Capítulo 2

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Meses depois...


Da varanda do sobrado, Margarida contemplava solitária aquela linda noite de véspera de Ano Novo, enquanto a brisa agitava seus cabelos compridos e seu coração apertava de saudade. Mas ela prometera a si mesmo que não iria chorar, como acontecera na noite de Natal.

Marcos aproximou-se devagar e, por um minuto ou dois, apenas contemplou a mulher encantadora alguns metros à sua frente, embalada num roupão de banho e levemente inclinada sobre a mureta da sacada, de costas para ele.

Sob o céu estrelado e uma lua tão redonda e radiante como um disco de prata, o perfil delicado de seu rosto ganhara ainda mais destaque. E os olhos, que nesse momento ele não conseguia ver, mas que sabia que eram grandes e redondos, de um castanho bem claro, quase cor de mel, deviam estar brilhando tal como as estrelas do céu. O luar prateado destacava ainda sua pele alva, cujo vento, vez ou outra, arrepiava, supunha Marcos, fascinado por essa combinação que produzia um efeito quase etéreo.

— Saudade da família?

Ela sentiu sua presença apenas no momento que ele chegou mais perto. Por isso, antes de virar-se em sua direção, tentou controlar uma lágrima que insistia em querer cair. Não queria que o primo ou qualquer outra pessoa a visse chorando.

— Nunca passei tanto tempo longe da minha mãe e da minha irmã. — A lágrima rolou antes que pudesse conter. Ela passou as mãos pelo rosto e enxugou-o rapidamente. — Desculpe. Não quero estragar sua noite de Ano Novo com lamentações.

Marcos teve vontade de abraçá-la, de acolhê-la em seu peito.

— Acho que seria impossível que tu conseguisse estragar a noite de alguém.

— Obrigada. Você é muito gentil.

Ele se aproximou ainda mais, sentindo um impulso tão intenso de tocar nos cabelos dela que, antes mesmo que pudesse dominar-se, já havia erguido a mão. Porém, disfarçou e passou os dedos pelos próprios cabelos quando Lígia surgiu de repente e perguntou:

— E aí, guria, tu não vai te arrumar para ir ao clube?

Margarida teve um sobressalto e automaticamente levou uma das mãos ao peito. Não havia percebido o momento que a prima se aproximou.

— Que susto, Lígia! Quase me matou do coração.

— Bah! Tu precisa ficar mais atenta, guria! — comentou a moça, em tom de chacota.

Margarida quase sorriu agora. Ainda não tinha se acostumado com a maneira estridente e cantante da prima falar.

— E, então, tu vai ou não te arrumar? — tornou a perguntar. — Está atrasada.

— Claro que vou — respondeu, contendo ainda o riso.

— Pois então vamos logo, tchê!

Enquanto as primas conversavam eufóricas sobre o local no qual passariam a noite de Réveillon, Margarida experimentava um vestido branco plissado que a prima mais velha lhe emprestara.

— Barbaridade, a peça caiu como uma luva em teu corpo! — disse Lígia, quando ela saiu do banheiro. — Parece até que foi feito pra ti.

—Também gostei bastante — falou —, mas...

— O que foi?

— Não, nada.

— Fala logo, guria.

Incomodada com o decote proeminente das costas do vestido, Margarida andou em direção ao espelho fixado no guarda-roupa embutido na parede e girou para examinar melhor a vestimenta. Por ter uma estatura menor do que Lígia, a peça ficou abaixo dos seus joelhos e salientara ainda mais a abertura.

Impossível esquecerOnde histórias criam vida. Descubra agora