Capítulo 15

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Olhava paralisada para o forno. Tinha quase a sensação de que o meu coração estava prestes a parar ao ver toda aquela viscosidade, que deveria ser um pastel delicioso, a escorrer por os cantos do forno e sujando completamente o chão. Ryan estava encostado à parede, atrás de mim, de órbitas bem abertas. Não dava para fugir e escapar aquele problema porque até a entrada da porta já estava barrada com a mistura pegajosa feita por mim. Tentava encontrar uma solução rápida e nada humilhante, para conseguir sair daquela enrascada na qual estava metida.

— Faça alguma coisa, Irmã! — A voz de Ryan ecoou pelos meu tímpanos, acordando-me do transe na qual estava. Eu não sabia o haveria de fazer.

— Eu... Eu... Eu não sei. — Girava a cabeça para os lados obrigando o véu a voar, tentando encontrar a solução. Os meus olhos caíram sobre o homem assustado que estava quase a passar pela parede para fugir da minha cozinha. — Porque é que não vai o Ryan? Você é que é o homem aqui!

— O que é que quer que eu faça? Eu não sei mexer em fornos!

Era só o que me faltava! Outro inexperiente comigo.

— Só tem de carregar num dos botões. Vá lá Ryan, caso contrário isto vai pegar fogo!

Vi a maçã da sua garganta passear várias vezes para cima e para baixo, demonstrando a quantidade de vezes que ele engolia em seco. O suor era nitidamente brilhante na sua testa, não sei se era pelo nervosismo, ou pelo calor que o forno emanava.

Eu estava a morrer debaixo daquele hábito e a vontade de tirar o véu era monstra.

Encarei-o e fiz sinal com a cabeça para o forno, dizendo em gestos para que ele fosse até lá e me ajudasse. Estava o meu emprego em risco, a fábrica e a vida dos trabalhadores. Ele aproximava-se com cuidado, alternando a atenção do chão para o forno. Eu forçava uma mão na outra torcendo para que ele lá chegasse e desligasse tudo, mas num pequeno descuido pisou a fusão de ingredientes que vertia e escorregou. Eu podia rir da sua queda e do grito agudo que ele soltara, mas o meu consciente fez questão de me alertar que não era a altura certa antes mesmo de o fazer.

— Isto está quente! — Berrou. — Au! — Tentava levantar-se, mas acabava sempre por escorregar.

Como boa freira que sou, fui até ele e com o extremo cuidado para não ir eu ao chão, estiquei uma mão para que ele a pudesse agarrar e levantar-se. Onde tinha eu a cabeça quando me lembrei de oferecer tal ajuda? Ele era muito mais forte que eu, mais pesado, então quando a sua mão agarrou a minha, eu fui de imediato ao seu encontro e ao encontro do chão, ficando totalmente lambuzada de um pré-pré-pré feito pastel de belém.

— Seu idiota! Olhe o que fez. — Tentava levantar-me desesperadamente enquanto ele fazia o mesmo, mas os ténis escorregavam e eu não conseguia manter as mãos muito tempo no chão. Aquilo estava a escaldar.

— Eu? — Tinha o rabo empinado, tentava levantar-se mas eram só tentativas falhadas. — A Irmã é que foi a causadora de tudo isto! O Bieber vai-se passar quando souber o que aconteceu aqui.

Tentava engatinhar, protegendo os joelhos do quente, fixando o olhar na mesa de centro. Ela era de inox e era bem resistente. Se eu conseguisse agarrar numa das pernas, conseguiria levantar-me.

Continuava a esforçar-me para fugir do meu próprio cozinhado. E com imenso esforço, escorregadelas e pequenos borrifos de queimaduras, estava a milímetros da mesa.

Rodeei as minhas mãos numa das pernas e respirei fundo quando me senti firme. Os meus pés continuavam a patinar loucamente não encontrando um ponto fixo para se manterem quietos. Inesperadamente, sinto um puxão na saia do meu hábito, de tal maneira tão violento, que comecei a sentir a saia a escorregar. Olhei para trás e vi Ryan agarrado ao tecido preto como se fosse uma corda de escalada.

Irmã TeresaOnde histórias criam vida. Descubra agora