Capítulo 24 - Chuva com sangue.

108 15 4
                                    

Andei sozinha na calçada agora molhada por causa da chuva calma e meio irritante. Meti minhas mãos no casaco e olhei pra cima deixando que os pingos caíssem em meus olhos, me perguntei porque minha vida já tinha virado de cabeça para baixo à Deus, ou pelo menos quem eu achava que estivesse lá em cima me olhando todos os dias.
Parei na frente da casa da minha mãezinha, fui para a janela de trás e me aproximei dela passando a mão no vidro para enxuga-lo. Lá dentro, vi Marie e minha irmãzinha conversando juntas na mesa almoçando. Eu sorri vendo aquilo por algum motivo, ver as duas assim não me deixa mais tão incomodada como antes ficava. Simplesmente me afastei dali dando de ombros e voltando para calçada abaixando a cabeça para me proteger dos pingos que ficaram mais fortes.
Comecei a andar na beira da estrada principal que dava para algum lugar bem longe da cidade, talvez para alguma outra cidade, ou talvez até outro estado ou país. Pensei por muito tempo sobre isso, eu queria descobrir onde essa estrada terminava. Me sentia curiosa e determinada para andar até onde eu puder.
Ou até decidir me divertir um pouco com a família que passou de carro ao meu lado parando no acostamento a minha frente. Eu observei com atenção ainda caminhando devagar na direção deles. Um homem adulto desceu meio estressado abrindo o capô do carro e espraguejando algo irritado.
Me aproximei um pouco mais e parei ao seu lado sorrindo e chamando atenção dele.
-oque houve, moço?
Perguntei me apoiando no capô olhando o motor do carro como se entendesse alguma coisa sobre.
-acho que esquentou demais
Respondeu fazendo uma careta se curvando também para olhar o motor quase fumaçando de tão quente. Eu balancei a cabeça concordando e toquei com meu dedo um fio colorido no meio de várias peças que eu não sabia o nome, depois coloquei meu dedo na boca porque o fio estava quente demais. Só aí tive uma ideia de como me divertir.
-se eu tirar isso aqui...
Falei arrancando o fio de lá aguentando a dor da queimadura e mostrando pra ele que ficou assustado com os olhos arregalados e com medo. Eu sorri como se não tivesse feito nada demais.
-oque você está fazendo?!
Perguntou indignado e furioso agora. Eu ri indo na direção dele e o deixando no chão, coloquei os joelhos nas suas costas e comecei a sufoca-lo com aquele fio. Enquanto eu ria do desespero dele. Escutei uma voz feminina e uma das portas do carro se fechando. A mulher apareceu na nossa frente e eu sorri ainda mais apertando aquele fio com mais força ainda no pescoço dele e o matando em dois segundos depois que a mulher gritou e correu assustada.
Eu soltei o homem e fui atrás da mulher dele correndo descalça no asfalto molhado atravessando a rua até conseguir agarrar a mulher e a empurrar para o chão. Bati sua cabeça numa pedra duas vezes e depois deixei ela escondida atrás de um tronco para que demorassem e encontrar seu corpo.
Fui atrás das crianças agora, a parte mais divertida do meu passatempo. As duas meninas estavam agarradas uma na outra chorando e se tremendo no banco de trás do carro, só para provoca-las a chorar ainda mais, eu passei minha mão no vidro do carro sujando-o com o sangue da mãe delas. As duas gritaram e depois uma se soltou da outra trancando as portas e voltando a abraçar a irmã.
Fiz uma cara feia para ela e depois olhei para os dois lados pensando um pouco. Fui até a floresta e trouxe lá uma pedra do tamanho da minha mão, voltei ao mesmo lado do vidro sujo de sangue e mostrei a pedra para a garotinha que tinha trancando as portas. Ela arregalou os olhos e ficou paralisada ali como planejei. Depois me afastei um pouco da porta do carro e joguei a pedra com força quebrando o vidro deixando alguns cacos cair nas duas que gritaram ainda mais e não se soltaram.
Peguei a que trancou as portas pelos cabelos e a joguei no chão fechando a porta para a outra não sair, nem precisava fazer isso pois ela só ficava gritando desesperada e paralisada dentro do carro.
Peguei um caco de vidro e prendi seus bracinhos no chão para que ela não tentasse reagir. Enfiei o caco pontudo na sua barriga e rápido o tirei chutando seu corpo para que me desse espaço para a outra garotinha. Me viro para a outra chorando lá dentro e a tiro de lá pelas pernas, era mais escandalosa ainda. A menina não parou de gritar até eu cortar sua boca fazendo ela se engasgar com o sangue. Fiquei olhando ela gofando aquela coisa nojenta vermelha e depois parou olhando para o céu finalmente se aquietando.
Suspirei jogando o caco de vidro no chão e depois passando por cima do corpo dela, não me dei o trabalho de tirar elas da estrada. Deixei meu casaco sujo de sangue em cima do corpo da mãe e continuei meu caminho como se nada tivesse acontecido. A chuva me ajudou a limpar todo o sangue daquela família das minhas pernas e braços. Sacudir meu cabelo encharcado e me escondi quando passou um carro preto do meu lado. Eu apressei meu passo com medo de ser prejudicada por causa daquilo, eu gostava de fazer por um lado, mas tenho medo de que ela mesma me prejudique por causa das coisas que me obriga a fazer, pelo outro.

___________

Depois de um tempo andando sem parar, eu não cheguei em lugar nenhum. Apenas parei em uma cidade abandonada e descansei na varanda de uma casa de madeira parecida com as que tem em filmes de Westerns. Admirei a paisagem podre daquela cidade e me balancei na cadeira secando meu cabelo com o vento.
Mas meu momento de tranquilidade foi interrompido, percebi uma figura negra se aproximando de mim andando rápido na chuva vindo na minha direção. Eu reviro os olhos sem paciência e me encosto na cadeira de balanço esperando aquela coisa vir falar comigo.
-oque você está fazendo nesta cidade?
Perguntou meu querido pai que não aparecia a muito tempo pra mim, ele ficou parado na minha frente tirando seu capuz deixando a água da chuva escorrer pelo seu corpo até seus pés. Seu olhar era meio zangado e calmo ao mesmo tempo. Talvez um pouco de impaciência assim como eu, mas eu também não estava afim de conversar com ele agora.
-só decidir sair um pouco daquele sufoco, quero ficar sozinha agora sem fazer nada
Respondi me balançando naquela cadeira olhando para chuva que estava deixando a tarde cinza e sem graça.
-não pode ficar por aí matando as pessoas, Miah
-mas eu não posso fazer mais nada
Respondi me levantando erguendo os ombros pra ele e depois entrando naquela casa sem porta. Comecei a vasculhar as coisas que tinham por lá distraidamente, peguei um caneco de alumínio e comecei a mexer uma colher suja lá dentro como se tivesse algo lá. Só estava brincando esperando ele ir embora e me deixar sozinha.
-oque pensa quando mata aquelas pessoas inocentes?
Perguntou ele surgindo atrás de mim, eu me virei e o encarei com uma sobrancelha erguida meio confusa com seu tom. De repente ele começou a ter pena dos humanos ou oque?
-pai, eu só faço quase o mesmo que você faz
Respondi continuando a brincar com o caneco, depois andei contornando a mesa e me sentando em uma cadeira de madeira abrindo uma gaveta do armário atrás de mim.
-me deixa seguir minha vida em paz, pai
Pedi distraída mexendo nos talheres dentro daquela gaveta. Ouvi ele suspirar derrotado e depois se encostar na pia atrás de si. Eu o olhei pelos cantos dos olhos tentando adivinhar oque ele estava pensando agora.
-não queria que você tivesse uma vida assim, minha filha...
Olhei pra ele meio confusa agora. Não estava querendo ter uma conversa sentimental com ele agora.
-Jasper mandou um recado pra você
Disse seco depois de ter respirado fundo me deixando ainda mais confusa e surpresa ouvindo o nome de jass sendo pronunciado por ele. Me estendia um papel um pouco amassado na minha direção, depois eu peguei ainda com uma sobrancelha erguida e abri o papel começando a ler.
Ali dizia que ele estava sentindo minha falta e mais algumas baboseiras que eu não prestei atenção, fiquei confusa com "eu estou procurando você porque preciso te dizer uma coisa importante", mas eu só conseguir pensar em coisas sem tanta importância, oque ele poderia ter para me dizer de importante?

Uma garota sozinha na floresta (2° temporada)Onde histórias criam vida. Descubra agora