Capítulo 6

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Margarida chegou com quase meia hora de antecedência do horário marcado por Otávio, e permaneceu em frente ao imenso portão da residência da família Fraga, aguardando até o horário combinado. Não queria parecer muito ansiosa, ao ponto de incomodar dona Eloísa, esposa do advogado.

Enquanto isso, ela tentava imaginar como seria a casa que estava por trás do imenso portão de madeira e do vasto muro à sua frente. O muro alto que circundava todo o quintal não permitia que se visualizasse nada que havia lá dentro, apenas imaginar a beleza e imponência da propriedade e de seus moradores.

De repente, uma voz grave ressoou pelo porteiro eletrônico:

— A senhorita deseja alguma coisa?

Ela quase caiu de susto. Não havia notado uma pequena câmera no canto superior do portão, focalizada em sua direção.

— E-eu gostaria de falar com dona Eloísa.

— E a quem devo anunciar?

— Margarida Esteves.

— Aguarde um momento.

Alguns instantes depois, um homem forte, trajando um uniforme preto, abriu o portão.

— Me acompanhe, por favor.

Caramba, que jardim maravilhoso!, pensou Margarida, enquanto seguia o sisudo segurança pelo quintal enorme. E ficou ainda mais impressionada quando avistou a casa. Ela já vira mansões parecidas em revistas, novelas ou filmes, mas aquela era simplesmente espetacular, concluiu, deslumbrada.

— Espere aqui. Dona Eloísa já virá atendê-la — avisou-lhe o segurança, e a deixou aguardando na sala principal.

Sozinha ali, ela contemplou, quase boquiaberta, os pisos de mármore que brilhavam como espelhos pela sala exageradamente grande. Havia ainda alguns objetos antigos sobre móveis de madeira maciça e um quadro maravilhoso afixado em uma das paredes da sala. Mas o que mais a impressionou foi o lustre imenso, pendurado sobre um conjunto de sofás que pareciam extremamente confortáveis. Puxa!, murmurou, sem conter a admiração. E nem percebeu quando uma senhora, aparentando um pouco mais de cinquenta anos, surgiu discretamente por uma das portas que davam acesso à sala.

— Senhorita Margarida?

Levemente constrangida pelo flagrante, a jovem lançou um olhar para a mulher baixa e encorpada, mas cuja postura e maneira de se vestir davam-lhe uma elegância inquestionável.

— Muito prazer, dona Eloísa.

A senhora fez um gesto delicado indicando o sofá e sentou-se ao lado.

— Antes de apresentá-la a meu filho, gostaria de explicar-lhe algumas coisas... — começou a dizer, sem perder tempo com enrolação. Afinal, Margarida já era a terceira cuidadora contratada nos últimos meses. Sendo que todas as anteriores foram indicadas por amigos ou encaminhadas por agências de empregos especializadas nesse tipo de contratação. — William sempre foi um rapaz muito bom e sem vícios. Seu defeito, se é que podemos denominar dessa forma, é que sempre gostou de fazer esportes radicais... — Uma nuvem de lágrima se formou nos olhos de Eloísa nesse momento, mas ela não permitiu que as lágrimas caíssem. — No ano passado, ele foi pular de paraquedas e sofreu um grave acidente... William não recorda exatamente o que aconteceu, lembra apenas que, ao pular do avião, sentiu uma certa vertigem. Lembra também que tentou suportar até uma determinada altura, e que conseguiu puxar a válvula para abrir o paraquedas. Daí por diante, não se recorda de mais nada.

A mulher baixou a vista e fez uma pequena pausa, para se recompor. Quando tornou a encarar a jovem à sua frente, percebeu que ela também estava emocionada.

Impossível esquecerOnde histórias criam vida. Descubra agora