Vila celeste

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No extremo norte, onde habita grande parte do povoado do fogo, existe uma pequena vila destacada e cordialmente apelidada de vila Dois Irmãos, mas que originalmente é conhecida como Vila Celeste. O pequeno vilarejo é conhecido por duas grandes estátuas de pedra que ficam na entrada, são dois guerreiros antigos que fundaram a vila. As grandes estátuas formam um grande arco com a junção da mão esquerda de uma e a direita de outra, os braços se estendem arqueando para formar a entreda recepcionando os visitantes de forma épica.
A vila em um tempo distante foi destruída com uma das batalhas mais memoráveis do norte. As histórias sobre o acontecimento relatam que os dois irmãos, dominantes do fogo, entraram em confronto com um homem que carregava nas costas uma enorme espada, que quase lhe passava em comprimento, ele além de portar algo desta magnitude podia criar espadas através de círculos, no entanto com a junção dos poderes místicos dos irmãos, conseguiram derrota-lo após uma ferrenha batalha. Diz a lenda que o homem, apelidado por muitos na época de Coletor, foi mandado para o outro mundo, de onde jamais voltaria.
Atualmente a vila tem tido uma longa era de paz e harmonia. A sua localização faz com que fuja dos reinos e suas políticas de clero, burguesia e assim por diante. As pessoas vivem tranquilamente na vila, que apenas elegeu um homem para ser o até então líder. Seu nome é Vareen, o protetor.
É muito comum vê-lo perambulando pela vila, mas não é isso que chama a atenção nele, mas sim a fama de seu filho mais novo, Bellarg.
Engana-se quem acha que é conhecido por ser corajoso, forte, destemido ou algo que pareça com seu pai, pelo contrário, ele é um grande salafrário que vive pregando peças em todos.
Alguns anos atrás, antes do nascimento de Bellarg, Vareen era um homem mais firme e autoritário, mas depois do nascimento do segundo filho ele deixou de ser. O que irritava seu primogênito, Tarion, que era como o pai e seguia-o sempre que possível nas tarefas que fazia em prol da vila. Era chamado por alguns como "A sombra" uma brincadeira que acabou se espalhando pelos moradores.

                              ***

Bellarg estava caminhando pela vila procurando alguém para ser a próxima vítima de suas brincadeiras, como todos os dias. Era magrelo e usava roupas em maior parte de couro, sua calça era de pano preto com alguns remendos, presa por um cinto de couro que prendia também um peitoral de couro, com alças sobre os ombros cruzando nas costas sobre uma camisa branca de pano desfiado, ja nos pés sempre usava botas que subiam até a metade da canela sobre as calças, enroladas em fios de lã. No cinto havia um punhal de cabo entalhado, formando a figura de um dragão que se estendia até a lamina. Era uma mistica criatura que se perdeu no tempo.
Bellarg era um jovem astuto, e na maioria das vezes usava luvas de feirreio — o porquê disso ninguém entendia. Naquele dia em especial, ele não estava apenas procurando pessoas para aplicar suas brincadeiras, mas estava pronto para pregar a maior de todas as peças, mas só poderia fazer isso com a ajuda de seu grande companheiro, Edward, um garoto gordinho que vivia comendo, exceto quando estava fazendo suas brincadeiras com Bellarg. Sempre estava usando botas de pele branca, e uma espécie de manto de pele de lobo sobre os ombros. Por baixo apenas usava panos velhos que mais pareciam pretos. Usava calças de couro, que tinha apenas uma abertura no joelho para dar mobilidade.
Ele, Edward, logo foi ao encontro de seu grande amigo para bolar sua grande peça. Foram juntos para uma pequena clareira na floresta, saíndo da vila, onde havia uma velha casa abandonada — parecia uma casa dos antigos moradores da vila, feita de madeira podre e palha para cobri-la — transformada no esconderijo dos dois.

-Ei! Será que você não faz nada na vida a não ser comer? - perguntou Bellarg.

-Hum, deixa eu ver - disse ele coçando o quiexo com o dedo indicador - não, não... - ele disse com um sorriso irônico enquanto mordia uma grande coxa de carne.

-Seu gordo - pigarreou ele. -Vamos ter que bolar isso muito bem... Você trouxe o que eu pedi?

-E quando eu não trouxe? - Disse enfiando a mão dentro da pele de lobo, puxando um amontoado de pequenas bolinhas de madeira.

-Ótimo! Eu queria mesmo fazer algo memorável...

Edward sentou-se na cadeira que estava ao lado da velha lareira que volta e meia era usada por eles. Bellarg ficou arrodeando de uma lado para o outro, fazendo com que o assoalho rangesse a cada passo que dava.

-Vai fazer o que dessa vez? Seu pai está furioso com a última... - falou ele de boca cheia, mastigando a carne.

-Eu estou pensando, não me interrompe! - disse com as mãos atrás das costas, pensando em seu próximo ato.

-Meu pai vai anunciar meu irmão como seu sucessor essa noite, acho que Bellarg irá marcar ela para sempre! - falou animado.

-Você parece um imbecil falando de você mesmo, sabia? - deu a última mordida antes de chegar no osso da coxa.

-Cala a boca, Ed pança mole, eu estou criando o meu maior plano!

-Como se fosse funcionar, logo agora com seu pai em cima de você... - respondeu Edward.

-Eu já sei! Vamos! Você vai me ajudar - saiu apressadamente até a porta, mas logo parou virando-se para trás. -Eu disse "vamos" então levanta essa bunda gorda dai!

-Tá bom, tá bom! - dificultosamente se levantou, fazendo barulhos estranhos. - foi sem querer - disse correndo todo desengonçado até a porta.

                               ***

-Ei, cuidado! - exclamou Bellarg quando Edward se agachou ao seu lado pisando em seu pé.

-Desculpa... Eu não consegui ver...

-É, com esse tamanho deve ser - ele riu.

-Fica quieto...

Os dois estavam atrás de algumas madeiras, que ficavam do lado oposto do lugar onde ocorriam enforcamentos, e decapitação em público.

-Tá legal, está vendo aquele palco que fizeram? Tem um alçapão que só está sendo preso por uma madeira em baixo dele, eu consigo entrar  por baixo e tirar ele, mas você vai ter que jogar as bolinhas quando meu irmão ser anunciado, quando ele cair vai direto para o buraco que vai se abrir e cair de cara naquilo - apontou para o esterco de cavalos que fedia mais que Edward.

-Você está louco? Seu pai vai arrancar o seu couro e mais importante, o meu também!

-A Cala a boca! E vamos... - ele se levantou e agarrou Edward pelo casaco de pele, como se pudesse leva-lo.

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