Comprando um coração

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 Yanda sentia a angústia moer seus ossos.

Sem ouvir o que diziam KaSuo e Shi ela começou a caminhar para o palácio, seus passos rápidos afundando e derretendo a neve debaixo das botas pelo poder que ela não conseguia conter em momentos como aquele.

Algo estava errado em sua casa.

Sua cabeça trabalhava a mil. Podia o pai de Shi ter atacado a tribo do fogo? Outro inimigo se aproveitou da primeira ausência dela para atacar seu irmão? Seria um golpe de estado contra 

ela?

Milhares de suposições passavam por ela, uma pior que a outra. Ela precisava ir embora, ela jamais deveria ter deixado sua tribo pra ir até ali. Não importavam suas promessas, não importava quem ela havia amado. Ela prometeu a chama que protegeria seu povo e era o que ela faria, mesmo que isso machucasse seu coração.

Seus pensamentos frenéticos foram interrompidos quando KaSuo puxou seu braço. Shi estava logo atrás dele, parecendo preocupado. A mão do Rei do gelo queimou após ficar alguns segundos em contato com a pele dela e ela a soltou rapidamente.

- O que aconteceu? Qual o problema? - Disse ele, tentando acalmar a Rainha. - Seja o que for, deixe-nos ajudar desta vez.

- Há algo errado com minha tribo. - Disse ela, simplesmente. - Preciso voltar. Agora.

- Nós iremos com você, se for o caso. - Yanda escutou uma voz feminina falar a suas costas, e virou-se para ver Lilou entrando no salão com seu vestido branco de rainha. Suas roupas de guerreira podiam ter ido embora, mas os olhos eram iguais aqueles que Yanda se lembrava: ela lutaria se fosse necessário.

Outra interrupção chamou a atenção do grupo. Um guarda da tribo do gelo corria pelos corredores, chegando ao salão quase sem fôlego e prestando uma reverência desajeitada.

- Alguém se aproxima, majestades. Não identificamos quem é, mas trata-se da tribo do fogo. Um grupo. - O guarda olhou para Yanda inseguro - Devemos... fazer alguma... coisa?

- Não, só preparem-se para receber mais convidados. - Disse Lilou, antes que KaSuo pudesse falar alguma coisa.

O guarda se curvou novamente e saiu, Lilou voltou-se para Yanda.

- Acalme-se.

As palavras acertaram Yanda. Ela percebeu que provavelmente parecia desesperada. Uma rainha não deveria se comportar de maneira desesperadora. Ela precisava manter a calma, precisava pensar em algo que não fosse culpa.

Ela suspirou, relaxando os ombos. Yanda podia ser uma boa rainha com um coração gentil, mas já fora uma general de guerra poderosa. Era hora de trocar os papéis.

- Certo. Muito bem. - Disse Yanda, mais para ela mesma do que para qualquer outra pessoa. - É isso. Certo. Meu povo se aproxima, vamos ver o que aconteceu.

Dessa vez quem liderou o caminho foi Lilou, escoltando todos para a entrada do castelo. Shi, neste momento, se sentia inseguro. A expressão de KaSuo era ilegível.

Os portões brancos do palácio se abriram pela segunda vez naquele dia. Estava sendo um longo dia. Longo demais, na opinião de Yanda. Ela já podia ver a caravana que se aproximava no horizonte, pequenos corpos que ganhavam forma em uniformes pretos e vermelhos. A primeira sombra que ela reconheceu foi Shuo e seus joelhos quase dobraram de alívio. Ela não pode evitar suspirar.

- Algum problema? - Perguntou KaSuo. - São inimigos?

- Acabei de ver meu irmão. - Respondeu ela, calmamente.

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