Capítulo 8

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Três meses depois...


Não fora uma decisão nada fácil, mas necessária. Margarida resolveu deixar Fred em uma creche próxima à mansão da família Fraga. Afinal, as aulas já haviam começado há mais de um mês e ela também precisava dar um jeito de retomar seu trabalho. Já havia abusado demais da paciência dos Fraga, pensava ela, pois, durante todo esse tempo, nada fizera além de cuidar do próprio filho. Além disso, tivera todos os cuidados e atenção que jamais sonhara ter, tanto dos demais empregados da casa quanto dos pais de William. Porém, não convinha abusar. Por isso, não tinha dúvidas de que tomara a melhor decisão. E ela poderia visitá-lo a qualquer momento do dia. Outro ponto positivo é que a creche funcionava vinte e quatro horas, então, o menino poderia ficar lá até o horário que chegasse da escola.

Repetindo para si mesma que fizera o melhor pelo filho, ainda era bastante cedo quando efetivou a matrícula e retornou à mansão dos Fraga, com Fred em seus braços. Horas depois, enquanto amamentava o bebê e conversava com Ana, na cozinha, William surgiu à porta com ar de preocupação.

— Aconteceu alguma coisa com Fred? — perguntou. — Soube que saiu com ele bem cedo hoje. O que houve?

Num gesto automático, ela ajeitou a manta que lhe cobria o busto e o rostinho do bebê; então, explicou suavemente sobre sua decisão.

— O quê?! Em hipótese alguma! — disse o rapaz num tom de voz indignado. — Não há motivos para deixá-lo em uma creche. Além do mais, ele é ainda muito pequeno.

— Sei disso, William, mas a creche é ótima — rebateu ela com tranquilidade. — Fui lá pessoalmente conhecer. E eu vou chegar muito tarde da escola, por isso...

— Ele pode ficar comigo até você chegar.

Margarida lançou-lhe um olhar admirado, antes de balançar a cabeça de um lado para o outro.

— Não, William, isso não está certo.

— E por que não? — quis saber ele.

— Oras, porque não.

Ele movimentou agilmente a cadeira de rodas e se aproximou de onde ela estava.

— Sou eu que estou pedindo.

— Olha, William — tentou argumentar —, a decisão não foi nada fácil para mim, só que eu tenho certeza que estou fazendo a coisa certa.

Que diabo de mulher mais teimosa!, pensou ele.

— Eu já lhe disse que não há motivos para deixá-lo numa creche, sobretudo a noite.

Ela lhe dirigiu um sorriso sereno e luminoso.

— Não tem porque se preocupar.

Aborrecido, ele concluiu que Margarida não podia mesmo compreender o quanto a criança em seus braços era importante para ele.

— Mas eu me preocupo!

— Eu sei o que estou fazendo — resmungou ela, começando a se aborrecer também.

Depois de uma pausa e um longo suspiro, o rapaz começou a tentar explicar:

— Guida, desde que Fred nasceu, minha vida mudou muito. Para mim... ou melhor, para nós, ele é muito importante. Entende? Ele trouxe alegria a esta família. Trouxe esperança...

Ela ergueu levemente a manta para olhar Fred mamando em seu seio. Aquele era o momento mais doce e maravilhoso de sua vida. O menino parecia sorrir enquanto sugava. Depois, fitou com carinho a expressão preocupada de William.

Impossível esquecerOnde histórias criam vida. Descubra agora