O rei das chamas sorria cruelmente perante o desespero do rei do gelo e sua esposa.
Estava a um paço do controle de todos os reinos. Tinha matado quase todas os filhos do homem que tanto odiava. Seu exército em breve chegaria para aniquilar aquelas pessoas e, por fim, ele teria todo o poder que merecia.
Seu próximo passo era estrangular a bela rainha de cabelos brancos na frente do rei do gelo, porém este se meteu em sua frente.
- Jamais esquecei o que fez no dia de hoje, Chama – disse ele, sua voz carregada de muito mais tristeza que ódio.
- Esquecerá depois que eu te matar, Gelo. Mortos não guardam recordações. – Disse ele, rindo estrondosamente. – Há mais crianças aqui para mim matar, correto?
O Rei do Gelo desembainhou a espada, pronto para dar a vida para proteger sua família, mas uma voz feminina o interrompeu.
- Já chega.
Ambos olharam. Yanda se aproximava totalmente vestida de negro, seus olhos eram indecifráveis, parecida quase hipnotizada.
- Yanda! Minha criança, onde está seu irmão, e nossos homens? Estão atrasados. – Disse o rei do fogo, ignorando a mudança na filha.
- Não virão, garanti que ficassem em nosso reino.
Aquilo surpreendeu a todos. Seu pai a olhou com raiva.
- O que pensa que está fazendo?
- Evitando uma guerra. Não vou deixar que mate nosso povo. Já chega.
O urro de raiva do rei fez Yanda estremecer, mas ela não recuou.
Sabia o que tinha que fazer.
- Ousa me desafiar? Seu irmão está de acordo com isso? Não me faça te destruir Yanda, recue agora.
Ela o olhou, seus olhos carregando uma tristeza que surpreendeu o rei por alguns segundos. Ele não entendia o que estava acontecendo, ela sempre lhe fora incondicionalmente leal.
Yanda voltou-se para o rei do Gelo e disse:
- Perdoe-me por não ter chegado antes e... – ela olhou as coroas de prata dos príncipes e princesas jogadas no chão, provas de sua morte – não ter impedido isso.
O rei do gelo a encarou chocado, mas notou que seu sentimento era verdadeiro, assim como sua tristeza.
- Criança estúpida! – Disse o rei do Fogo com raiva – Por hora vou te anular, e depois receberá um castigo para jamais esquecer de quem é seu rei!
Na sequencia ele levantou seu cajado e liberou uma quantidade tão forte de energia que, em outra época, teria feito Yanda voar como um galho verde ao vento. Mas não naquele momento. Ela tinha a promessa da Chama e a necessidade de proteger seu irmão e seu povo, de evitar as mortes e... de proteger Shi, que estava em algum lugar no castelo, provavelmente somente uma criança aterrorizada ao lado da mãe.
Não poderia permitir. Nada daquilo ia se repetir.
O fogo atirado por seu pai passou por ela sem danos, quase como uma brisa morna, e ela mesma se surpreendeu com o poder que detinha.
Mas sabia o que aquilo custaria.
- Como ousa! - Gritou seu pai, dessa vez tirando a espada da bainha e se dirigindo a ela com ódio no olhar.
O mesmo ódio que fez ele a matar da primeira vez. O mesmo poder, a mesma mágoa de vê-la do lado do inimigo.
Yanda não poderia morrer dessa vez.
Ele avançou para cima dela.
Ela desviou dos golpes com facilidade, era bem mais rápida que o pai. Porém ainda não tinha coragem de atacar. Anos de fidelidade e lealdade se acumulavam sobre suas espadas e as tornavam pesadas demais para desembainhar.
Ele diminuiu o ritmo, por fim. O rei do gelo não interferiu entre os dois, notando que o conflito era mais profundo do que ele imaginava. O pai de Yanda olhava para ela com ódio, e, por alguns segundos, até mesmo com medo.
Medo do que poderia vir a seguir.
A princesa tomou fôlego para falar. Tentaria novamente dissuadir o pai sobre o que pretendia fazer.
- Não pode matar nosso povo, pai. É isso que está fazendo. Nunca vai ser o suficiente. O reino do gelo não será suficiente, o reino dos homens também não. Você jamais vai parar. Nunca vai olhar para trás. – Disse ela, firmemente. A tristeza em sua voz era pungente. – No fim, morreremos todos. Sem propósito.
O rei da trobo do fogo não demonstrou-se abalado pelas palavras.
- Não sabe o que fala! Onde está seu irmão? Compactuou com isso? – Esse gritou com ódio mais uma vez. – Jamais imaginei que me trairia Yanda. Sempre foi minha favorita, sempre imaginei que se tornaria rainha! Sempre foi forte e sempre fez o que deveria, nunca se inclinou aos desejos egoístas como seu irmão. Você é a maior decepção que já tive, Yanda.
Ela sentiu o baque das palavras, mas não se deixou abater.
Yanda tinha uma missão. Se não a cumprisse, todos morreriam.
- Pouco me importa sua aprovação – Disse ela, a crueldade ensaiada por anos sendo usada contra aquele que a ensinou a ser assim – Pouco me importa o que você espera de mim. Não sou como você, e me alegro disso.
Ela finalmente tirou as espadas das bainhas, deixando uma em cada mão. Ela evitaria todas as mortes, ela salvaria seu povo, não importa o preço.
O rei do fogo atacou novamente. Seus golpes deveriam estar trucidando Yanda como uma boneca de pano, mas ela desviava facilmente de todos. A chama sussurrava em seu ouvido todos os movimentos futuros de seu pai, fazendo com que qualquer ataque se tornasse obsoleto. Ela era mais forte, mais jovens, mais esperta.
Mais merecedora daquela coroa.
Mas era tão difícil atacar. Mesmo com as espadas em mãos ela hesitava. Se resguardava, se defendia, mas não atacava. Sentia vontade de chorar e gritar, queria colocar um pouco de juízo na cabeça do pai, gostaria de ter voltado mais no tempo, em uma época que ele ainda não estivesse cego pelo poder. Mas sabia que não conseguiria. Seu pai era velho, antigo num sentido que faria qualquer um estremecer. Séculos e mais séculos de sede de sangue, era disso que era feito aquele ser.
Os gritos de ódio do rei ficavam cada vez mais altos e seus ataques cada vez mais fracos. Yanda sabia que precisava terminar logo com aquilo, não poderia deixar aquela humilhação continuar por muito tempo. Estava consciente da tribo do gelo olhando para ela, vendo a cena como um show. Pensou nos amigos que fez, todos os reis de todas as tribos... seu irmão... e Shi.
Ela atacou. Uma breve rajada de poder. Seu pai caiu de joelhos.
- Yanda... minha filha... não... não mais minha.... – Sussurrou o rei.
Tentava renega-la.
A princesa sentiu os olhos encherem de lágrimas, mas não as deixou a vista. Não choraria em frente a todos, não poderia. Olhou para o pai profundamente. Quase carinhosamente. Ele viu ali um pedido de perdão sincero e também notou que ela não retrocederia.
- Me perdoe – Sussurrou ela tão baixo que somente o pai pode escutar – acredite, eu não tenho escolha.
E não permitiu que lhe desse uma resposta. Também não iria permitir que ele sofresse.
Fechou os olhos com força e baixou as espadas.
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Ice Fantasy - recall
FanfictionFanfic do drama Ice Fantasy! Yanda foi assassinada pelo próprio pai e morreu nos braços do homem que amava, porém recebe uma segunda chance para voltar no tempo e mudar seu destino e o de todos a sua volta. A Princesa do Fogo recebe uma missão e, em...