A queda é cruel, mas necessária

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Shi abriu os olhos com dificuldade.

Sua cabeça queimava, e o sol sobre ele parecia mil vezes mais quente do que ele estava acostumado. Seu corpo inteiro estava doente, e aquela era uma sensação que ele não conhecia. Ao tentar levantar o braço para tapar o sol todos seus músculos reclamaram e ele gemeu de dor. 

Ele respirou com dificuldade, tentando colocar a mente em ordem.

Seu corpo parecia inteiro, afinal todas as partes estavam doendo. Ele estava ao ar livre, podia sentir a terra embaixo de si e ouvir os sons comuns em qualquer área de floresta. Haviam pássaros, vento e água em algum lugar próximo. E uma outra respiração, extremamente baixa.

Shi virou a cabela com dificuldade para a direita até conseguir ver um par de pernas. Estavam usando calçados brancos e sujos nos pés, mas ele podia ver um pedaço da calça negra de seu ponto de vista.

- Yanda? - Gemeu ele, tentando se mover. - Está acordada?

Não houve resposta da rainha, nem mesmo um breve movimento. Shi começou a se mover lentamente, lutando contra a dor no corpo. Primeiro conseguiu levantar um dos braços, depois tentou rolar em direção a ela uma vez. Não conseguiu. Seu peito estava sem fôlego e ele parou, respirando com dificuldade e olhando para o céu.

O que diabos tinha acontecido? Ele não conseguia se lembrar de muita coisa. Ele estava correndo e então...  todo aquele sangue...

Ele viu Yanda e algo o atingiu. 

Atingiu Yanda e ele, logo depois.

Ela tomou o impacto.

Ele começou a tentar se mover novamente, de uma maneira quase desesperada. Ela não podia estar morrendo se ainda estava respirando, ele não suportaria aquele tipo de situação.

A respiração dela falhou.

Shi virou-se até sentir os músculos das costas estirarem como brasa quente, soltando um grito abafado de dor. Pelo menos tinha conseguido ficar de bruços, e agora podia ver Yanda com clareza.

A primeira coisa que ele procurou foi por sangue. Não havia nenhuma poça ao redor dela, o que significava que não havia sido cordada. Mesmo assim poderia ter se machucado internamente, ou batido a cabeça. Do jeito que a respiração dela estava baixa e enfraquecida ele temeu pelo pior.

- Yanda? Me responda. - Ele tentou usar a voz mais firme que conseguiu, mas acabou tremendo. - Princesa, não ouse morrer agora. Maldição.

Ele começou a se arrastar pelos cotovelos até ela, que estava somente alguns paços de distância. Shi gemia a cada movimento, e precisou de exatas doze braçadas para emparelhar sua cabeça com a dela. Ele passou o braço pelos ombros dela, virando-a de frente para ele. Yanda estava mole, como se estivesse dormindo, e não foi difícil movê-la. 

O rosto dela estava cortado, mas não parecia ter sofrido nenhuma pancada forte ali. Ele passou a mão pela cabeça e nuca dela, procurando algum ferimento, mas não encontrou nada. Ele fez o mesmo processo com seu corpo, procurando algum hematoma que indicasse hemorragia interna. Shi abriu a boca dela a procura de sangue, mas não havia nada.

Ele deitou-se novamente, suspirando. Parecia estar tudo em ordem com o corpo dela, mas mesmo assim ela não respondia a nenhum estímulo. Ele tentou bater no rosto dela duas vezes, mas não obteve o menor sinal de consciência. 

- Porcaria... inferno... - ele começou a movimentar o próprio corpo, tentando esquentar os músculos para diminuir a dor generalizada. - Merda... mas que droga...

Os xingamentos saiam compulsivamente. Shi jamais xingava na frente de ninguém além de seu irmão. Nem mesmo Lilou havia ouvido ele falar daquela maneira. De qualquer maneira Yanda estava desacordada, então ele pouco se importou.

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