Capítulo 24: Ranna

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ENTREVISTA DE EMPREGO?

Como era o esperado, Adri bate à porta quando dá oito horas da manhã. Pronta, dou uma última ajeitada no cabelo trançado antes de encontrá-lo no corredor.

— Bom dia, Ranna — cumprimenta ele.

— Bom dia — respondo simplesmente.

— Dormiu bem? — ele me encara rapidamente enquanto nos dirigimos ao elevador. — Você parece um pouco cansada.

Balanço a cabeça, assentindo.

— Não dormi direito essa noite, só isso.

— Pesadelos?

Deixo o ar escapar em um chiado baixo. A porta metálica se abre, dando-nos espaço para passar. Com um abanar de mãos, um segundo Orientador pede para segurar a porta. Irina vem logo atrás, após fechar a porta de seu próprio quarto. Os dois entram e ela faz um movimento de cabeça que traduzo como "bom dia" ou algo próximo de "e aí?".

— Pra onde vocês vão depois do café? — questiona o Orientador de Irina, um homem de porte médio, cabelo escuro com mechas loiras e olhos castanhos. Preso à sua roupa, uma espécie de distintivo, assim como Adri, revela seu nome: Luciano Lima.

— Vou levar Ranna à psicóloga — responde Adri. — Vamos ver se ela está apta para iniciar os procedimentos padrões.

— Entendo — responde o outro. E se vira para mim: — Você vai se sair bem, tenho certeza.

Dou um sorrisinho apertado em consentimento e solto um "Obrigada", murcho.

O elevador estaciona no térreo e nós saímos. Troco um olhar com Irina enquanto nos encaminhamos para o buffet de café da manhã. Pegamos um prato cada uma e nos servimos com aquilo que queremos comer e beber. Sentamo-nos em uma mesa afastada, próximo a fachada de vidro, dando-nos visão privilegiada do que acontece nas ruas do que foi uma vez a grande São Paulo. Alguns guardas fazem a ronda, como de praxe, enquanto carros e ônibus circulam de um lado a outro, encaminhando as pessoas para seus postos de trabalho ao mesmo tempo em que, provavelmente, leva pacientes renegados para suas consultas e tratamentos.

— Você confia em Adri? — a pergunta de Irina soa baixa, quase sussurrante. Seus olhos estão focados nos meus.

Olho para o lado, conferindo que nossos Orientadores estão parados ao lado de uma mesa, trocando palavras com outro Orientador. Dou de ombros.

— Ainda não vi motivos para desconfiar — respondo à russinha.

Ela não parece muito contente com o que digo.

— Droga.

— O que foi, Irina?

Balança a cabeça, como se tentasse afastar uma paranoia.

— Nada, é só que... poxa, também não consegui encontrar nada que pudesse incriminar Luciano de qualquer coisa.

Arqueio as sobrancelhas.

— Irina, por que tentar incriminá-lo de alguma coisa? Eles estão nos ajudando!

— Você acredita mesmo nisso? — sua voz soa como uma navalha prestes a me cortar.

— Acredito, sim — afio ainda mais a lâmina. — Eles estão nos alimentando, dando um lar e nos tratando! Eles estão nos salvando depois de tudo o que o Governo nos fez.

A loira se empertiga na cadeira, fitando-me de esguelha. Por fim, dá um suspiro resignado e se põe a comer e beber seu suco. Murcho os ombros, mais tranquila e dou uma mordida no meu pão especial de queijo, sendo sugada imediatamente para uma lembrança...

Futuro Conquistado #2 (Ficção LGBT)Onde histórias criam vida. Descubra agora