Capítulo 5

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Sentada no último banco do ônibus quase vazio, ela deixou as lágrimas escorrerem livremente, enquanto cenas de sua vida se passavam em sua mente, lembranças projetavam-se em flashes.

Mas ela precisava muito dar um novo rumo à sua vida e esquecer o passado. Embora soubesse que jamais conseguiria esquecer aquela noite em que seu padrasto entrou em seu quarto...

Suzane havia sido internada na noite anterior por causa de uma crise asmática. Como Magnólia ficou a noite inteira fazendo companhia à menina, ela ficou durante o dia, para que a mãe pudesse descansar e voltar novamente à noite.

Assim, ao chegar à sua casa, estava exausta, depois de um dia inteiro no hospital. Por isso, tomou um longo banho, vestiu uma camisola e caiu em sua cama como uma pedra, adormecendo em seguida. Costumava trancar a porta de seu quarto todas as noites, pois não confiava em seu padrasto. Naquele dia, porém, estava tão cansada que acabou esquecendo.

Como num pesadelo, o pavor tomou-lhe conta antes mesmo de abrir os olhos e defrontar-se com Carlos sentado ao seu lado, nu e aparentemente alcoolizado.

Apesar do terror quase paralisante, ela tentou se levantar e fugir. Mas ele a estendeu sobre a cama e se jogou sobre ela. E mesmo enquanto desferia chutes e golpes, sua camisola de algodão fora arrancada e os braços imobilizados.

— Me largue! — gritou, com olhos marejados pelo pânico. — Me largue!

— Pode gritar à vontade, meu bem. Não tem ninguém para ouvir. Você será minha hoje.

O sangue se esvaiu por completo do rosto de Margarida quando o padrasto arrancou brutalmente sua calcinha.

— Não me machuque, por favor. — A covardia fez com que algumas lágrimas escorressem agora por seu rosto. Humilhada, lutou para não soluçar. — Pelo amor de Deus, me solte.

— Não irei lhe machucar se parar de se debater — disse Carlos. Mas a verdade é quanto mais ela se debatia e esperneava, mais ele se sentia excitado. Só de sentir o corpo frágil e macio se contorcendo sob o seu, ele era levado ao frenesi.

Ela preferia morrer a simplesmente se render, por isso continuou tentando desesperadamente se desvencilhar, esperneando e gritando, até o limite de suas forças. E os gritos transformaram-se em pranto quando ele a penetrou. A dor era terrível e seu corpo virgem se contraía de tal forma que cada movimento dele, num ímpeto cada vez maior, parecia dilacerar tudo por dentro.

Quando ele enfim saiu de seu quarto, ela levantou e cambaleou para o banheiro, com um filete de sangue escorrendo por uma das pernas. Porém, anestesiada pelo choque, ela quase não sentia mais dor, apenas vergonha, muita vergonha...

Margarida queria esquecer tudo aquilo. Mas, por mais que tentasse, aquelas imagens terríveis continuavam repassando em sua cabeça. E ela ainda podia sentir aquelas mãos nojentas deslizando por sua pele, o hálito quente e fedido em seu rosto, o corpo pesado se remexendo sobre o seu, por isso desatou a vomitar. Vomitou tudo o que tinha no estômago, enquanto as lágrimas continuavam escorrendo por seu rosto.

Preocupada, uma senhora se aproximou e perguntou se ela estava bem. Margarida afirmou com a cabeça sem olhar em direção à mulher. Em seguida, fechou os olhos e outras lembranças vieram à tona...

O dia que saiu de sua casa pela primeira vez... A chegada em Gramado... O dia que fizera amor com Marcos... A chegada de sua mãe e Suze em Gramado e os sonhos que ousara construir quando pensou que sua vida havia, enfim, tomado um novo rumo... A dor que sentiu em seu peito quando soube que Marcos havia embarcado para Londres... A descoberta da gravidez... A chegada de Carlos... E a despedida novamente de Suze...

Impossível esquecerOnde histórias criam vida. Descubra agora