Capítulo 14 - Azul e Doce

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Conviver com uma grande família, ou ao menos uma quantidade boa de pessoas, foi coisa que eu nunca fiz.

  Mamãe e tia Agatha não possuem mais seus pais. Não conheci meu avô, e vovó morreu quando eu era muito nova. A primeira vez em que nos mudamos, foi tempos depois de sua morte.
 Papai é na verdade inglês. Ele nasceu lá, mas meu avô, Charles, o trouxe pequeno para a França. Papai é órfão de mãe. Ela morreu com ele bebê, de uma doença terminal.  Ele não tem irmãos. 
Tia Agatha não tem filhos. Não temos primos e tios, apenas parentes distantes. E isso sempre limitou minha convivência, entre eu e meus pais.

Apenas quando nos mudamos pela primeira vez para o outro lado da França, eu criei vínculos e amizades de verdade. Porém... Com pessoas que não vejo há muito tempo...

 Meu último encontro entre amigos, de forma tão descontraída aconteceu quando eu era pequena. A lembrança me traz sensações boas. Tão boas quanto essas que sinto ao estar com Aoba, dona Tae e os meninos.

Me sinto por dentro de tudo, incluída. E isso é tão incrível!

Para mim é o verdadeiro significado de um ambiente familiar. E eu não queria perder isso. Nunca mais.

Depois de toda a confusão, enganos e explicações, todos estávamos sentados próximos a mesinha de centro. O clima foi ficando cada vez mais descontraído, e logo, um console novinho de última geração foi pego por Noiz e todos estávamos jogando.

Enquanto nos divertíamos, fui aos poucos percebendo as personalidades de cada um mais a fundo. Estaria mentindo ao dizer que essa conexão com Aoba não trouxe um pouquinho de familiaridade... Mas sozinha já pude reparar muito.

Clear é a palavra fofura em forma de gente. Se unirmos gentileza e positividade, temos ainda mais aspectos de sua personalidade. Mas tudo isso, que dá a ele um ar de inocência e pureza, não esconde sua sabedoria por detrás. É extremamente esperto, e é um ponto que o torna cativante, tanto quanto seus sorrisos constantes.

Noiz. Que interrogação ele fora de início! Mas não me demorei a perceber: Era um garoto normal, com uma mente de gênio. Chegou em roupas mais sociais, mas ao voltar com o vídeo game, vestia uma camiseta de estampas coloridas e andava de jeito mais descontraído. Há responsabilidade de sobra nele, mas também alegria. É novo, mas pode-se notar que tem muita experiência no que faz. Isso o torna maduro, mas mesmo assim tranquilo e de bem com a vida.

E Koujaku... Ele quem me traz a maior sensação de família. Eu poderia sentir de longe o tamanho afeto que ele tem por Aoba e também notar que isso é recíproco. Ele é divertido, tem uma personalidade estrondosa, do tipo que ou está muito contente, ou muito chateado ou até mesmo muito triste conforme as situações. Alguém extremo. Que nos momentos certos, é sempre bem-vindo por perto. 
E ele me dava a crer que estava sempre aqui para os momentos certos. Vê-lo perto de Aoba ainda me remetia a fortes sensações... Mas havia um certo bloqueio para que eu os explicasse. Eu simplesmente sentia. A importância de um para com o outro, e era algo muito fofo.

Olhei rapidamente para o relógio. Minha nossa, não faltava nem meia hora para as 21:00.

Visualizei toda a sala com a intenção de me despedir, mas antes, encontrei o sorriso de todos. As risadas em grupo, as zoações, o jeito experiente e calmo de dona Tae ao observar ali os "seus meninos". De repente,  sua atenção parou sobre mim e ela me entregou um incrível e lindo olhar. Terno e cheio de "coisas de avó".

... Eu estava ali. Eu era da família. Eu era um membro dela! 

E a pequena descoberta me fez tão feliz, que até doeu dizer:

- ..Ah, pessoal. - instantaneamente todos se viraram para mim. - .. Bem,  eu... Na verdade, tenho que ir para casa.

Aoba me olhou com a cara mais confusa do mundo. Quando olhou o relógio da parede, até se assustou.

Twin Heart  - Coracão GêmeoOnde histórias criam vida. Descubra agora