Capítulo 16

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Seu corpo ainda ardia em febre e ela mal podia manter-se de pé. Apesar disso, ficou ali por um longo tempo, olhando inconformada para o mausoléu da família, enquanto William esperava a uma certa distância.

Ah, Deus, Deus, Deus... por que isso? Por quê? Por quê?

Alguns minutos depois, William aproximou-se.

— Vamos, Guida. Já é hora de partimos.

Com lágrimas deslizando por seu rosto, ela deu uma última olhada para trás, quando ele passou o braço por seus ombros. Queria gritar, mas estava fraca, muito fraca para isso.

Suze! Oh, Deus, Suze! Por que você fez isso?

Quase uma semana depois...

— Doutor, por que a febre resiste por tantos dias? — indagou William, preocupado.

— É psicológico — respondeu Henrique, ao terminar de medir a pressão arterial de Margarida. — Mas ela vai ficar boa.

William queria acreditar nisso. Precisava acreditar nisso. Mas era difícil acreditar em qualquer coisa quando se olhava para Guida, estendida naquela cama com a feição tão pálida que parecia morta.

— Tem certeza, doutor?

— Tenho. Ela é forte. Seu corpo está apenas colocando para fora a amargura que está guardada lá dentro.

— E por quantos dias ela ainda continuará assim?

— É difícil prever, William. Talvez até hoje, talvez até amanhã, ou talvez demore mais alguns dias. Não depende de mim, nem de você e nem de ninguém, apenas dela mesma. Mas quanto mais carinho ela sentir que está tendo, mais rápida será sua recuperação.

— Compreendo.

O médico virou-se para Andréia que estava ao lado e falou:

— Se perceber qualquer alteração, me ligue imediatamente. Combinado?

A garota balançou a cabeça. Em seguida, acompanhou o médico até a porta.

— Doutor, tem certeza que ela não corre risco de morrer?

— Tenho sim, Andréia. Fique tranquila. Logo, logo ela se recuperará.

Era madrugada quando Margarida despertou. Olhou para o lado esquerdo e viu Andréia adormecida em uma poltrona, remexendo-se incomodamente. E deitado ao seu lado direito, com um dos bracinhos sobre seu peito, encontrava-se Fred. Ela passou as pontas dos dedos pelos cabelinhos dele e murmurou:

— Oh, meu querido, você é tudo o que eu tenho agora. Preciso muito de você.

Depois, afastou-se com todo cuidado para não acordar ninguém e tentou levantar-se. Ao colocar-se de pé, porém, sentiu que suas pernas fraquejarem e tentou segurar-se na cômoda ao seu lado, fazendo barulho suficiente para despertar Andréia.

A menina deu um pulo da cadeira e correu ao seu encontro.

— Está tudo bem, Andréia. Pode deixar — disse com a voz rouca.

Cautelosa, a jovem parou bem próxima dela e se certificou:

— Tudo bem mesmo?

— Está sim. Estou apenas me sentindo um pouco fraca. Mas eu consigo me virar sozinha.

— Então, que tal um lanche para recuperar as energias? — perguntou, e só então começou a se afastar.

Margarida olhou-a com carinho.

Impossível esquecerOnde histórias criam vida. Descubra agora