Capítulo I

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Samuel passou a mão pelos cabelos pretos, respirando profundamente diante da cena terrível diante de si. O vilarejo do sul, próximo às montanhas de divisa entre seu reino e Greenfield fora cruelmente atacado naquela manhã.

O príncipe jazia parado sob seu cavalo, admirando desconsolado os estragos causados. Ao seu lado, no mais absoluto silêncio, seu pai observava a cena com tristeza profunda nos olhos.

Praticamente todas as casas estavam em chamas. Havia pessoas caídas por todo o trajeto e outras tantas ajoelhadas ao lado dos corpos, chorando desconsoladas. Crianças pequenas, sujas, andando com lágrimas escorrendo pelos olhos e olhar assustado.

Tudo por causa da ganância do maldito rei Anthony, que estava decidido a tomar para si as terras de Portland. E como o rei Gianluca, pai de Samuel, não cedeu aos caprichos de Anthony, este decidiu se vingar naquelas famílias inocentes.

Mulheres, crianças, idosos... Pessoas boas, honestas, trabalhadoras. Vítimas inocentes de um rei tirano e ganancioso.

Depois de se recuperar do choque inicial, Samuel começou a ajudar os soldados a resgatar os feridos, apagar os focos de incêndio e acalentar as viúvas e órfãos sobreviventes, que lastimavam a perda de seus queridos.

Foi uma tarde e uma noite inteira de trabalho. As pessoas foram realocadas para o vilarejo próximo, os feridos foram tratados e os mortos devidamente enterrados.

O príncipe e o rei Gianluca sequer cruzavam os olhares entre si durante a lida. Gianluca dava ordens aos soldados, em tom cansado e com o olhar entristecido. Samuel entrava em cada casebre de madeira em busca de sobreviventes ou corpos e secava lágrimas silenciosas para cada cadáver ensangüentado ou carbonizado que encontrava.

A fumaça escura cedeu com as horas, mas deixou marcas nos rostos de todos que estavam no local. O príncipe havia enegrecido a face, misturando a poeira ao suor, formando uma espécie de camada de sujeira por todo o seu corpo.

Mas o pior era sua alma. Estava em chamas de tanta raiva e revolta por aquela situação. Ele pensava se seu pai não poderia ter feito um novo acordo com o rei de Greenfield que pudesse ter evitado aquela tragédia. Se Gianluca ao menos lhe permitisse saber o que acontecia nas reuniões do conselho... A única coisa que ele sabia até então era que Anthony tinha mandado um mensageiro com um recado que desejava que Gianluca cedesse as terras do sul para Greenfield, caso contrário ele entraria em combate por elas.

Seu pai tinha recusado o pedido do rei e o resultado de desnudava diante dos olhos de todos...

- Samuel, venha cá. – A voz grave de Gianluca tirou o príncipe de seu devaneio.

O príncipe se voltou e caminhou até onde o rei estava. Ele também estava irreconhecível por causa da sujeira, seus cabelos e barbas negros, que em situações normais tomam destaque diante da pele clara, naquele momento pareciam compor uma mesma imagem obscurecida. Apenas o brilho branco nos olhos negros tomava destaque, além dos dentes alvos.

- Sim, meu pai. – A voz do jovem saiu rouca, fruto do ar enfumaçado que lhe havia travado a garganta sem que tivesse percebido.

- Vamos voltar para o castelo. Não há mais nada para fazer aqui.

Os olhos de Samuel brilharam de preocupação e contrariedade com aquela ordem.

- Permita-me ficar, meu pai. Ainda tem famílias para serem realocadas e...

- Não, você vem comigo. – Gianluca respondeu resoluto – Os soldados finalizarão os socorros. Não vou deixá-lo aqui.

Apesar de contrariado, o príncipe assentiu silenciosamente. Ele sentia que seu pai alternava momentos de completa alienação de sua existência a outros de extrema proteção, que já não mais fazia sentido, levando em conta ele já ter mais de vinte e um anos.

Dessa maneira, o rei e o príncipe montaram em seus cavalos e retornaram para o castelo de Portland. Durante o trajeto completamente silencioso que fizeram, Samuel ensaiou várias perguntas ao pai, mas todas elas morreram antes mesmo de alcançar sua garganta. Ele esperava poder participar da próxima reunião do conselho, que determinaria a resposta que seria dada a Greenfield diante do ataque ao vilarejo.

No entanto, novamente seu pedido foi negado.

* * *



Boa tarde! Ou dia, ou noite... Que bom que você está aqui prestigiando meu novo trabalho. Como já falei, Guerra de Emoções foi meu primeiro romance completo, então tenho muito carinho por ele. Amanhã, por esse horário, postarei a continuidade desse capítulo, que acredito ter que dividir em três partes, por ser denso. 

Espero que continuem por aqui, nos vemos amanhã!

Ah, e não esqueça de deixar sua estrelinha e um comentário, para alegrar meu dia.

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