Capítulo 27 - Frio/Nossa viagem.

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Meses depois...

Eu estava com frio apenas com uma jaqueta que havia roubado de um dos garotos encolhida perto de uma pedra grande no meio da floresta de pinheiros. Todos estavam dormindo essa hora da manhã, o sol ainda estava nascendo. Eu tentava capturar um coelho, estava com fome e ninguém ali me permitiam comer oque eles tinham. Então eu me virava sozinha.
E depois de alguns minutos congelando sentada na neve, ouço a pequena pedra da minha armadilha batendo no chão. Saio de onde estava e vou ver oque tinha pego. Mas quando chego lá, era só uma pequena doninha branca e seca demais. Só que eu já tinha usado minhas iscas, então não podia tentar de novo para pelo menos tentar pegar uma lebre.
Tiro a doninha de baixo da pedra e vou a caminho da pequena cabana onde nós "moramos", eu passo a maior parte do tempo tentando arrumar comida. Sou tratada como animal, e não posso mais tentar fugir. Mesmo que as vezes ainda me dê vontade. Agora até Jass ficou contra mim, oque ele diz é que talvez eu consiga me controlar e seja bom pra mim parar com os assassinatos por um tempo. Mas isso já tá durando meses. Minhas crises estavam piorando a cada noite e ele quase não faz nada para me ajudar.
Pensava em outro plano de fuga enquanto assava a doninha na fogueira que eles esqueceram ainda acesa. Logo percebo alguém se aproximando de mim, era Jass.
-tudo bem?
Pergunta se fazendo de idiota. E mesmo que pareça que ele está se preocupando comigo pela primeira vez em semanas, eu finjo que não ouvi e continuo olhando pra doninha.
-eles querem se mudar...
Ainda não olho pra ele.
-e estão querendo ir para as montanhas, bem longe das cidades. E o motivo deve ser você.
-eu não ligo.
Digo séria ficando com raiva. E ele fica em silêncio por alguns segundo olhando pro chão.
-é... Ainda tá com raiva de mim?
-sim.
-e eu posso fazer alguma coisa?
-pode sair daqui.
-mas quero conversar com você.
Fico em silêncio e puxo minha doninha da fogueira deixando ela em uma casca de árvore na minha frente. Pego um pedaço da sua patinha e como sem olhar pra ele pensando no que dizer.
-por que você não vai conversar com seus amigos?
-ainda tô tentando saber porque você se afastou de mim nesses últimos meses.
-agora sou eu que me afastei de você?
Pergunto agora muito irritada olhando pra ele. Vejo que ele também parece irritado e ficamos mais uma vez naquela briga silenciosa de olhares raivosos.
-eu não sei porque ainda venho tentar conversar com você.
Diz ele bravo se levantando do meu lado caminhando de volta para a cabana onde seus amigos estavam reunidos na sala conversando e se aquecendo perto da lareira. Enquanto eu estava aqui no frio congelando meu nariz e minhas mãos.
Eu odeio tanto aqueles imbecis.

____________

De tarde eu ainda estava do lado de fora como um cachorro quando percebi a movimentação na varanda da cabana. Ouço o líder deles começar a explicar o caminho com um mapa na mão. Todos estavam com uma mochila pequena nas costas e pareciam animados com a viagem que iriam fazer.
Jass caminha na minha direção carregando uma mochila à mais na sua mão.
-as meninas te deram algumas roupas, e também algumas coisas que vai precisar.
Ignoro seus comentários e pego minha mochila procurando logo um casaco pra mim. E acho um branco perfeito.
-pra onde vamos?
Pergunto pra ele enquanto andávamos seguindo o resto do grupo.
-uma mansão de um cara que eles conhecem nas montanhas, lá é como um refúgio pra pessoas da nossa espécie... Ou da minha, até hoje eu não sei oque você é.
Percebo uma mudança no tom da voz no final, ele parecia normal no começo mas no final falou como se quisesse me ofender.
-eu também não sei, mas se estou com você e eles devemos ser da mesma, não é?
-não sei, oque sua mãe era mesmo?
-depende, em que contexto?
-como assim?
-eu sei que ela era doida, mas também parecida comigo.
Ele riu baixinho olhando pra frente e eu notei que tinha me ofendido sem querer me comparando com aquela retardada.
Dou um beliscão no seu braço e ele para me olhando sorrindo. Só que eu não queria me desculpar com ele ainda, então não sorrir e fingir que isso não aconteceu.
-tá agora me conta, por que estamos indo pra tal mansão?
-eu não sei, não podemos ficar num lugar muito tempo, e pare de me fazer perguntas, eu não sei de nada.
-mas você só vive perto deles agora, esqueceu de mim e que eu ainda existo.
Abaixo a cabeça quando vi que tinha falado uma coisa que me incomodava muito tempo. Eu só não queria falar agora.
Mas ele não disse nada, só me abraçou de lado e me deu um beijo na testa. Me sentir frágil de repente, mas mesmo assim feliz por isso.

Uma garota sozinha na floresta (2° temporada)Onde histórias criam vida. Descubra agora