O EMPURRÃO

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Os dias que se seguiram foram tranquilos, evitei a qualquer custo passar perto do prédio onde eu sabia que o Dylan teria suas aulas e, quando eu tinha aulas por lá eu tentava parecer imperceptível no meio das pessoas. Uma semana passou e eu consegui sobreviver, meus pais pararam de encher minha paciência temporariamente eu sei, mas fico feliz que me deram uma trégua.
Era sexta-feira, estava quase escurecendo, eu havia combinado com a Thalia de ir comer algo numa lanchonete perto do museu  Science World, um dos lugares que eu mais gostava de ir depois do parque da ponte suspensa de Capilano. Me arrumei nada muito chique, apenas uma calça jeans, uma blusa de moletom e meu tênis, terminei e mandei uma mensagem para Thalia avisando que estava esperando por ela na frente da minha casa, sai do meu quarto e desci as escadas. Meu pai estava entrando pela porta e o humor dele parecia infestar a casa inteira com energias negativas. O fitei quando terminei de descer a escada.
-Já vai sair outra vez, Vênus? –perguntou meu pai com sua carranca.
-Vou, pai... vou ir numa lanchonete com a Thalia, algum problema? –respondi.
-Você não para mais dentro de casa, isso vai se tornar um hábito? Porque se for, você pode arrumar suas coisas e ir embora daqui, não quero filha minha saindo a hora que quer, todos os dias, sem nem dar satisfação para os pais e além de tudo é uma garota teimosa, que persiste em fazer essa porcaria de faculdade de publicidade–disse meu pai para mim, lançou o peso, soltou o verbo e tudo o que estava preso dentro dele. Ele praticamente me expulsou de casa e em seu rosto não haviam sinais de arrependimento.
Meus olhos se encheram de lágrimas, eu paralisei, não estava esperando por isso, pelo menos não agora.
-Você não precisa se preocupar pai... Eu vou sair daqui em breve, mais rápido do que você imagina. Diz pra mamãe que eu deixei um pedaço dos tacos que ela gosta na geladeira. –respondi à ele e sai andando rumo ao gramado da frente, parei na calçada e encostei no pequeno cercado branco de madeira, deixando algumas lágrimas escorrerem dos meus olhos, logo as enxugando quando Thalia buzinou pra me acordar. Entrei no carro dela e quando a olhei não soube disfarçar, comecei a chorar outra vez. Disse para ela tudo o que meu pai me falou e acabei desabafando sobre outras coisas, expliquei tudo o que eu achava que estava me deixando mal e contei pra ela sobre o Dylan também, não sabia esconder nada de minha melhor amiga e foi até melhor assim consegui respirar melhor depois de falar sobre tudo o que estava guardado comigo para alguém que eu confio e que amo. Ela me escutou com atenção e depois me aconselhou, me senti bem e coloquei um sorriso no rosto limpando minhas lágrimas.
-Eu te amo, Thalia... Você é minha melhor amiga e eu não sei o que seria da minha vida sem você – disse para ela e a abracei forte.
-Eu te amo, Vêe... Você sabe que eu vou cuidar de você sempre, você é minha melhor amiga e é isso que melhores amigas fazem... –disse thalia com uma voz calma e serena.
-Obrigada por tudo o que você faz por mim –agradeci e olhei pra frente. –Acho que agora podemos ir comer –falei enquanto dava uma risadinha. –Chorar e falar me deu muita fome... podemos ir? –conclui com minha pergunta.
-Claro que podemos, também estou morrendo de fome –disse ela e deu partida no carro, coloquei uma musica para ouvirmos e cantarmos durante o trajeto até a lanchonete. Minutos depois estávamos passando na frente do Science World, meu olhos brilharam ao ver a bola gigante incrivelmente brilhante, coloquei metade da minha cabeça pra fora e senti o vento antes de chegarmos.

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