Capítulo 12

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— Há algum problema?

Perguntei ao reparar que o táxista tinha os olhos fixos em mim. Eu fazia o maior esforço para não encará-lo nos olhos. As minhas mãos dançavam por entre os sacos e o véu e eu fazia questão de acompanhar todos os seus manuseados movimentos.

— Eu conheço-a de algum lado, estava só a tentar perceber de onde.

— A cidade não é propriamente pequena. Provavelmente já se cruzou com alguém que tem feições idênticas às minhas.

— Muito provavelmente. — Ligou o carro e pressionou o acelerador, tendo alguma dificuldade em girar o volante devido à sua barriga avantajada. — Peço desculpa pela minha intervenção, Irmã.

— Está perdoado, meu filho.

Se eu pudesse rir às gargalhadas naquele momento, eu tinha-o feito.

Quando disse a Mirella que a vida de freira até era boa, eu não estava a mentir. Eu tinha tudo na minha mão, bem na palma da minha mão. Todas as pessoas pertencentes ao círculo religioso eram vistas como as mais educadas, mais respeitadas e mais poderosas. Eu podia sentir isso através de cada pessoa que me cumprimentava. Não reclamava por receber tanta atenção, o único problema é que nunca estive habituada a tê-la e isso obrigava-me a ter de empurrar a Evellyn para o fundo do baú e tentar fechá-la à chave, nem que fosse por uns largos minutos.

Os meus ombros ficaram mais leves ao ouvir as palavras do táxista e naquele momento, os meus olhos estavam no espelho retrovisor, refletindo a minha imagem. Eu própria não me reconhecia daquela maneira. O véu fazia muita diferença no rosto. Todo aquele contraste de cor escura para a minha pele clara, fazia diferença. Talvez fosse uma das razões de eu estar irreconhecível. Dei por mim a pensar como seria a Irmã Teresa, a Irmã Grace e a Irmã Rose sem os véus e sem os hábitos. Dos seus cabelos aos seus corpos e que estilo de roupa elas adaptariam caso não fossem freiras.

Uma Irmã Teresa Hippie. Uma Irmã Grace Grunge. Uma Irmã Rose Gótica.

Reconheço que é algo que faz parte da Ordem Religiosa, de todo o processo religioso dos votos, mas não se tornará cansativo? Quer dizer, andar todos os dias, até ao fim da vida, com aquilo vestido deve ser um pouco aborrecido. Eu com alguns dias já não suporto o hábito, fará se me tornasse uma freira de verdade. Em certos aspetos, eu tinha pontos positivos. Com a minha idade, eu ainda não poderia ser uma freira cisterciense, tal como as Irmãs são. Eu seria apenas uma noviça, e as noviças não são obrigadas a estar de hábito todos os dias, em todos os momentos, — e ao contrário do que visto, o hábito seria totalmente branco, mas naquela casa eu era considerada uma autêntica freira cisterciense e não poderia mudar isso. O hábito iria ter de estar comigo todos os segundos, quisesse eu ou não.

O táxi parou em frente ao portão da Mansão. O valor desta vez era mais baixo, e eu não importei em dar todo o dinheiro pedido, até porque na realidade, o dinheiro não me pertencia na totalidade.

Pressionei o botão que fez um pequeno sonido, indicando no interior da casa que estava alguém no exterior a pedir para entrar. Em pouco tempo, Judith apareceu.

— Já em casa, Irmã? — Perguntou ao estranhar a minha presença tão cedo.

— Não me estava a sentir muito bem durante o almoço.

— Veio de táxi? — Olhou por cima do seu ombro ao ver o carro dar meia-volta e seguir o seu rumo para a cidade.

— Sim. O Sr. Bieber teve alguns problemas na Fábrica, então teve de chamar um táxi para mim.

— Quer que lhe prepare um chá? Tenho ali umas ervas naturais ótimas, dou sempre aos meninos quando eles começam a ficar doentes e a doença nem lhes pega.

Irmã TeresaOnde histórias criam vida. Descubra agora