Capítulo 9

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Camila não parava de me perguntar onde estávamos indo. Ela estava realmente animada. Quando chegamos, eu tirei a venda dela e pude ver seus olhos cintilarem. Liguei a musica que era bem suave e deixei rolando o clipe no projetor.

- Está lindo! Como fez tudo em pouco tempo? – Perguntou ela sorrindo

- Tenho muito tempo livre – Digo também sorrindo – Aceita ponche? Esse não tem vodka ahah

- Vou aceitar – Responde ela rindo. Sirvo duas taças de ponche e entrego uma para ela

- Um brinde à nossa amizade e ao nosso primeiro baile de "primavera" – Digo levantando a taça. Ela sorri e então brindamos.

Comemos quase toda a comida, dançamos no Just Dance e assistimos o clássico da Disney a Bela e a Fera. Quando a musica começou eu a convidei para dançar comigo. Flutuamos sob o tapete de grama como se fossemos duas folhas que caem num dia de outono. O mundo a minha volta simplesmente parou de existir enquanto eu olhava em seus olhos. Eu entendi claramente neste momento o que eu estava sentindo, eu estava perdidamente apaixonada por ela, como se ela fosse a obra de arte mais linda e valiosa do mundo inteiro. Meu coração estava em brasa naquele momento. Ela abaixa os olhos, sorri, vêm em direção a minha boca e de repente ela para e fala:

- Desculpa, eu não posso! Eu tenho que ir agora...

- Mas por quê? – Pergunto e ela corre em direção ao condomínio de novo – Camila!

Corri atrás dela e como se eu tivesse alucinado ela some quando chega perto de sua casa, então eu percebo que o sol havia nascido. Eu fiquei confusa, rodeio o grande muro de sua casa, caio, esfolo meus joelhos e pulsos, mas não a encontro. Volto para o local do baile e começo a recolher as coisas, me sentindo péssima, como se eu tivesse estragado a maior obra da minha vida e não pudesse mais recuperar.

Chego meio cambaleante em casa, fico encolhida no meu chuveiro tentando entender o que deu errado ou o que eu tinha feito de errado, sentindo a dor dos meus joelhos, pulsos e coração esfolados. Limpo os ferimentos direitinho e resolvo dormir um pouco. Mas os pensamentos não me deixam cochilar mais que meia hora. Rolo de um lado para o outro, mas logo me levanto e olho pela janela.

Percebo que há uma ambulância encostada à casa do vizinho, meu corpo arrepia e estremece, sinto meu sangue gelar. Vejo que eles estão guiando uma mulher na maca, uma senhora de idade já e aquele mesmo senhor de uns dias atrás, eles entram na ambulância e seguem em direção à cidade. Tive o belo pensamento de ir até à casa dos Horizon para saciar minha curiosidade.

Pulo entre os telhados e finalmente chego sem fazer nenhum barulho, passando com cuidado no cerco de arame farpado que sempre me rasgava alguma coisa. Achei uma escada que levava até o sótão e me espremi por uma báscula até conseguir entrar. Acendo a lanterna do celular e procuro a saída dali. Desci as escadinhas que davam até um extenso corredor com alguns quartos. Fui olhando entre os quartos e achei o da Camila, os moveis estavam cobertos por lençóis só tinha alguns pôsters de bandas antigas e fotos amareladas de polaroid coladas pela parede. No corredor tinha quadros da família, Camila mais nova, bebê e até algumas atuais. Desci as escadas até a sala, olhei por toda a casa, mas não achei a Camila. Algo me redirecionou até a porta do porão e eu resolvi entrar para ver. Procuro por uma chave na cozinha, mas não acho, então tento abrir com uma ponta de faca e um limpador de panela de pressão, com sorte não demorei muito. Algo dentro de mim se revirava e quase não me deixava respirar direito. Desço as escadas com cuidado e lá eu vejo num caixão de vidro de pé, como se fosse uma boneca em exposição, Camila. Ela usava um melancólico vestido preto, um laço também preto no cabelo e estava com as mãos repousadas no peito como se dormisse serenamente. Ela estava esquálida, com os olhos e lábios levemente arroxeados. Minha respiração faltou, meu coração acelerou demais e eu desmaiei.

Os segredos do além do Horizonte (Camren)Onde histórias criam vida. Descubra agora