Capítulo 20 - Vista sua máscara de cumplicidade

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Ten-Ten repetia um ato que treinava desde criança: sorrir mesmo que, em seu íntimo, estivesse pensando em como seria bom se a pessoa à sua frente desaparecesse. Conhecera Kaguya nas últimas eleições, quando Orochimaru saiu da prefeitura e Neji a assumiu. Não havia sido um encontro amigável, a perda da prefeitura parecia atingir muito mais a Kaguya que o marido, e isso resultara numa pequena discussão entre as duas primeiras damas, a antiga e a atual, durante os cinco minutos que ficaram a sós no banheiro. Por esse motivo, e muitos outros que Ten-Ten não tentara pontuar para Hiashi, tinha odiado, e continuava odiando, a recente aliança.

Sentadas do lado de fora da casa, conversavam pouco. A mesa redonda era pequena, o suficiente para conter os dois pratos, a jarra de suco e os copos que utilizavam. O calor as obrigara a sentar-se ali, sob o céu estrelado e limpo como pouco se via.

— Não está com fome? ­— Kaguya questionou com os olhos violeta fixos no prato intocado de Ten-Ten.

Kaguya era bonita, sempre bem arrumada e elegante, nem ao menos aparentava a idade que tinha. Cinquenta? Algo assim. Ten-Ten podia apostar que ela gastava mais de uma hora diante do espelho para fazer os penteados requintados que usava até mesmo no dia-a-dia. Albina, não abusava muito da maquiagem, apenas um pouco de blush para parecer saudável às câmeras. Era interessante como a beleza da mulher não fazia jus à sua inteligência. Ah, sim... O que mais irritava Ten-Ten naqueles jantares era que Kaguya não conseguia manter uma conversa a seu nível. Maquiagem, moda, dinheiro? Se fosse para ficar o dia todo falando de assuntos tão banais, Ten-Ten iria direto à sua consultora de moda, não? Respirou fundo e bebeu um pouco do suco de laranja em seu copo antes de responder:

— Eu não como muito e hoje está muito quente, não acha?

— Ah, sim, esse tempo horrível desta cidade! — Kaguya exclamou enquanto balançava a mão como se espantasse um inseto. — Coloquei saltos e tive que trocar porque a previsão do tempo disse que choveria! E cadê? Nada, nenhuma gota, só esse calor infernal!

— Às vezes, eles se enganam sobre o tempo — disse, tentando dar prosseguimento à conversa.

— Eles sempre erram — ela enfatizou. — Um monte de imprestáveis esses jornalistas, todos eles! Nenhum acerta!

Ten-Ten apertou o tecido do vestido para não revirar os olhos e ser rude. Moda, dinheiro, maquiagem, tempo, do que mais Kaguya falaria? Homens?

— Soube que visitou creches esses dias. Deve ser cansativo, não?

— Um pouco, mas faz parte do serviço, você sabe.

— Ah, não, querida, não sei. — Kaguya riu. — Nunca fiz nada disso. Eu só comparecia aos eventos com Orochimaru, sorria para as câmeras e, de vez em quando, acompanhava-o a entrevistas ou em aparições públicas. Contudo, agora não poderei mais fazer isso, não é mesmo? — perguntou, e o tom descontente e irritado chamaram a atenção de Ten-Ten, que ergueu a cabeça para olhá-la diretamente.

— Não?

— Não, querida, não graças a você — Kaguya pontuou. Ela dobrou o guardanapo sobre o colo e alinhou os talheres ao prato enquanto encarava Ten-Ten num misto de raiva e nojo que nem ao menos tentava esconder. — O que passou pela sua cabeça ao fazer discursos em escolas? Ou então ao ficar visitando creches como se realmente se importasse? Ah, é claro, não podia me esquecer daquela maldita ONG que você criou no início do mandato de Neji! Sério, o que você tem nessa sua cabeça, menina?

Ten-Ten estreitou os olhos e endireitou a postura.

— Menina? — repetiu, sorrindo sarcástica.

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