A Briga Mais Estúpida de Todos Os Tempos

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  Desde então, sempre que eu resolvia olhar para o grande mural que agora ficava ao lado da mesa de desenho de Mia, havia um novo desenho. Um novo desenho de mim.
  Era surpreendente como ela conseguia captar mínimos ângulos em  frações de momentos. Mas havia um, que superava todos.
  Era um retrato do meu rosto, do dia em que eu a havia elogiado e ela achou tão estranho que, além de fazer careta, tropeçou e caiu. Caí na risada, e ela registrou isso. Meu rosto com um enorme sorriso e todo o cenário, exatamente como era no dia, no fundo.

  Caminhei para a escola como todos os dias. Sozinho e em silêncio, praguejando aqueles que sopravam os costumeiros insultos ao longo do caminho. Apenas uma coisa não estava normal.  O idiota chefe dos que praticavam o bullying não estava onde sempre estava.  Ele estava parado, na porta da escola.

  Algo me dizia que o que estava prestes a acontecer não era  nada bom.

  - A garotinha foi falar de mim para a direção não é? - praticamente cuspiu Ian me encarando com os punhos cerrados.
 
  Sabia. Vou morrer.

  - Não é homem o suficiente pra me encarar? - continuou - Pois agora, acho que, já que não te ensinaram, eu preciso te ensinar que fofoca é feio...
  Dito isso ele veio pra cima de mim.

  Só tive tempo de sentir dor.

  Eu não sei bater. Sou o tipo de cara que vive com boas notas e trancado no quarto. Não sou o tipo "sociável". Sou o perfeito esteriótipo de "nerd" e, como o tal, não sei desferir um soco sequer sem que minha cara esteja toda amassada no pátio antes.
  Quando ele estava prestes a desferir o quarto (ou quinto, não tenho certeza) soco, ele parou. Ele simplesmente parou e olhou pra trás. Foi quando pude ver um bolinha de papel no chão e Mia em pé de braços cruzados atrás de Ian.
  Ele se levantou lentamente e caminhou até ela.
  - Perdeu o juízo garota!? - gritou pra  ela.
 
  E em resposta, ela cuspiu na cara dele.

  Foi insano, e eu devia ficar preocupado, já que ele um idiota sem cérebro que, sem dúvida, não se importaria em fazer o que ele fez comigo, com qualquer outra menina. Mas foi épico.
  - Quer terminar que nem sua namoradinha ali no chão!? - gritou após limpar o rosto.
  Após o silêncio de Mia (previsível), ele levantou a mão como que para socá-la, mas antes falou:
  - Não vai ter graça te bater... Você não saberia sequer tentar se defender...
 
  Foi apenas o tempo de ele abaixar a mão.
 
  Assim que ele se virou para voltar para a minha seção de "como apanhar feito saco de boxe", Mia lhe chutou.
  Eu quero frisar bem esse momento, pois eu nunca me deliciei tanto em toda minha existência. Mia não o "chutou". Mia o chutou com muita força bem lá onde dói. É. Exatamente isso que você está pensando.
 
  Enquanto Ian se contorcia no chão e praguejava até a décima geração de Mia, e ela sorria de prazer, Mia veio até mim e me ajudou a me levantar colocando meus braços ao redor de seus ombros para que eu pudesse me apoiar. Meu nariz sangrava, a cada passo que eu dava uma dor lancinante percorria todo o meu corpo e minha voz custava sair, mas falei:
  - Obrigado por ter aparecido.
  Ela me olhou.
  - Não vai falar nada não é? - perguntei
  Soltei uma fraca risada.
  - Tudo bem.

Sem Palavras Me ConquistouOnde histórias criam vida. Descubra agora