Meu corpo doía horrivelmente, o balanço do local onde estava era continuo e meus olhos se incomodaram com uma luz repentina que surgiu do nada, relutante eu os abri, com certa dificuldade eles se acostumaram, eu estava em um carro que havia acabado de entrar em um túnel, as luzes fortes ofuscavam os carros que passavam como borrões.
— Mais que droga?— questionei ao notar que além de estar presa ao banco pelo cinto de segurança minhas mãos estavam amarradas fortemente com uma corda qualquer, ao meu lado ele dirigia concentrado, quase não tirando sua atenção da estrada á frente para fitar-me.
— Eu não podia arriscar, eu sinto muito por isso, minha pequena, mas foi preciso.— O encarei cerrando os olhos, flashes do ultimo acontecimento atingiram minha mente com força, me causando ânsia, eu queria chutar a cara dele ali mesmo, minha intimidade doía muito, e eu me odiei por ter despertado, eu poderia somente adormecer sem nunca mais voltar a abrir os olhos.
— O quão longe estamos?— indaguei, remexendo meu corpo na falha tentativa de arrumar conforto. Ele me olhou por uns segundos, sorrindo de canto.
— Longe o suficiente, digo que longe até demais.— Havia algo diferente em sua voz, suas palavras não me passaram confiança alguma, nada parecido como a maneira que falava antes, ele estava inseguro, e evitava me olhar por mais de dois segundos, e nunca fitando meus olhos diretamente.
O carro continuou a se mover em uma velocidade consideravelmente rápida, enquanto eu, com a cabeça escorada no vidro da janela tentava não imaginar para qual buraco ele estaria me levando, o que era impossível, eu apenas esperava que fosse menos deplorável que aquele maldito apartamento.
— Precisamos parar no próximo posto, o carro precisa de gasolina e você de comida.— A voz dele soou rouca, preocupada e levemente distante, encarei ele por alguns segundos e bufei quando meu estomago reclamou em resposta a menção da palavra comida, eu mal sabia há quanto tempo estava apagada.
Andamos mais uns quilômetros até que as fracas luzes de um posto foram avistadas, ele então parou alguns metros antes, virando-se para mim e desamarrando a corda, meus pulsos estavam doloridos e roxos, mas isso sequer me incomodou, apenas os massageei, sentindo todo meu corpo doer, aquilo tudo estava acabando comigo.
— Precisa vestir isso.— informou me entregando um casaco de capuz, grande demais para meu corpo, mas não discordei apenas o vesti, colocando a porcaria do capuz sobre minha cabeça.— Não posso ariscar deixa-la no carro sozinha, vamos ter que descer juntos, eu peço que coopere, ou as coisas vão ficar muito sérias, não quero machucar seu rostinho.— ameaçou, segurando meu queixo com uma das mãos.
Ele avançou com o carro até o posto, em silencio, eu sentia minhas mãos tremendo, não havia nada ali perto, apenas uma densa vegetação, o que era atrativo demais, correr e me entranhar na escuridão, fugir dele, gritar aos sete ventos que eu ainda estava viva, mas ele tirou do bolso da jaqueta que vestia uma revolver quando finalmente parou o carro, mostrou-me que estava carregado, e não foi preciso dizer nenhuma palavra para que eu entendesse que se tentasse algo logo já seria apenas um cadáver ao relento.
Ao sairmos do carro um forte vento nos encontrou, balançando meus cabelos por entre o capuz, abracei a mim mesma enquanto ele transpassava uma das mãos por minha cintura, enquanto com a outra, por dentro de sua jaqueta, tratou de encostar o cano do revolver em mim, para que estivesse ciente da ameaça.
Ao entrarmos na pequena mercearia eu senti meu peito se apertar um pouco mais, haviam pessoas ali, assim que encarei o homem atrás do balcão eu quis gritar, pedir ajuda e me ver livre dos braços dele, mas eu não o fiz, apenas segui seus passos ainda sendo envolvida por seu aperto, ele olhava desconfiado para todos e eu por algum motivo sorri, estava pela primeira vez na presença de pessoas de verdade, um passo dentro da realidade, se não fosse ele me guiando dentro dela, tudo estaria perfeito.
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Devoção Doentia
Gizem / GerilimO quão doentia e sombria pode ser a alma de uma pessoa e até que ponto sua obsessão fica presa apenas em sua mente? O doce olhar de uma inocente jovem foi capaz de atrair a atenção indevida de um coração sem medo. Sua devoção a ela beirava a insan...