Morte

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_ Acorda Laurinha! Acorda!

Dei um salto da cama. Adriana estava à minha frente; estava estranha, parecia que tinha visto um fantasma.

_ Você tem que vir agora, estão te chamando.

Pude observar Suelen na porta do quarto com a mesma cara de Adriana, seus olhos estavam inchados.

_ Mas o que... o que... _ tentei dizer, mas me levantei e segui as duas. Não sabia o que estava acontecendo mas quando chegamos perto do quarto de Tia Carlota Suelen diminuiu o ritmo e parou. Ela se virou para nós e indicou que devíamos entrar, Adriana entrou na frente, ela já sabia do que se tratava, já eu fiquei receosa se deveria olhar até que criei coragem e entrei.

Suely estava na porta com a cabeça baixa, as outras crianças estavam no pé da cama: chorando.

Na cama estava uma figura pálida que eu não acreditei ter conhecido um dia, seus cabelos estavam sem brilho, os olhos fechados como se estivesse num sono profundo, porém seus lábios não estavam vermelhos, estavam roxos assim como suas mãos...

_Tia Carlota. _Murmurei. _ Tia Carlota... _ Lágrimas começaram a nascer em meus olhos. _ Tia Carlota, fala comigo.

_ Laurinha, por favor, pare... _ Suelen murmurou.

As lágrimas começaram a cair, cair e cair, molhando as mãos de Tia Carlota que eu segurava.

_ Não vai... não vai! Não me deixa! Não me deixa aqui... sozinha... _ meu choro foi interrompido por soluços, me ajoelhei ao lado da cama e coloquei o rosto sobre a mão de Tia Carlota, quando retornei encontrei olhos negros me encarando.

Soraya estava jogada perto da cama, eu não tinha notado que ela estava ali, ela me olhou com uma cara esquisita, me olhava como se eu fosse de outro mundo, seus olhos estavam inchados também e seus cabelos estavam bagunçados, ela não devia ter dormido bem, ela não dormiu...

_ Foi você não foi...? _ perguntei a ela. Ela continuou me olhando. _ Foi você que fez isso com ela! _ me levantei. _ Você é a pessoa mais malvada que eu conheço! _ Fui em sua direção, queria encravar minhas unhas em seu cabelo. _ Sua bruxa!

Quando a encontrei mãos seguraram meus ombros, outras mãos tiraram Soraya de mim.

_ Não! Me solta! _ gritei.

Fui de encontro a parede e quando ergui meus olhos vi Tiago na minha frente, ele estava nervoso.

_ Calma Laurinha! Fica quieta por favor!

_ Calma?! Você só pode estar doido em me pedir isso...

_ Você pode calar a boca por um instante?

Ele falou de um jeito tão carinhoso que não encarei aquilo como uma ofensa.

_ Vamos sair daqui, isso não está fazendo bem pra você.

Subimos às escada e fomos parar na salinha abandonada. Quando chegamos, automaticamente, eu comecei a chorar. Nos sentamos no chão abraçados e tentamos raciocinar.

_E agora Tiago, o que vai ser de nós...?

_ Calma Laurinha... vai passar...

_ Passar? Não Tiago, isso nunca vai passar. Essa dor... aqui no meu peito. _ Pus a mão na direção do meu coração.

_ Vamos esperar, e ver o que acontece. Sempre tem que acontecer alguma coisa não é?

_ É, sempre tem que acontecer.

Sempre tinha que acontecer.

Sempre tinha que acontecer alguma coisa pra acabar com a minha felicidade.

CH

Depois de termos observado da janela da salinha o carro da polícia, o carro do IML e um bando de outras pessoas entrarem e saírem da casa, nós descemos às escadas e encontramos os outros na sala, Maíze tagarelava no meio deles como se fosse uma jornalista apresentando um jornal.

_ Suelem vai ficar presa por um tempo porque, como todos já sabemos, foi ela quem fez isso com a tia Carlota.

_O que está acontecendo aqui? _ perguntei enquanto descia a escada com Tiago perto de mim.

_ Será que você não sabe nem pedir licença? _ disse ela.

_ O que está acontecendo aqui. _ falei entredentes andando até ela.

Maíze me encarou.

_ Onde está Tia Carlota?!

_ Eu vou responder tudo, não sou surda, não precisa gritar.

Me sentei entre Renata e Adriana no sofá e esperei Maíze falar.

_ Tia Carlota já foi levada, ela será enterrada hoje à tarde.

_ Mas, e nós?

_ Nós o quê?

_Nós não vamos para o enterro?

_ Não.

_Por que não?

_ Porque não. São ordens.

Me levantei já irritada.

_ E quem disse que eu obedeço ordens suas?

_E quem disse que as ordens são minhas?

Parei por um instante e perguntei baixinho.

_ De quem são então?

Maíze me encarou e o canto de seu lábio se curvou num riso de deboche.

_ Você logo vai saber... 

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