A Menina Nova

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  - Como assim não tem outro lugar disponível!? - Gritei.
  - Não tendo Carter! - gritou o supervisor de volta- Acabou!
  Sua expressão mudou de raiva para algo mais suave e ele então falou:
  - Olha, eu sei que isso é chato pra você, mas eu realmente não pude fazer nada.
  Após um longo suspiro, falei:
  - Eu sei. - E saí dali.
  Essa era a pior coisa na qual eles poderiam ter me metido. Não é possível que em todo o dormitório, não tenha nem uma vaga sequer!
  Veja bem, onde eu moro só entra quem é algum tipo de artista, seja ele ou ela escritor, desenhista ou musicista. Acontece que isso aqui nunca ficou cheio ao ponto de alguém precisar morar junto comigo.

Não até agora.
 
  Aparentemente, o dormitório está tão cheio, que o único lugar que dá para colocar a menina que vai chegar é comigo. Pois bem, eu tenho vários motivos para não gostar disso, entre eles está o fato de ela ser uma menina e eu um menino, e nenhuma política sã colocaria ambos no mesmo quarto.

  Não muito mais tarde, ouvi leves batidas na minha porta. Ela havia chegado.
  Abri.
  Bem à minha frente estava uma menina pouco menor do que eu, cabelos lisos e escuros e pele clara. Ela era linda, mas o que me surpreendeu não foi sua aparência, mas sim seus olhos. Eles eram de uma cor que eu não sabia dizer se eram azuis ou cinzas, mas neles havia algo mais. Como se escondessem grandes segredos, e fizessem muito esforço para mantê-los guardados ali dentro.
  Eu devo tê-la ficado encarando por alguns minutos, e tudo o que ela fez foi permanecer ali, parada, corando de pouco a pouco. Até que eu caí em mim, e lhe dei espaço na porta para que pudesse entrar.
  A observei caminhar lentamente até a recém colocada cama que estava de frente para minha e retirar produto por produto de dentro de sua mala.
  Fechei a porta e me apresentei:
  - Eu... Me chamo Carter. Prazer.
  E em resposta, ela apenas fez que "sim" com a cabeça e, com a mesma, indicou uma plaquinha que ficava na mala que ainda estava fechada.
  Sem entender muito bem, caminhei até a mala e li o que estava na pequena placa: "Pertence a Mia H."
  Mia. Esse é seu nome? Porque simplesmente não o disse?
  - O.K. - Falei ainda sem jeito - Você quer... Que eu te leve pra conhecer o lugar?
  Ela pensou por alguns segundos e, se virando pra mim, balançou a cabeça em um não.
  Ou ela é muda, ou mal-educada.
  - Sem querer ser grosso mas... - comecei - Você é muda?
  Ela se virou pra mim parecendo se divertir muito com a pergunta e repetiu o movimento de "não".
  - Então porque não me responde?
  Após outro momento de silêncio, cansei de esperar por uma resposta audível e saí do quarto a deixando para arrumar suas coisas.

Sem Palavras Me ConquistouOnde histórias criam vida. Descubra agora