Ice Fantasy - recall

Coisas que florescerem em cúpulas de cristal

Yanda andava ao lado de Shi sentindo-se como num sonho. 

Ela jamais imaginou que eles teriam a chance de passear calmamente, lado a lado, por um castelo de gelo enquanto conversavam calmamente sobre qualquer bobagem sem importância. Ela só falava o bastante para fazer com que ele continuasse a conversar, mal prestando verdadeira atenção ao que ele dizia. Escutar a voz dele, sentir o braço frio dele enlaçado no seu e sentir sua coluna se arrepiar cada vez que ele soltava sua risada breve era seu novo conceito de sonho.

Em sua realidade anterior a guerra nunca teria permitido aquele momento. Seu pai teria a matado antes de vê-la ao lado de um príncipe do gelo, como ele realmente havia feito. Esse encontro era tão impossível anteriormente que Yanda tinha medo que caso se apoiasse com muita força no braço dele Shi iria se desfazer em orvalho. 

Naquele momento ela se permitiu relaxar e esquecer um pouco sobre tudo. 

- Você está silenciosa, majestade. - Comentou Shi, virando o rosto para olhá-la. 

- Sua voz é agradável o suficiente para que eu fique feliz só em escutar. - Ela sorriu ao ver que as orelhas dele ficaram levemente rosadas - Por favor, continue.

- Há algo que eu queria falar a você, antes do festival. - Disse ele, com dificuldade. Yanda o olhou curiosa. 

- Sim? 

- Eu queria... bom, queria agradecer. - Ele falou rapidamente, estufando o peito.

Yanda simplesmente inclinou a cabeça para o lado, continuando curiosa. Ele ficou um pouco mais envergonhado. 

- Aquele dia você me encontrou por acaso no jardim, e por algum motivo você entendeu tudo que eu estava fazendo e me impediu de fazer uma besteira maior ainda. - Sua voz era baixa e rápida - No fim acho que você salvou minha vida. E a do meu irmão. 

- Você não precisa ficar tão consternado, eu jamais pediria um agradecimento. - Yanda se sentia desconfortável ao ver o desconforto dele. - Seu irmão o mandou agradecer?

- O que? Não, não é isso. Eu... - Ele suspirou, irritado consigo mesmo. - Eu não sei direito o que você pensa. As vezes parece que está debochando de mim, por isso não sabia ao certo como expressar minha gratidão. E também queria pedir desculpas novamente, eu fui rude.

- Por isso me comprou um presente? - Ela sorriu novamente. 

- Bom, está realmente fazer frio então eu pensei...

- Ah, por favor, admita. - Cortou ela, apertando seu braço.

- Certo. Sim, foi isso. Queria comprar um presente, e só não lhe enchi de coisas pois Lilou disso que não seria uma boa ideia. 

- Pediu ajuda a ela para me presentar? 

- Sim... isso é um problema? 

- De maneira nenhuma, fico feliz pelo seu esforço. - Alfinetou ela.

- Não foi esforço nenhum...

- Mas poderia ter sido uma joia. - Ela cortou a fala de Shi.

- Uma joia? Se você quiser eu...

- Uma bem grande.

- Que tipo de...

- Gosto de pedras amarelas e vermelhas. E de ouro. 

- Eu deveria...

- Bem grande. - Sentenciou ela. 

Ele pausou sua caminhada e a olhou novamente, percebendo.

- Você está debochando de mim novamente? - Disse Shi, estufando o peito. 

Yanda soltou uma risada. 

- Não estou debochando de você. Estou brincando com você. 

- Há diferença? - Ele parecia irritado.

- Sim, é claro. - Ela ainda estava sorrindo. 

- Quando você cansar de brincar comigo, por favor me avise. - Disse ele, parando. - Chegamos ao local que eu queria lhe mostrar.

- Eu não acho que vá cansar tão cedo, mas por favor me mostre o que veio mostrar.  - Disse ela, soltando seu braço e ficando de frente para ele.

Shi sorriu um pouco e se curvou levemente, voltando-se para a porta ao lado deles. 

Quando ele abriu a mesma Yanda foi atingida pelo cheiro lo local. 

Um cheiro floral, cítrico, chegou até ela em uma brisa suave. Ela afastou os olhos que estavam focados em Shi e virou-se para a porta, confusa pela explosão de cores que viu nos primeiros segundos. Depois ela reconheceu o local.

Uma estufa. 

Yanda não disse nada. Ela entrou na sala, que era muito maior do que aparentava, sentindo todos aqueles aromas. Terra molhada. Flores. Frutas maduras. O verde das árvores ela pontilhado de vermelho, amarelo e azul. As flores rasteiras eram pequenas e coloridas, as flores altas eram grandes e extravagantes. Tudo estava coberto de uma leve camada de orvalho, como se tivessem amanhecido de uma noite quente de verão. O local lembrava os vales afastados da tribo do fogo, onde o clima quente e a floresta da tribo dos espíritos se encontravam para montar o local mais bonito que ela conhecia. 

- Espero que tenha gostado do local. - Disse Shi, se aproximando pelas suas costas. 

- Creio que seja o local mais bonito do castelo. E é quente. - Ela sorriu, tocando uma pequena flor amarela que despontava de uma das folhagens altas - Posso me mudar para cá? 

- Acho que o local não tem estruturas para que você fique aqui o tempo todo, e também não possui janelas, mas pode vir sempre que quiser. - Ele sorria, satisfeito. 

- Como fizeram um local assim? - Ela continuava andando, Shi a acompanhava alguns passos atrás.

- Muitas mudas foram presentes de casamento do meu pai, a maioria delas na verdade. Algumas recebemos com frequência do mundo humano, como oferenda. A tribo dos espíritos tem o costume de mandar flores. 

- Como vocês mantem tudo tão... vivo? 

- Alguns cristais de energia da tribo do fogo mantém esse lugar quente como verão o ano todo. 

- Como conseguiram cristais da tribo do fogo? 

- Bom, sinceramente não faço ideia. - Ele sorriu de novo. - Coisas da tribo do fogo continuam aparecendo. 

- Ah, tenho certeza que sim. - Ela sorriu de volta. - Obrigada por me mostrar esse lugar, é realmente o local mais bonito do palácio. 

- O local mais bonito do castelo é um local que não parece a nossa tribo? - Ele cruzou os braços.

- Não posso evitar, gosto muito de flores. - Ela encolheu os ombros. - Há outros lugares interessantes aos quais gostaria de me apresentar? 

Shi abriu a boca para responder, mas fechou depois de alguns segundos e corou novamente.

- O que você acabou de pensar? Você está ficando vermelho?? - Yanda o acusou, abrindo os olhos.

- Eu não... não é isso... -Ele limpou a garganta.

- Estou esperando.

- Desculpe. - Disse ele, simplesmente.

- Desculpe? - Ele soltou o ar - Você não vai se defender? 

- Não. Eu preciso ir. - Shi se curvou rapidamente, indo em direção a porta. 

- O que... - Ele havia desaparecido antes que ela terminasse de formular a frase. - Que tipo de besteira passou pela cabeça dele?

Yanda sentiu o rosto esquentar na frente da possibilidade de Shi ter pensamentos sobre eles. A realidade de que ele não era mais somente uma criança atingiu ela com força. 

Ela também não dormiu naquela noite.