12. Futuro

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 – Você ainda tem aquele livro de cabeceira?

– Qual?

– Peter Pan. – Matteo se recordava do exemplar ao lado do abajur de Serena.

Ela havia ganhado aquele livro da avó quando tinha apenas 8 anos e estava aprendendo a ler. Sempre adorara a perspectiva de que Peter Pan nunca crescia. Terra do Nunca, o espaço onde não se crescia e, ao mesmo tempo, a vida não era perfeita.

Quando criança Serena tinha certeza que a vida dela era perfeita. Ou pelo menos, era o que seus pais tentavam lhe transmitir. Paz, tranquilidade e nenhum problema. Ela e seus dois irmãos mais velhos sempre tiveram tudo.

Até que um dia deixou de ser. Seu avô adoeceu e, em poucos meses veio a falecer. Ali, era seu Capitão Gancho. O empecilho no meio da sua vida perfeita. Na mesma época, ela conheceu Matteo.

Ele nunca soube de tudo que aconteceu com o nonno Moretti. Serena sempre soube disfarçar e fingiu que estava tudo bem. Mas ali ela tinha conhecido dois personagens: o Capitão Gancho e a Sininho.

Mais tarde, ela compartilhara com Matteo sua metáfora do Capitão Gancho. Sempre que se deparava com uma dificuldade, Gancho era chamado. E se Serena era o Peter Pan que não queria crescer, Matteo era a quem sempre trazia magia para sua vida.

– Sempre.

– E o Capitão Gancho?

– Ele sempre vem e volta. Papa está bem. Mama também. Por enquanto Gancho está escondido, mas ele não tarda a voltar.

Matteo segurou a mão de Serena por cima da mesa.

– Você sabe que eu sempre estarei aqui.

Ela sorriu sem graça. Sabia que ele não pretendia ir embora. Ou melhor, sabia que ele iria embora, mas não pretendia sair da sua vida. A questão era que ela ainda não tinha decidido se queria que ele ficasse.

– Será que a gente consegue fazer isso dar certo Matteo?

Os olhos azuis de Serena estavam cheios de lágrimas. Ela odiava chorar, mas Matteo era sempre um ponto delicado em sua vida. É claro que ela queria que aquilo desse certo. Se tinha uma coisa que aprendera com os anos, era que aquele homem a sua frente era o amor da sua vida. E ela nem sequer acreditava que esse tipo de coisa existisse: uma única pessoa com quem ela estaria destinada a passar o resto dos seus dias.

Mas antes que ele pudesse responder, o garçom chegou com os pedidos. Um delicioso e digno jantar italiano regado a bastante vinho.

Matteo observou cada detalhe de Serena quando ela se concentrou em seu prato. Seu cabelo castanho, seu nariz arrebitado. Ele sabia que não seria fácil. Em algum momento eles teriam que decidir detalhes como onde morar, se ele voltaria para Milão ou se ela iria para Manchester.

E naquele momento, Matteo não conseguia pensar em nenhuma solução.

Talvez ela estivesse certa: Eles estavam fadados a viverem separados. Cada um em uma cidade vivendo uma vida completamente diferente uma da outra. Ou talvez, ele estivesse com razão e valesse a pena lutar por eles.

O resto do jantar aconteceu sem nenhuma intervenção. Conversaram sobre frivolidades, séries de TV, trabalho dela, futebol, mas uma coisa que não falaram e não seria dito era o futuro. Ambos temiam pelo momento em que este assunto precisasse ser retomado.

–Você nunca me contou como foi sua recepção em Manchester.

– Ah, não teve nenhuma novidade.

– Fala sério Matteo! Você está jogando na melhor liga de futebol e não teve nenhuma novidade?

– Você está mesmo admitindo que a Premier League é a melhor liga?

– Claro que estou! Sou torcedora do Milan mas isso não significa que eu não possa ser crítica a outras ligas.

– Vai, você torce para o United.

– Eu nunca disse isso!

– Serena, você já admitiu que assiste alguns jogos, agora fala que a Premier League é a melhor liga. O que custa admitir que você gosta do time?

– Eu não gosto do time. Eu gosto é de você.

E ali estava. Claro e cristalino em cima da mesa as palavras que estavam guardadas no consciente de Serena mas que ela ainda não tinha conseguido colocar para fora. Falar que se importava era diferente de dizer que gostava. E isso estava a um passo de dizer que ainda o amava.

Matteo mordeu o lábio inferior. Serena odiava quando ele fazia isso, mesmo que fosse uma coisa frequente. Mas ela também sabia que, sempre que isso acontecia, era porque ele tinha algo importante para dizer mas não sabia como.

– O que foi?

– Nada.

– Matteo!

– Você tem ideia de quanto tempo eu sonhei em escutar essas palavras novamente?

Serena sorriu. Era fácil sorrir perto dele. O efeito Matteo Darmian deixava Serena inebriada. E, por mais que fosse complicado, ela precisava admitir: era completamente apaixonada com esse efeito.

– O que você acha de sair daqui? – Ele perguntou levantando uma sobrancelha. Ela riu que nem boba aceitando.

Rapidamente pediram a conta e se prepararam para deixar o restaurante. Ambos não viam a hora de chegar no apartamento de Serena e poderem expressar tudo que palavras não eram capazes de fazer.

Serena aceitou o braço de Matteo e eles abriram a porta do restaurante. E esta foi a última coisa consciente que Serena teve.

No momento seguinte diversos flashes foram disparados em seu rosto. Jornalistas e fotógrafos saiam de todos os cantos. Ela escutou mais de uma vez a pergunta "qual o seu nome?" ou " há quanto tempo estão juntos"?

Ela começou a se sentir enjoada e não conseguia andar. Matteo rapidamente jogou o blazer que usava em cima de seu rosto. Eles poderiam estampar que ele estava com alguém, mas ninguém precisava saber que era Serena.

Quando eles terminaram, Matteo já era conhecido pela mídia. Eles nunca fizeram questão de esconder o namoro. Muito pelo contrário, Matteo sempre fizera questão de responder em todas as entrevistas que tinha uma namorada.

Ele também nunca havia tido esse tipo de assédio. Era normal pararem ele para fazerem poucas perguntas, mas desde que tinha ido para a Inglaterra, isso também havia parado.

Com certeza alguém tinha dado a dica que ele estava ali e que estava acompanhado.

Eles não haviam ido de carro, não tinha como fugirem. Voltar para o apartamento de Serena também não era uma solução pois se fossem até lá, sua identidade seria revelada e o problema agravado.

Não se importavam de ser públicos, mas Matteo não queria nenhum jornalista importunando Serena. Sua privacidade deveria ser mantida a todo custo. Isso era o ponto mais importante.

– Você se importa se a gente sair correndo? – Ele tinha que pensar rápido.

– Para onde?

– Confia em mim?

– Sempre. 

By your side | Matteo DarmianOnde histórias criam vida. Descubra agora