Capítulo X - Tudo ou Nada

9 1 0
                                    

   Novamente presa. Isso já havia passado na minha cabeça, mas amarrada daquela forma, eu não iria conseguir sair. Enquanto estava pensando em um outro plano para fugir de novo, alguém entrou pela porta. Alguém um pouco baixo, meio gordo, com uma daquelas toucas que os ladrões usam normalmente. Ele ficou um tempo me observando, sentado em uma cadeira na minha frente. Aquela situação levou a um silêncio eterno até ele falar algo:

-De todas, você é a mais interressaante, não sabia que conseguiria fugir. Muito esperta você. No início, nem apresentava reação ou aparentava que tinha força.- Sua voz era familiar, parece que eu já tinha a escutado.

   Ele tirou a fita que tapava minha boca e antes que ele falasse mais alguma coisa, logo perguntei:

-Então é você que está aprontando tudo isso?- Eu o encarava séria.

-E se for, o que vai fazer?- ele se recostou na cadeira e cruzou os braços.

   Eu pensei um pouco antes de responder. Uma palavra errada e poderia colocar tudo a perder. Eu dei um suspiro longo e disse:

-Eu não sei. Mas, mesmo que eu não saiba, o que eu poderia fazer não importa, se estou amarrada, sem usar as mãos, não irei representar nenhum perigo para você. O que você faria se estivesse na mesma situação que eu? Certamente a maioria das pessoas estariam tentando se soltar de algum jeito. Mas eu sei que você não é assim. Você faria algo a mais, não é?- Eu continuei observando ele. -Parece que te coloquei em uma situação complicada.- Ele me olhou com um ar de interesse e disse:

-Realmente, muito inteligente e observadora, como eu pensei. Isso me faz querer te testar.- Ele se levantou e deixou uma faca em cima de uma estante, um pouco longe de mim. Quando foi saindo do quarto, completou: -Se for inteligente, pegue a faca, corte as cordas e fuja.-Ele olhou em um relógio no seu pulso e continuou. -Mas se eu voltar em meia hora e você ainda não tiver saído, eu te mato.- Por fim, me olhou e saiu do quarto. Eu só pude escutar o barulho das trancas e passos se distanciando.

   Ele realmente queria que eu fizesse isso. Eu não sabia se era um truque ou verdade. Algo que sempre me deixou surpresa, foi o fato da confiança dele em mim. Eu nunca consegui descobrir o motivo de tal comportameto. Mas naquele momento, eu tinha uma chance, eu poderia fugir se conseguisse chegar até a faca. Arriscar era a palavra que passava na minha mente. Era tudo ou nada.
   Eu não tinha percebido onde eu realmente estava, então eu olhei em volta e vi um quarto desarrumado. Uma cama sem lençol, uma estante velha com a faca em cima e alguns quadros virados para a parede. O que ele não queria que eu visse? Por fim, reparei em um relógio velho no canto do quarto, perto da porta. Daqueles que de 1 em 1 hora badalavam. Eram 4:30 da tarde. Faltavam 30 minutos exatos para eu sair. Naquela hora, uma estratégia seria ótima. Mas eu percebi uma luz atrás de mim, provavelmente uma janela. Bom, lugar para sair eu já tinha, me soltar que seria difícil.
   Eu já vi este tipo de situação em filmes, no final eles sempre conseguiam... ou não. Mas eu realmente queria arriscar, então, eu comecei a me arrastar na cadeira até a estante. O piso de madeira velha fazia um rangido meio alto, mas considerando o tempo em que eu levaria para chegar até a estante, isso não chamaria muita atenção. Quando faltavam alguns centímetros para chegar até a faca, a cadeira prendeu no piso. Um pedaço de madeira levantada me impedia de arrastar a cadeira.

-Vai logo!- Eu disse impaciente enquanto forçava para a perna da cadeira se soltar.

   Coloquei tanta força que ela finalmente cedeu. Eu olhei novamente para o relógio e ele já marcava 4:45. Apenas 15 minutos para fugir. Eu me arrastei para a estante e tentei pegar o cabo da faca com o queixo, mas ela escorregou e caiu. Claro, eu tinha que ir junto e pega-la no chão. Assim foi, eu me inclinei para o lado e caí do lado oposto de onde o objeto estava. Você deve estar pensando que isso é má sorte, mas não foi.
Nessa posição, eu estiquei minhas mãos e peguei a faca, virando-a e conseguindo cortar as cordas que me prendiam na cadeira. Eu não precisei cortar até o fim, pois elas ficaram folgadas e logo eu pude me esticar para sair. Quando cortei as cordas e as fitas dos meus pés que me prendiam à cadeira, me levantei e observei o relógio. Dessa vez marcava 4:55. Só mais cinco minutos para ele voltar.

-Ai, anda logo!- Eu disse impaciente tentando me soltar das algemas, mas era impossível.

   Eu olhei para a estante e vi duas gavetas. Provavelmente a chave estaria por ali. Eu abri a primeira gaveta. Não havia nenhima chave, só um monte de papéis. Eu procurei naquele meio e encontrei uma foto. Estava em preto e branco e haviam duas pessoas, um homem e uma garotinha. Eu guardei ela no bolso da calça, notei que a arma não estava mais ali. Abri a outra gaveta e achei uma pequena chave. Eu a peguei e abri as algemas. Elas caíram como pedras no chão. Finalmente, peguei a faca e corri para a janela. Quando eu a forcei, o relógio deu a sua primeira badalada. Eram 5:00 horas.

-Por favor...! Abre...!- A janela velha estava emperrada. Era quase a 10° badalada quando eu consegui abri-la.

   Eu subi na janela e olhei para baixo. Eram uns 5 metros até o chão e haviam alguns arbustos em baixo. Ouvi as trancas da porta e olhei para trás. O medo quase me toma por inteira. Mas, a minha vida estava passando pelos meus olhos e eu não podia deixa-la ir sem vivê-la. Tomei coragem e pulei. Eu caí dentro dos arbustos amortecendo um pouco minha queda. O estranho homem observava lá de cima, com as mãos apoiadas no parapeito, me olhando surpreso.
   Eu me levantei com novos cortes, peguei a faca do chão e saí correndo para dentro da floresta. Eu nem acreditava que estava finalmente livre. Eu logo reconheci o lugar, novamente eu estava presa na mesma casa, no mesmo cativeiro. Agora que me recordo, a casa tinha uma escada na sala, provavelmente eu estava ni andar de cima. Então, eu segui a rota que eu tinha feito anteriormente, procurando as outras meninas. Eu cheguei em uma clareira, a mesma que eu até tinha visto antes de ser pega novamente. Aquele lugar era a cachoeira que eu pulei quando estava com o Nick.

-Se este lugar é a mesma cachoeira cachoeira e fica próximo da área de acampamento, eu acho que posso seguir pelo Norte até chegar no lago, em direção a estrada para a estrada...- Enquanto estava sentada às margens do pequeno lago que a cachoeira formava, eu pensava em uma forma de voltar, até ouvir algumas vozes no meio dos arbustos. Eu me assustei e logo peguei a faca, apontando para a direção em que o parecia demonstrar sombras.

-Eu disse que já passamos por esse lugar, tá vendo? Essa é a mesma cachoeira!- Era a voz de uma das adolescentes do grupo fugitivo, que berrava com a Nina.

-Vocês deveriam fazer mais silêncio quando estão em uma fuga.- Eu disse guardando a faca e olhando para elas com um sorriso no rosto. Quando Nina me viu ela veio correndo em minha direção con um abraço.

-Eu fiquei tão preocupada! Achei que não ia conseguir te ver...- Ela começou a chorar e eu retribuí o abraço.

-Está tudo bem, nós vamos sair daqui, tá?-

-Você sabe onde estamos?- A mesma garota que estava discutindo com a Nina disse.

-Sim, eu só preciso saber para que direção fica o lago... não me recordo se é para o Norte.- Eu levantei a cabeça e olhei a posição do Sol. -Melhor irmos andando, pois e o Sol está quase se pondo e já são quase 6:00 horas, se anoitecer vai ser difícil nos localizarmos.- Eu disse preocupada.

-Eu acho tive uma idéia.- Uma garota, aparentando uns 14 anos disse saindo do meio das outras.

-Que ideia?- Perguntei a ela sem entender.

-Eu acho que posso subir nessa árvore para ver a localização do lago.- Ela disse colocando a mão em uma árvore do seu lado direito.

-Boa ideia! Eu não tinha pensado nisso antes.- Nina disse, me olhando meio sem graça.

-Ótima idéia! Eu vou ficar de olho enquanto você sobe. Cuidado para não cair.- Ela afirmou e eu voltei para as mergens da cachoeira, com a faca na mão, sentada no chão observando a água amarelada pelo Sol.

   Estava pensando nas coisas que eu consegui fazer que eu nunca imaginei que poderia. Todo esse tempo eu nunca tinha colocado à prova as minhas habilidades, que por incrível que pareça, eu não sabia que tinha. Realmente era só eu pensar que era tudo ou nada.

                __________

           NOTA DO AUTOR

   Me desculpem a demora para postar, é que a net estava com um problema e só essa semana ela voltou com funcionamento normal. Mas Quarta feira tem um outro capítulo novo. Ah, e se vocês encontrarem erros de digitação, foi mau! Hehe! Fiquem de olho! ;-)

O Mistério Da Casa No LagoOnde histórias criam vida. Descubra agora