Capitulo 5

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Olhava para a morada escrita na minha mão e para o GPS do táxi. Alternava constantemente o olhar para me certificar de que estava certo, enquanto o táxista assobiava ao ritmo de uma música comercial, que saia pelas colunas do automóvel, e batia vertiginosamente com os dedos no volante. Aparentava estar feliz e eu sabia o porquê. Iria ganhar uns belos dólares com a minha viagem, já que era quase uma hora a conduzir. Por sorte, por pura e mera sorte, quando fui buscar os livros e o hábito da Irmã, encontrei algum dinheiro. Precisava de ganhar urgentemente dinheiro para o devolver, e claro, ajudar a Instituição. Bufei farta de estar fechada naquele carro e tentei encostar-me ao banco, o que não foi muito confortável, visto que eu ainda continuava com a mochila às costas. A preguiça era muita.

– Estamos a pouco menos de 5 minutos da mansão. – Mansão? Oh espera lá... O que é que eu estou a perder aqui?

– Mansão? – Perguntei tirando a minha dúvida enquanto franzia a testa e olhava para aquele homem derreado através do espelho retrovisor. – O senhor tem a certeza que me está a levar para a morada certa? – Voltei a olhar para o GPS e para a palma da minha mão.

– Não é a morada que me deu? – Olhou para mim através do espelho, assenti. – Sim, está certo. É a Mansão do Sr. Bieber. Eu conheço aquela família, já fiz este caminho algumas vezes. Sou o único que presta serviço a esta zona.

– E eles vivem numa mansão?

– E que mansão! – Abanava a cabeça ao mesmo tempo que fazia um sorriso satisfatório. – Precisava de trabalhar por três anos seguidos para conseguir alugar metade daquela casa. – Não podia negar que umas pequenas borboletas surgiram no meu interior. Estava nervosa por a mentira que iria pregar, mas estava ao mesmo tempo ansiosa para ver aquela casa e conhecer aquela família. – É já ali à frente. – Olhei para onde o seu indicador apontava. A casa estava a cerca de 1km de nós, segundo o GPS. E como se tivesse recebido uma paulada na cabeça, foi ao vê-la que me lembrei: Eu estava em serviço de freira, mas não estava vestida como uma.

– Pode parar aqui! – Ordenei num tom de voz alto e desesperador. Eu usava uma mini-saia, não podia entrar em casa assim. Que tipo de freira seria eu? Uma puta freira, segundo a Mirella.

– Aqui? – Olhou para mim com um ar duvidoso ao mesmo tempo em que desacelerava o carro. Estávamos no meio do nada. Tinha árvores à minha volta, estava rodeada de mata, e a única coisa que havia ali, era aquela enorme mansão. A zona era bem pacata, não se viam carros a passar, talvez por ficar fora da cidade onde eu estava. Encontrava-me em Miami pela primeira vez, mas para minha infelicidade, não me dirigia para a praia ou para as grandes festas. Muito pelo contrário. Mas quem sabe, talvez um dia consiga lá ir.

– Sim. É que... Sabe, tanto tempo num carro está a deixar-me com vontade de andar. – Tirei o dinheiro do pequeno bolso da mochila e olhei para o ecrã que indicava o preço da viagem. – 56$? – A voz saiu um pouquinho alta demais. Aquilo era quase todo o dinheiro que eu tinha comigo. – Não há desconto jovem?

– A viagem foi grande e a gasolina está cara. – Encostou-se no banco, tentando empinar o nariz e lançar-me uma compostura de durão, a insinuar que não iria mudar o preço.

– O dinheiro também custa a ganhar! – Retruquei. – Não faz a 50$? – Dei o sorriso mais santo que tinha, enquanto ele me encarava através do espelho.

– Os 6$ dão para eu comprar muita coisa. – Respondeu sendo curto e grosso. Que forreta, homem!

– Exactamente, é por isso que eu preciso deles. O senhor pode ganhar mais ainda numa outra volta. – Estendi-lhe somente os 50$ e peguei na mala que estava ao meu lado. – Fique com o troco! – Gritei enquanto saía do táxi o mais rápido que conseguia e corria para o interior da mata.

Irmã TeresaOnde histórias criam vida. Descubra agora