Capítulo 37: Natanael

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A VÍBORA DO PARAÍSO


Não negarei que não dormi praticamente nada durante a noite. Como se não bastasse saber que Bernardo está vivo e que renascera um grupo sob a alcunha de Gangue de Anjos da Morte, ainda teve a revelação de que Ivan Morris foi o grande responsável e que deixou instruções para ele, Sandra e Lorenzo, primo do falecido Alan.

Enquanto me sento à mesa, confiro a hora em um relógio digital de parede: 7h31. Praticamente ninguém está em pé, mas os poucos responsáveis pela comida já estão com o café pronto, o qual não me demorei em servir em uma caneca e, agora, acomodado, beberico o líquido quente enquanto lembro da noite insone ao lado de Carlo...

— Você acha que ele está dizendo a verdade sobre meu pai? — perguntou-me, aflito.

— Eu posso até estar com um pé atrás em relação a ele — respondi —, mas acredito que não tenha motivos para mentir sobre algo tão sério.

— E se ele estiver nos manipulando ou...

— Carlo, calma — abracei-o por trás, acariciando seu peitoral. — Melhor não tirarmos conclusões precipitadas.

— Mais do que já tiramos?

Beijei seu pescoço e mordisquei o lóbulo da orelha, causando-lhe um rápido frêmito.

— Nós fizemos isso porque estávamos com medo e, principalmente, por estarmos correndo risco.

— E você acha que agora estamos a salvo?

— Longe disso! — Ele me encarou de canto, confuso. — Acho que, pelo menos, por ora estamos seguros — assegurei, dispersando um pouco de influência sobre nós dois. — Enquanto tudo não se resolver, nunca estaremos a salvo. Até lá, Bernardo nos ofereceu um pouco de paz e calmaria, além do mais, nós dois temos uma história com ele.

Meu ruivo suspirou, anuindo, e girou no próprio eixo, depositando um selinho em meus lábios. Com um suspiro, afastou-se, trancando a porta magnética, e ligou o ar-condicionado. Viver em cavernas nem sempre é muito quente, principalmente quando elas estão sob uma densa catarata e é inverno, então nada que um bom gerador de energia e um aquecedor não ajude.

Enquanto Carlo trocava a roupa do dia por uma bermudinha fina e uma regata, ambos pretos, liguei um toca-discos e coloquei o CD que trouxe da minha casa. Sim, essas quinquilharias ainda existem, abandonadas pela expansão e desenvolvimento das mídias digitais e tecnológicas, mas eu gosto de ter algo físico que guarde minhas músicas, principalmente quando elas foram proibidas de serem reproduzidas em território nacional por "disseminarem ideologias subversivas".

Traduzindo: por ajudarem as pessoas a pensarem.

"Inércia", da banda Scalene, ganhou o ambiente na medida em que meu ruivo caminhava até mim.

— Vem cá, vou te ajudar a se trocar — disse, carinhoso como sempre.

Suas mãos hábeis puxaram minha camiseta, tomando cuidado com meu meio-braço, e a jogou sobre o gaveteiro em que o toca-discos estava. Seu tronco se inclinou e depositou beijos quentes sobre a dobra do meu pescoço, deslizando até o ombro direito e descendo por meu bíceps, parando logo acima do toco, para fazer o caminho inverso, passando agora para meu peito, onde se demorou um pouco mais, acariciando minha pele eriçada e os mamilos, fazendo-me arfar.

— Achei que íamos dormir — zombei.

Carlo riu, desferindo-me um beijo que me desequilibrou momentaneamente.

Futuro Conquistado #2 (Ficção LGBT)Onde histórias criam vida. Descubra agora