3. Fortuna

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A casa de Matteo não ficava no centro da cidade. Ou melhor, a casa de seus pais. Vivera sua infância ali e, mesmo tendo se mudado com 16 anos, nunca deixou de ser sua casa, seu porto seguro, para onde ir quando tudo dava errado.

- Mama!

Sua mãe veio lhe receber na porta. O abraço carinhoso característico da matriarca italiana.

- Entra, entra! Como foi de viagem?

- Tutto bene. Cheguei cedo mas o trânsito estava impossível.

A mama Darmian sabia que isso não era verdade. O trânsito era ruim, mas não se demorava duas horas e meia de Malpensa até o seu endereço. Ela conhecia o filho muito bem e sabia também que Serena não morava mais a duas quadras de distância.

Antes dela se mudar, Matteo sempre ia direto para sua casa quando chegava em Milão. Mas também fora antes.

Antes dele dizer o último adeus.

Antes dele se mudar para a Inglaterra.

Ao começar o futebol profissional, Matteo Darmian ainda ficou um tempo na Itália. Jogara no Torino por quatro anos, e nesse tempo, tentara fazer dar certo com Serena. Ela estava no início da faculdade e tudo era uma aventura.

Durante os finais de semana ela ia aos jogos dele. E quando Matteo saia do campo com uma vitória, as noites eram de glórias na cama, com promessas e carícias que nenhum dos dois achavam que iria acabar.

Em uma noite de verão, eles estavam em Roma. O calor do lado de fora permitiu que passassem a noite sentados na sacada. Ele encostado na parede e ela no meio de suas pernas, enroscados um no outro e uma garrafa de vinho ao lado.

- Sabe o que eu vejo quando me perguntam o que é felicidade?

Ele sussurrava no ouvido dela, que lhe olhava da forma mais apaixonada possível.

- O que? - Serena sussurrou, ansiosa pela resposta

- Isso aqui. Eu e você. O mundo lá embaixo parece que não existe.

Ela passou a unha por sua nuca, sabendo que ele adorava.

- Lucky i'm in love with my best friend.

- Lucky to have been where I have been, lucky to be coming home again.

Costumavam falar que essa era a música deles. O título Lucky fazia todo sentido quando se tratava de Matteo Darmian e Serena Moretti. Eram a sorte um do outro.

Se beijaram na sacada, tendo certeza que sempre encontrariam um no outro a segurança que precisava. Eram melhores amigos e ninguém mais os entenderia do que um ao outro.

Mas nada acontecia como era planejado.

De volta ao presente, Matteo olhou pela janela em direção a casa que costumava ser de Serena. Se lembrou de como era mais fácil quando ambos moravam ali. Mas a vida acontecia. E ela havia acontecido.

- Filho!

Papa Darmian entrara na sala, tirando Matteo da sua constante viagem mental.

- Papa! Como vai a vida?

- O de sempre meu filho. E Manchester?

- Continua gelada. Anda assistindo os jogos?

- Claro! Como que eu perderia o meu jogador favorito em campo?

Matteo sorriu. Sabia que o pai estava exagerando. Seu jogador favorito era Pelé, mas Sr. Giovanni Darmian sempre iria dizer que era Matteo. O seu menino. Seu orgulho.

Ele havia sido o seu primeiro treinador, aquele que lhe ensinara a chutar uma bola. É claro que também era seu fã número 1, assim como papa Darmian era o primeiro ídolo de Matteo.

Os dois andaram até a mesa de jantar conversando sobre futebol, onde mama havia deixado uma enorme mesa de comida italiana. E Matteo podia dizer que essa era a segunda coisa que ele sentia falta da Itália: a comida de sua mama.

Serena entrou no seu apartamento no centro da cidade. A pequena cozinha, equipada com fogão, micro-ondas, geladeira e a pequena mesa da copa era seu lugar favorito.

Seus livros ficavam espalhados pelo cômodo. Ali era o melhor aquecedor, ir para seu quarto gelado não era uma opção, mesmo no verão. O prédio antigo parecia deixar tudo mais frio e solitário.

Mas naquele dia ela não estava afim de passar pela cozinha. Ou pela micro-sala. E muito menos tomar banho.

Seu husky siberiano veio rapidamente ao seu encontro. Klaus era o cachorro mais quieto que ela já conhecera, apesar de não ser característica de sua raça. Ele não havia crescido muito, então o espaço do apartamento e os passeios diários com Serena eram o suficiente para o cachorro ter uma vida feliz.

Sua cama não arrumada estava lhe esperando apenas trocar de roupa.

Pegou o celular e olhou a tela. A foto de anos atrás ainda estava ali: Ela sorrindo da forma mais natural que já sorrira na vida, e Matteo a abraçando por trás.

Aquela foto havia sido tirada em uma viagem para as Bahamas. Ela achara ele um maluco por simplesmente pegar um avião e ir para as Bahamas. E odiou que ele pagou tudo para ela, pelo menos no início.

- Ei, eu te amo e não passaria férias com ninguém mais além de você.

Aquilo a havia convencido, porque era assim que acontecia quando vocês precisavam lidar com um relacionamento a distância. E se ela o amava, deveria sim aproveitar esses momentos.

Mas três anos haviam se passado.

E ela ainda o amava.

Ainda era ele quem fazia o seu mundo fazer sentido, mesmo que não estivesse mais ali.

♡♡♡

Fortuna = italiano para sorte. 

By your side | Matteo DarmianOnde histórias criam vida. Descubra agora