O animal estava deitado como uma esfinge, no sofá de três lugares, ao lado de sua idosa dona. Eu e Sara estávamos apertadas pela cadeirinha de bebe no pequeno sofá de dois lugares, de frente para ela.

Naquele momento, senti uma grande frustração. Aquela estranha visita nua casa de pedra não era bem o que esperava como um grande segredo que eu não poderia contar ao meu pai — Como a senhora vive aqui? — Questionei sem fazer questão de esconder a feição amarga de estranheza.

As duas riram trocando olhares de cumplicidade, mas Berenice respondeu com a voz calma — Como qualquer um vive em qualquer lugar, as regras são as mesmas para qualquer organismo, minha jovem.

Fiquei corada com a resposta. Meu comportamento era um resquício da herança juvenil, a ridícula arrogância dos eternos.

Sara continuou — Ela planta o que ela come e quando precisa de alguma coisa que não tem, chama um amigo.

— Mas a ultima casa que vi no caminho para casa fica a quilômetros, seus amigos são duendes da florestas.

— Duendes não podem ser considerados amigos.

Balancei a cabeça. Olhei para o painel da lareira e a mesa pequena de centro, os únicos móveis daquela cabana de pedra. Não vi nenhum telefone fixo ou celular — Você não tem... — tentei falar, mas fui novamente interrompida pela tiazinha.

— Não preciso de telefone para se comunicar com meus amigos.

Como aquela mulher sabia o que eu ia perguntar?

— Quais ventos a trouxeram aqui? — Continuou a velha, olhando para Sara, ao mesmo tempo que afanava a cabeça de seu Lobo.

— Ventos de tempestade — respondeu Sara com a face sisuda.

— Isso não é bom, minha linda! — Berenice serrou os lábios, então prosseguiu assumindo um tom de voz mais grave — Não devia ter trazido ela aqui, podíamos ter visto qualquer coisa sem sua presença.

Cruzei os braços — Na boa, vocês poderiam parar de falar de mim como se eu não estivesse aqui — fisguei os lábios. As duas me ignoraram completamente, agiam e conversavam como se estivessem ouvindo um figurante de um filme repetido do Adam Sandler.

Berenice levantou, insistindo — Porque você veio de tão longe com ela? O que está me escondendo Sara?

A mulher do meu pai arregalou os olhos, visivelmente transtornada, depois olhou para mim, então se voltou para a mulher — Ela está com o espírito muito carregado, pressenti a presença de muita energia destrutiva.

Berenice fungou — Isso é papo furado, todo mundo nesse século está carregando um pouco de escuridão. Conta logo porque você trouxe essa ignorante até minha casa! — A senhora apontava o dedo agitante a Sara.

Eu vi um dos regentes da segunda casa — respondeu Sara suspirando a frase como se fosse uma única palavra.

Berenice caiu no sofá, com o olhar perdido — Você tem certeza?

Sara fez que sim, com os olhos lacrimejantes — Eles estão observando ela há algum tempo.

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A Imperatriz de LevronOnde histórias criam vida. Descubra agora