Capítulo 11

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Após as festas de fim de ano, Otávio havia diminuído bem o seu ritmo de trabalho. Tinha refletido muito sobre tudo o que lhe falara seu velho amigo Henrique e concluiu que ele tinha razão... Deveria dar uma chance a Guida, e tentar que William retornasse à sua profissão.

Otávio conversou com Eloísa e Marcelo sobre o assunto, e eles concordaram que deveriam ter uma boa conversa com William. Tentaram por diversas vezes falar com o rapaz, mas não conseguiam tocar no assunto. Não queriam que ele achasse que estava sendo obrigado a isso. Tinham de prepará-lo antes, e talvez levassem alguns dias ou meses para fazê-lo.

Na festinha de dois anos de Fred, os advogados acharam que aquela era uma boa oportunidade para tocar no assunto com o filho. Estavam todos reunidos na sala: Otávio, Eloísa, Marcelo, William e Margarida. Sendo que o tio apenas aguardava, aparentemente tranquilo, o momento certo para iniciar a conversa.

— William, preciso lhe falar... — disse, em certo momento. — Mas antes quero que saiba que o amo como a um filho, e que torço muito por você.

— Humm... Isso deve ser coisa séria — brincou o rapaz, ao perceber que, de repente, o tom da conversa mudara e uma tensão se instalara na sala de estar.

— É sim — afirmou Marcelo, após tomar um gole demorado de uísque e ganhar algum tempo para analisar o impacto da declaração que ia fazer. — Eu pretendo me aposentar este ano... Estou muito cansado e acho que tenho direito a um descanso. Por isso, precisamos de um jovem advogado que possa levar adiante o nome de nossa companhia.

Otávio trocou um olhar perplexo com a esposa. Marcelo nada havia comentado sobre a intenção de se aposentar. E ele nunca havia imaginado a companhia sem a presença do irmão mais velho, por isso seu coração se apertou.

Do mesmo modo, o coração de William se afligiu. Por isso, ele precisou de um tempo para absorver a informação e compreender porque o tio e seus pais pareciam de repente tão ansiosos por uma resposta sua.

— Entendo o que está querendo dizer, tio. Sei que o senhor e meu pai precisam de mim, mas...

— Não queremos que se sinta obrigado a isso, filho — interveio Otávio.

— Eu entendo, pai. Não estou me sentindo obrigado a nada, mas preciso de algum tempo para refletir sobre o assunto.

— Pensamos também em admitir a Margarida como estagiária — continuou Marcelo. — O que você acha, William?

De um jeito afável, o rapaz olhou para Guida e piscou-lhe um olho. Ela estava atônita.

— Acho ótimo! Tenho certeza que não irão se arrepender.

— Também temos — disse Marcelo, olhando para ela com um sorriso no canto dos lábios. — Agora precisamos saber o que você acha, Margarida. Gostaria de trabalhar conosco?

Ela tentou se recuperar do choque antes de responder. Jamais poderia imaginar aquilo.

— E-eu... A-adoraria! — foi tudo o que conseguiu dizer. — O-obrigada.

— Não há o que agradecer. Se estamos lhe dando esta oportunidade é porque achamos que você a merece — completou Otávio.

Margarida mal podia acreditar em tudo o que havia acontecido. Era bom demais para ser verdade, pensava ela, enquanto abafava a imensa vontade de rir sozinha, de sair pulando de alegria pelo apartamento em plena madrugada, e muitos planos para o futuro elaboravam-se em sua mente. Conseguiu finalmente adormecer quando o dia estava quase amanhecendo. E teve um sonho que não se lembraria ao acordar, de um gramado verdinho, adornado por montanhas, e ela e William rolando pelo grama enquanto se beijavam loucamente.

Impossível esquecerOnde histórias criam vida. Descubra agora