Castelos de gelo derretem fácil demais

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Yanda voltou silenciosamente para o quarto, já havia anoitecido lá fora. 

A vida na aldeia era calma, as pessoas iam e vinham com seus afazeres sem maiores alardes. Ela foi a atração do dia, várias pessoa falavam com ela de maneira gentil e com interesse, os mais novos tinham curiosidade sobre o mundo lá fora - nunca haviam deixado a aldeia - e os mais velhos tinham perguntas sobre como o mundo havia mudado. 

Ela contou sobre os deuses, o novo rei do gelo e sua noiva que já foi humana, mas não falou nada sobre a tribo do fogo, nem para os que perguntaram. Ela não queria falar sobre o próprio passado. 

Shi já estava dormindo, encostado na parede e respirando calmamento o ar noturno. Yanda não acendeu as velas do quarto, se limitou em retirar os sapatos e colocar uma camiseta mais confortável para dormir. Ela estava cansada, muito cansada. 

Sua magia continuava estagnada e agora a única esperança era Shi se recuperar para entrar em contato com o imaterial. Nenhum bastardo ali parecia ter contato com nenhum imortal, eles precisariam se virar sozinhos.

Yanda se deitou na cama, enrolando-se na coberta que Shi não estava utilizando. O frio da noite fazia bem para ele, mesmo que somente um pouco. Para ela as noites eram geladas demais, ela sentia a falta da magia nos sangues como um alarme gritante nessas horas.

Mesmo estando cansada era difícil desligar os sentidos e simplesmente apagar até a manhã surgir. Ela podia ouvir Shi respirar e sentir o cheiro limpo dele a centímetros dela. Yanda nunca gostou de dormir com ninguém, mesmo quando tinha amantes - eles sempre iam embora antes do amanhecer. Dormir era um ato de confiança extrema, desligar seus sentidos e ficar vulnerável perto de alguém dando chance para que um ataque acontecesse. 

Sua mente trabalhava continuamente. Yanda xingou-se mentalmente, ordenando-se a descansar. Não poderia desperdiçar horas importantes de sono por causa de um instinto idiota como aquele - Shi não a atacaria de jeito nenhum.

Mesmo assim, mesmo com o corpo doendo e a mente embaçada, não era possível para ela dormir.

Yanda ouviu Shi suspirar e o corpo dele começou a se mover. Ela havia deitado de costas para ele, o mais distante possível. Mesmo assim ele rolou na cama e ela sentiu a extensão do braço dele tocar suas costas. Gelado. Congelante. Ela sentiu seus braços se arrepiarem e teve que segurar uma arfada, enrolando-se melhor na coberta. Ele deveria estar recuperando sua magia para estar com o corpo tão gelado. Yanda tentou se afastar, mas não havia espaço, por isso ela simplesmente empurrou-o com o cotovelo sem se preocupar caso o acordasse. 

Ele não acordou, continuando com o sono profundo. Um leve resmungo foi tudo que ela ouviu, mas ele continuava encostado nela. 

Mesmo com o frio cortante o corpo dela começou lentamente a relaxar. As preocupações dela pareciam menos importantes com o corpo pedindo por descanso. Levemente seu rosto se acalmou e sua respiração adquiriu um ritmo regular e baixo, seus ombros ficaram moles e ela sentiu-se ficar sonolenta. 

Lentamente, com frio, Yanda caiu no sono. 

**

Shi acordou com o barulhos de crianças gritando. 

Não gritos de pânico, mas gritinhos alegres soltos enquanto corriam umas atrás das outras.

E, em seu colo, uma rainha. 

Yanda estava encolhida como uma bola, envolta em uma manta pesada e ele só podia ver seus olhos fechados a mostra. Ele estava com os braços em volta dela, percebeu, apertando-a. A cabeça dela deitava sobre seu peito, os cabelos escuros esparramados sobre ele. 

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