Capítulo 48: Ranna

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"REINAÇÃO"


Assim que a mensagem de Mirian é transmitida a todos nós por Lya e Bernardo, o caos se torna a palavra de ordem. Eric está esbravejando ao meu lado, o calor aumentando gradativamente enquanto sua fúria infla em seu peito. Estar no ambiente frio e chuvoso do meio da Amazônia não ajuda a esfriar sua angústia em perder Mirian. Quer dizer, na possibilidade de perdê-la.

Max, logo atrás dele, está com uma cara terrível, de quem teme que uma bomba caia agora mesmo sobre nossas cabeças. Outros, à nossa volta, soltam impropérios tão pesados quanto o de Faísca, e palavras de ordem logo começam a surgir. Eles querem guerra. Eles querem sangue. Mas contra quem estamos lutando? Contra Os Treze ou contra uma pessoa apenas? Essa dúvida ainda permeia meu ser, contudo, compreendo que estamos correndo um risco gigantesco. Se ficarmos parados, veremos nossas lutas de décadas se desfazerem entre nossos dedos como areia escorrendo em uma ampulheta.

— Pessoal, calma! — grita Bernardo, erguendo as mãos na altura da cabeça.

Os mais próximos até obedecem seu pedido, mas os mais afastados não ouvem, continuando a cochichar, exclamar e xingar. A chuva está aumentando e a lona que nos cobre não é o suficiente para manter toda a Gangue dos Anjos da Morte e renegados protegidos e próximos de nossos atuais líderes.

— SILÊNCIO! — esbraveja Lya, e sua voz tem o poder de se espalhar por todo o ambiente. Até a chuva parece ter acalmado. — É o seguinte: nós não deixaremos que nos usem e depois nos joguem fora! Não mesmo! Por isso — e agora seus olhos dourados se espalham por todos nós, derramando uma força quase descomunal —, nós voltaremos imediatamente para a ilha dos refugiados!

— Os renegados de lá não vão gostar disso, você sabe — replica Eric.

— Eu sei, Faísca, mas precisamos protegê-los, mesmo imerso em sua própria ignorância. Nós lutamos por eles quando estávamos na Resistência, e agora vamos lutar para creditarem nosso valor! Vocês acreditam nessa causa?

Um coro de "sim" ecoa até as árvores.

— Eu não ouvi. Vocês acreditam nessa causa?! — repete a ruiva e a multidão de homens e mulheres se esgoela em um "sim" que se espalha por toda a floresta. — Então, vamos à luta!

E, mesmo sob a torrente gélida, todos os Anjos da Morte se espalham e começam a juntar suas coisas enquanto os Cipriano preparam a dobra espacial. Agora eu entendo o motivo pelo qual as pessoas seguiam Lya quando era líder da Resistência. Ela não tem papas na língua e, mesmo com seus segredos, ela faz com que acreditemos em suas palavras, em suas escolhas, em quem ela é.

— Sua irmã é incrível — comento para Carlo, ao meu lado —, doida, mas incrível.

Ele dá um risinho de canto, o primeiro em dias.

— Não diga isso na frente dela.

— Não dizer o que na frente de quem? — interpela a própria, aproximando-se.

— Ahn, nada não, mana — rebate ele, mudando de assunto: — Precisa de alguma coisa?

— Preciso que participem mais.

A resposta dela não me deixa lá muito à vontade.

— Quão exatamente? — pergunto.

— Como possuem poderes psíquicos, serão os primeiros a ir para a ilha e lá terão o dever de reunir os renegados e prepará-los para nossa chegada.

Claramente, um arrepio transpassa minha coluna.

— O que quer que a gente diga? — questiona o ruivo, a voz numa neutralidade tamanha que me faz ponderar se ele já havia ouvido o plano da irmã.

Futuro Conquistado #2 (Ficção LGBT)Onde histórias criam vida. Descubra agora