Sasuke desligou a moto sem conseguir se desfazer do sorriso irritante e teimoso que se apossara de seus lábios. Contudo, sabia que não deveria estar se sentindo tão bem. Se dissesse que havia perdido a noção do horário, mentiria; o celular no bolso havia tocado a cada quinze minutos, o que lhe permitiu ter completa noção do horário. Então, sendo assim, permitiu-se se atrasar, ignorar Itachi, voltar tarde e, agora, ouvir um discurso enorme do irmão mais velho. E por que fizera aquilo? Vício. Essa era a resposta que estava na ponta da sua língua para qualquer um que perguntasse, mas não era bem a resposta que sua mente sussurrava ao coração fazendo-o acelerar de repente. Vício? Sim, vício. Que vício? Algumas pessoas se viciam em morfina, outras em drogas, outras em dor, e, apesar das diferentes substâncias, todas essas pessoas possuem algo em comum: estão em uma situação apática em que o vício interfere, melhorando-a de alguma forma, ou dando a impressão de que o faz. Afinal, ninguém se vicia a toa, não é mesmo?
Seus pensamentos foram temporariamente interrompidos quando a porta que ligava a garagem ao resto da casa foi aberta (escancarada com violência) por Itachi, Sakura e... aquela era Hinata? Tirou o capacete e desceu da moto como se estivesse tudo na mais perfeita ordem, ignorando o horário em seu relógio que acusava quase onze horas.
O rosto de Itachi estava calmo, indiferente, mas Sasuke sabia lê-lo. O modo robótico como o irmão respirava, inspirando em cinco segundos e expirando em sete já lhe dizia o suficiente sobre a raiva que Itachi tão bem aprendera a esconder dos outros. Sakura não estava diferente, quer dizer, ela, por sua vez, não escondia nada. Andava a passos rápidos em sua direção, com os olhos preocupados e a boca se abrindo diversas vezes sem nada dizer. Recuou dois passos devido à força e à falta de cuidado com que ela o apalpava enquanto começava a perguntar:
— Você está bem? Aconteceu alguma coisa? Sasuke! Quer nos matar do coração?!
Olhou-a. Gostava de poucas pessoas, bem poucas, mas Sakura, de alguma forma, conseguira conquistar seu afeto. O mundo, para ele, era como um lugar vazio, preto e branco, onde as pessoas que conseguiam lhe tirar alguma reação, algum sentimento, ganhavam cores e, então, passavam a fazer parte de sua vida. Itachi era o vermelho, vibrante, uma cor que lhe remetia poder, segurança talvez. E Sakura... Sakura era rosa, algo não muito original, admitia, já que o cabelo dela era daquela cor. Talvez fosse aquela preocupação exacerbada ou o modo tão natural, espontâneo e verdadeiro com que corria atrás e protegia aqueles com quem se importava. É, não precisava mentir para si mesmo, era realmente por isso. E o rosa, bem, ele lhe remetia ao cuidado, à atenção, à preocupação, ao carinho que a amiga tanto distribuía gratuitamente, sem esperar de si uma resposta, um agradecimento ou qualquer coisa. Era por isso que a deixava o inspecionar atrás de qualquer machucado ou seja lá o que Sakura estivesse procurando.
E aqui voltamos à explicação do vício. Durante toda sua existência, essas poucas pessoas que ganhavam cores para si e mudavam gradualmente sua rotina ofereciam-lhe pequenas doses de vida, davam-lhe motivos ou objetivos para que prosseguisse em um mundo onde, obviamente, não se encaixava muito bem, mas então aparecia Naruto. Naruto era uma incógnita que ele já tinha descoberto e se recusava a admitir, era uma peça branca que passava a brilhar em um amarelo como o sol, cegando-o se fosse possível. E não só isso! Ele lhe oferecia mais do que "pequenas doses", era como se tivesse uma overdose toda vez que o via!
Sacudiu a cabeça, livrando-se dos pensamentos quando Sakura deu um passo para trás depois de verificá-lo por completo.
— Onde você estava? — Sakura gritou à sua frente com as mãos na cintura. — Itachi está te ligando há horas, Sasuke!
— Eu te mandei uma mensagem — respondeu, calmo, tocando o ombro da amiga para que entrassem.
— Mensagem? — ela perguntou confusa.
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Jogo de Máscaras
FanficNão era para ser difícil ou perigoso, era para ser relaxante e prazeroso, apenas isso. Que ironia... Como se algo como se envolver com Naruto pudesse mesmo significar outra coisa senão um grande problema. Sasu/Naru