Evellyn Jones
Sentia a pele das minhas mãos a queimar. A água que vertia fortemente da torneira era quente, sendo visível o vapor pairar por entre a minha pele e a porcelana lavada, o que facilitava com que a sujidade que estava na loiça saísse, mas isso levava-me a ter as mãos a querer explodir com aquela temperatura abrasadora. Após lavar o último copo, tirei toda a espuma da esponja, desliguei a água e coloquei o pequeno objecto de vidro na bancada, sobre um pano seco, junto à restante loiça que secava.
A tarefa de limpar e arrumar todos aqueles produtos de cerâmica limpos, já não era minha e não entendia o porquê do responsável ainda não se encontrar ali.
Passei as mãos tórridas molhadas, sobre as minhas jeans gastas, enquanto saía da cozinha e andava até ao corredor com o intuito de me dirigir até ao dormitório dos rapazes para chamar o responsável pela tarefa. Mas ao fazer a primeira e única curva do extenso corredor, vi que a pessoa que eu procurava estava ali, de costas voltadas para mim, encostada a uma porta, na tentativa de ouvir a conversa que acontecia no interior daquele cómodo. Parei e cruzei os braços, observando cinco alminhas curiosas, umas em cima das outras, de ouvidos colados na velha porta de madeira branca.
– Andrew! – Anunciei-me num tom baixo e repreensivo. O suficiente para receber a atenção de todos aqueles mini coscuvilheiros que bem tentaram disfarçar, mas não lhes valera de nada. Já tivera sido tarde demais – A loiça está à tua espera. – Aproximei-me e coloquei-me em frente à porta, numa tentativa descontraída de os afastar, para não ouvirem a conversa, que eu já deduzia saber qual era. – Já vos disse que é feio andarem a ouvir atrás das portas! Não é a primeira vez que vos apanho a fazer isto. – Repreendi.
– Nós só estamos preocupados. – Andrew retrucou numa fala rápida, tal como ele sempre fazia. Por vezes, precisava de legendas para o entender devido à rapidez com que a sua língua se desenrolava e por o simples facto de não conseguir dizer os L's.
– Preocupados com o quê? – Fiz-me de desentendida, olhando para cada um deles.
– A Irmã Grace não anda feliz e nós conseguimos perceber que se passa alguma coisa com a Instituição. – Ivy, a pequena de 9 anos. Para além de ser uma mini rebelde e só andar metida em confusões, era demasiado inteligente. Exatamente para aquilo que não lhe convinha.
– E para além disso, nós ouvimos a conversa... – Gabrielle confessou entristecido.
Oh, bolas!
– O que é que ouviram? – Um súbito receio invadiu-me o corpo por pensar que eles podiam ter ouvido demais.
– Já não há dinheiro para pagar as contas da Instituição e nem condições para nos manter aqui. Se continuar-mos assim durante os próximos meses, somos todos transferidos para outras Instituições do país e nunca mais nos vamos voltar a ver! – Andrew, o mais velho daquele pequeno grupo, com 16 anos, confessou com a sua rapidez. Ele era um completo sem papas na língua e com uma pitada dramática. O que nem sempre era a melhor ideia perante os mais pequenos.
– Eu não quero ir para outra Instituição, Evellyn. – Ivy abraçou a minha cintura num ato de desespero, o que me fez partir o coração. Ver os meus meninos em prantos por causa daquela situação, era a última coisa que eu queria. – Não quero ficar sozinha! Não quero ficar sem ti!
Não podia dar parte fraca e muito menos mostrar o meu medo e a forte possibilidade daquilo acontecer. Com cautela, agi calmamente. Beijei o topo da sua cabeça, enroscando-a nos meus braços e suspirei bem fundo, antes de lhe responder da forma mais serena que consegui:
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Irmã Teresa
FanficA Instituição de Belle Glade, gerida por as únicas três freiras da aldeia, passava por grandes dificuldades financeiras, correndo o risco de, futuramente, ficarem sem as crianças e sem a Instituição. A única pessoa que conseguia sustentar aquele lar...