ENTREVISTA DE EMPREGO?
Como era o esperado, Adri bate à porta quando dá oito horas da manhã. Pronta, dou uma última ajeitada no cabelo trançado antes de encontrá-lo no corredor.
— Bom dia, Ranna — cumprimenta ele.
— Bom dia — respondo simplesmente.
— Dormiu bem? — ele me encara rapidamente enquanto nos dirigimos ao elevador. — Você parece um pouco cansada.
Balanço a cabeça, assentindo.
— Não dormi direito essa noite, só isso.
— Pesadelos?
Deixo o ar escapar em um chiado baixo. A porta metálica se abre, dando-nos espaço para passar. Com um abanar de mãos, um segundo Orientador pede para segurar a porta. Irina vem logo atrás, após fechar a porta de seu próprio quarto. Os dois entram e ela faz um movimento de cabeça que traduzo como "bom dia" ou algo próximo de "e aí?".
— Pra onde vocês vão depois do café? — questiona o Orientador de Irina, um homem de porte médio, cabelo escuro com mechas loiras e olhos castanhos. Preso à sua roupa, uma espécie de distintivo, assim como Adri, revela seu nome: Luciano Lima.
— Vou levar Ranna à psicóloga — responde Adri. — Vamos ver se ela está apta para iniciar os procedimentos padrões.
— Entendo — responde o outro. E se vira para mim: — Você vai se sair bem, tenho certeza.
Dou um sorrisinho apertado em consentimento e solto um "Obrigada", murcho.
O elevador estaciona no térreo e nós saímos. Troco um olhar com Irina enquanto nos encaminhamos para o buffet de café da manhã. Pegamos um prato cada uma e nos servimos com aquilo que queremos comer e beber. Sentamo-nos em uma mesa afastada, próximo a fachada de vidro, dando-nos visão privilegiada do que acontece nas ruas do que foi uma vez a grande São Paulo. Alguns guardas fazem a ronda, como de praxe, enquanto carros e ônibus circulam de um lado a outro, encaminhando as pessoas para seus postos de trabalho ao mesmo tempo em que, provavelmente, leva pacientes renegados para suas consultas e tratamentos.
— Você confia em Adri? — a pergunta de Irina soa baixa, quase sussurrante. Seus olhos estão focados nos meus.
Olho para o lado, conferindo que nossos Orientadores estão parados ao lado de uma mesa, trocando palavras com outro Orientador. Dou de ombros.
— Ainda não vi motivos para desconfiar — respondo à russinha.
Ela não parece muito contente com o que digo.
— Droga.
— O que foi, Irina?
Balança a cabeça, como se tentasse afastar uma paranoia.
— Nada, é só que... poxa, também não consegui encontrar nada que pudesse incriminar Luciano de qualquer coisa.
Arqueio as sobrancelhas.
— Irina, por que tentar incriminá-lo de alguma coisa? Eles estão nos ajudando!
— Você acredita mesmo nisso? — sua voz soa como uma navalha prestes a me cortar.
— Acredito, sim — afio ainda mais a lâmina. — Eles estão nos alimentando, dando um lar e nos tratando! Eles estão nos salvando depois de tudo o que o Governo nos fez.
A loira se empertiga na cadeira, fitando-me de esguelha. Por fim, dá um suspiro resignado e se põe a comer e beber seu suco. Murcho os ombros, mais tranquila e dou uma mordida no meu pão especial de queijo, sendo sugada imediatamente para uma lembrança...
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Futuro Conquistado #2 (Ficção LGBT)
Science FictionDesfecho da duologia iniciada em "Futuro Renegado". "Sacrifícios são feitos de escolhas". Após os acontecimentos de Futuro Renegado, o que se esperava era paz, entretanto, dois ataques súbitos e uma doença degenerativa desmancham o sonho de liberdad...