Capítulo 43: Natanael

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UM PASSE DE MÁGICA

Diferente do que imaginei, não fui guiado até a presença de Danilo Thraur.

Rodeado por soldados armados até os dentes, o caminho até aqui me pareceu longo e extremamente doloroso — como um déjà vu. Novamente o sentimento de ser uma cobaia da SEAH bateu com força em meu peito, fazendo-me crer que estava a um passo do terror que vivi há dois anos.

O asfalto sob meus pés não parecia tão firme e os prédios a nossa volta se erguiam ameaçadores, como dentes pontiagudos de algum animal monstruosamente grande. Os homens, silenciosos, eram as bactérias prontas para dizimar o alimento — no caso, eu.

Ao chegar em um prédio qualquer, o interior completamente branco e asséptico, fui guiado para uma sala onde fui despido sem nem um pouco de cuidado. Meu braço mecânico foi desacoplado e a lástima se ampliou sob os olhares tortos que recebi. Nu, recebi um jato de água que fez minha pele arder como se fosse atingido por uma chuva de agulhas. Perguntas, que não respondi, foram feitas. Acusações. Injúrias. Será que não estão mesmo certos sobre quem sou? — peguei-me a ponderar. Não! Eu não posso me abater agora, eles sabem pelo que estou lutando, isso é apenas uma forma de me retaliar. Retaliar todos nós. Eu servirei como um exemplo a não ser seguido, é isso que Danilo deseja. Dessa forma, pode manter seu poder sobre nós, mesmo que diga o contrário.

Depois dessas boas-vindas nada calorosas, um quarto branco de luzes intensas se tornou meu novo lar. Díspar da Base de Estudos do Sul, minha cela não possui grades nem sequer um colchonete. Sou apenas eu num buraco quadrado e branco, sem água, sem comida, sem roupa.

Sentado em um canto, neste momento, tento manter a lucidez. Memórias antigas não me incomodam mais, contudo, as mais recentes... Percebo que não são só as minhas, mas a de Ranna também, afinal, quando nós nos tocamos nas Cavernas do Iguaçu, ela me transferiu algumas informações importantes que poderei usar quando sair daqui — se eu sair.

Repreendo o último pensamento e foco no que devo. Talvez, não tenhamos agido de forma certa, afinal. Na loucura de saber o que está acontecendo, agimos de forma imprudente, ameaçando nossa própria segurança, ameaçando destruir tudo aquilo pelo que lutamos. Como seremos vistos como vítimas depois de nossas últimas ações?

Solto um riso de deboche. Nós não somos vítimas, ao menos não mais. No passado fomos capturados pelas forças do governo para sermos estudados e usados, porém, depois de nossa tão sonhada liberdade, usamos isso para criar um novo problema. Poderíamos muito bem ter aceito os termos d'Os Treze e ficados calados, mas a ganância de buscar mais e mais do ser humano se mostrou nossa real queda. No fim, nos dividimos sem nem mesmo precisar de muito esforço daqueles que querem nossa queda.

Mas será que é só isso mesmo?

Volto ao mundo real quando ouço a trava da porta girar e um homem de preto adentra o cômodo. Por um momento indago-me se estou louco, mas é inegável a presença de ninguém menos que Josué Tavares. A entrada é fechada atrás de si e, quando faço questão de lhe fazer perguntas, seus olhos tristes se cravam nos meus. Franzo a testa, dando-me conta do que ignorei anteriormente: a coleira de controle em volta de seu pescoço. Engulo em seco, ciente do que ele quer. Do que eles querem — corrijo-me.

Sou puxado com força pelo braço esquerdo e jogado contra o chão. Com dois passos, ele me alcança e seu pé atinge minha barriga, arrancando de mim um gemido abafado. Outro chute atinge meu estômago e minha visão escurece, pontos brilhantes tomam as trevas quando outro chute me atinge. Sinto dedos se infiltrarem em meu cabelo, forçando meu rosto contra seu baixo-ventre. NÃO! Tento me desvencilhar, entretanto, Tavares acerta meu rosto com o dorso da mão, jogando-me contra o chão. Fraco, não consigo lutar contra o homenzarrão que se assoma sobre mim, que, rápido e violentamente, afunda-se em minha carne.

Futuro Conquistado #2 (Ficção LGBT)Onde histórias criam vida. Descubra agora