Ele É Meu!

Mês onze.

Antes de ir para o aeroporto passei no hospital. Eu precisava ve-la, como todos os dias. Era como se isso fosse meu oxigênio.

- boa noite, sou Elias Federman e vim visitar a paciente Melissa Federman.

- hum, Melissa Federman? Nós não...

- eu disse Melissa Federman? Deus do céu! Desculpe, é Melissa Hartman.

A recepcionista soltou um risinho como quem diz: coitado, pirou de vez. E o pior é que ela pensou certo.

Subi para o quinto andar e abri o sorriso de sempre quando a vi. Calma, serena, linda.

Me aproximei mais e dei um beijo em sua testa, como sempre.

- oi meu amor. Hoje tenho uma má notícia.

Respirei fundo e continuei.

- eu estou indo para o Canadá daqui duas horas. Vamos abrir mais uma filial e meu pai precisa de mim por lá.

Fiz uma pausa e continuei.

- eu sei bem o que eles querem. Mês que vem fará um ano que você está nessa cama e eles sabem que eu vou surtar. Nem eu sei como eu vou me comportar. As vezes eu acho que não vou conseguir, mas quando entro aqui e olho pra você tudo muda. Eu sinto esperança.

Fiz outra pausa e continuei.

- eu prometo que voltarei o quanto antes e você mocinha, não se atreva a sair daqui.

Ri sozinho da minha própria piada ridícula.

- o Bill me prometeu que virá aqui animar você, afinal, ele continua o palhaço de sempre.

Suspirei alto e continuei.

- eu te amo Melissa. Eu nunca vou deixar de te amar.

Depositei um beijo em uma de suas mãos, passei a mão em seus cabelos macios e dei um sorriso de leve.

Meu celular já estava vibrando no bolso, porque eu provavelmente já estava atrasado para pegar o voo.

Dei mais uma olhada nela antes de sair, mas quando coloquei a mão na maçaneta da porta meus ouvidos estalaram de uma forma que eu jamais achei que pudessem estalar.

Talvez eu tivesse ouvido o som das trombetas do apocalipse ou de anjos caindo do céu, mas não. Não era nada disso. A voz rouca e fraca que eu escutei era dela. Aquela voz eu reconheceria em qualquer lugar.

- Eli...