Capítulo V

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Samuel entrou no quarto e parou na porta ao ver a princesa encostada à sua janela. Ela percebeu sua presença e se virou para olhá-lo. Estava com a fisionomia fechada e ele estranhou. Fechou a porta atrás de si e disse:

- Aconteceu alguma coisa?

Emili soltou um suspiro. Ela não sabia o que fazia ali, apenas percebeu para onde ia quando entrava no quarto do capitão. Estava muito chateada; mas não sabia o que era aquilo. Só sabia que precisava confirmar com ele o que ouvira de Rebeca.

Como ela demorara a responder, Samuel se aproximou e falou com ar preocupado:

- Algum problema?

Ela abaixou a cabeça, respirou profundamente várias vezes e disse:

- Eu ouvi; quero dizer, Rebeca falou que...- ela se interrompeu com algo que parecia ser um soluço.

Samuel levou a ponta do dedo ao queixo dela e fez com que o olhasse antes de dizer:

- O que ela disse que quase lhe trouxe lágrimas aos olhos, cara princesa?

Ela engoliu as lágrimas e terminou o que dizia:

- Ela disse que o senhor iria falar com o pai dela a respeito de casamento.

O príncipe, ainda com a mão no rosto dela, ficou atento àqueles olhos da cor do céu, perguntando-se por que ela estava tão nervosa com aquilo. Então, como um relâmpago que clareia a noite, ele se deu conta da razão daquela angústia. A doce princesa se apaixonara por ele.

Samuel não pôde evitar sorrir diante daquela constatação. Sabia que aquilo não era certo, mas ele sorriu. Emili, no entanto, não entendeu o que passou. Com os olhos ainda cheios de lágrimas, falou:

- É verdade então?

Ele se afastou para não envolvê-la em seus braços.

- Não, cara senhorita; não me passou nem mesmo por um instante a ideia de pedir a mão da jovem Rebeca em casamento. Antes que eu o fizesse, a senhorita me veria partir para sempre de Greenfield.

Os traços de alívio e alegria puderam ser vistos claramente nas feições da jovem princesa. A nuvem escura que estava nos olhos dela saiu como por magia e um lindo sorriso surgiu-lhe nos lábios.

Samuel, que acompanhara deslumbrado aquelas transformações, cruzou a pequena distância que havia entre eles, e num impulso que não conseguiu nem quis controlar, envolveu-a pela cintura, colando seus lábios aos dela.

Emili ficou completamente parada, sem ação e não conseguindo realmente entender o que se passava. Quando iria começar a retribuir o beijo, Samuel se afastou, tão impulsivamente quanto se aproximara. Ele afastara apenas o rosto, no entanto, continuando diante dela, com os olhos fechados; sem acreditar no que fizera.

Não premeditara aquilo, e o que era pior; não conseguira controlar. O silêncio tomou posse do local, a não ser pela respiração ofegante da jovem. Depois de alguns instantes assim, Samuel abriu os olhos e se deparou com o olhar assustado dela.

- Eu deveria implorar o seu perdão, alteza, mas o que fiz não tem justificativa. Eu não poderia expressar todo o embaraço que minha atitude impensada me causou.

Ela se manteve calada. Depois de alguns segundos, olhando-o atentamente, perguntou:

- Por que fez isso, Samuel?

Aquela era a primeira vez que ela o chamava pelo nome, e é claro que aquele fato surtiu efeito no jovem príncipe. Mais uma vez seu corpo tomou vida própria e a mão dele acariciou o rosto macio da garota.

Guerra de EmoçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora