Estávamos subindo as escadas e eu evitava fazer barulho na madeira que se estalava toda vez que eu pisava em um degrau. Eu estava quase agarrando sua blusa com medo de tropeçar nesse escuro, mas quando chegamos lá em cima, eu notei uma luz amarela também vindo de um cômodo. Ele foi naquela direção e eu o segui com medo ainda. Era um quarto, eu já estive aqui, era pequeno e arrumado. Tinha somente uma cama, e isso me preocupou ainda mais. Então me sentei em uma cadeira e fiquei o observando tirando um lençol enrolado do guarda roupas, depois o jogou em cima da cama e pegando outro mais grosso e virando de frente pra mim como se tivesse esperando que eu fizesse algo.
-você pode ficar com a cama
-a não Joseph...
-eu insisto
Me calei incomoda com ele arrumando os lençóis no chão frio. Fui forçada a ir para cama me embrulhando no outro lençol macio e cheiroso, fiquei em silêncio tensa mas respondi ao seu boa noite e me virei de frente para janela. Não dava para ver nada além de um cinza pelas gostas de água escorrendo por ali. Sem sono, comecei a passar a mão no corte no meu braço lembrando daquela cena de novo, mesmo no escuro, era visível o desenho do corte em um tom mais escuro da minha pele se destacando. Me preocupei com jass, não devia ter brigado com ele... Devia ter ouvido ele, pra não ficar com essa cicatriz que com certeza vai me lembrar toda hora disso e me força a ficar com raiva.
Tentei dormir, mas toda vez que fechava os olhos, eu me via segurando o pescoço de Margô e enfiando uma faca na sua garganta cortando sua pele e deixando o sangue escorrer. Me peguei sorrindo no meio da noite deixando escapar até um suspiro desejando que isso se tornasse realidade. Talvez um dia, não é tão difícil... Só se Marie não estiver por perto.——————
De manhã, eu precisei de dois segundos para me acostumar com a quantidade de luz que estava no quarto. Depois me sentei na cama observando ao redor me lembrando que tinha dormido aqui ontem, arrumei meu cabelo e ajeitei meu vestido antes de colocar os pés no chão muito gelado me causando calafrios. Não encontrei Joseph, peguei a blusa de jass e fui até a escada parando no mesmo lugar tentando ouvir alguma coisa. Comecei a descer as escadas e me aproximei em silêncio da entrada da cozinha, o avistei no armário pegando alguma coisa que não identifiquei e voltando a mesa me reparando aqui parada.
-bom dia... Você dormiu bem?
Perguntou sorrindo se sentando na mesa e arrumando duas xícaras antes de derramar algo dentro delas por uma garrafa escura. Antes de responder, eu olhei para o vidro da porta e vi que já parecia está bem tarde. Me assustei um pouco e pensei em várias coisas ao mesmo tempo... Uma delas era sair correndo o mais rápido possível para a casa de jass.
-Joseph... Eu tenho que ir... Desculpa não poder ficar mas eu preciso ir mesmo, e obrigado por tudo
Dizia me apressando andando em direção a porta, ele não respondeu de nenhuma forma e fez um gesto com a mão quase me dizendo tchau. Fiquei triste por não ter tempo de ficar e tomar café com ele. Mas eu precisava ir e sair de lá pulando as escadas da varanda e tentando andar devagar pela calçada tentando não chamar atenção. Já estava preocupada demais para prestar atenção no meu caminho e percebi que já devia ter dobrado na outra rua. E como se não bastasse, eu notei uma pessoa andando pelo outro lado da rua pelos cantos dos meus olhos, essa pessoa estava acompanhada de outra familiar pra mim. Eu só não queria ser notada por essas pessoas, mas por dentro estava me mordendo de raiva. Eu não queria acreditar que aquele homem era meu pai e aquela menina pequena e baixinha do seu lado era Margô.
Esbarrei em alguém enquanto me concentrava em andar acompanhando eles sem chamar atenção. Mas eu pude sentir os olhos dele me atingindo, tentei andar normalmente mas minhas pernas pareciam ter perdido a força para suportar meu peso. Tentei andar mais rápido quase correndo quando ele atravessou a rua deixando ela sozinha do outro lado. Soltei um rosnado baixo quando ele ficou do meu lado olhando para meu rosto, depois segurou meu braço para me fazer diminuir minha velocidade e acompanhar a dele.
-onde estava?
-na casa de um amigo meu
Respondi seca sem medo do que ele poderia pensar com isso. Mas eu só sentir sua raiva através de um aperto forte no meu braço me obrigando a diminuir mais ainda minha velocidade.
-não se preocupe, eu só fiquei lá por causa da chuva, pode me soltar por favor?
Pedi calma e mantive minha expressão tranquila parando no meio da calçada o encarando. Retribuir o olhar zangado e desconfiado que ele tinha e puxei meu braço com força sem tirar meus olhos dos deles.
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Uma garota sozinha na floresta (2° temporada)
ФэнтезиAgora sei quem sou, e nunca mais volto ser quem fui. Jurei nunca mais fazer isso, nós duas estamos tentando nos entender mas depois de um tempo, percebi que ela era eu o tempo todo e sempre esteve comigo. Mas eu me contaminava com aquele mundo e esq...