Capítulo 55: Natanael

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A PALAVRA DO DIABO

— O que...

— Calado! — vocifero, e Thiago cede ao meu comando, silenciando-se e arregalando os olhos, estupefato. Sorrio de canto, encarando-o com a confiança que os demônios possuem ao se deliciarem da vida humana. — Não se assuste, um antídoto ao soro de vocês está sendo dispersado pela ventilação desde a manhã. Agora não há como fugir de mim. — Dou um passo, retraindo a lâmina do braço direito. — Você conseguiu algo que, talvez, sequer sabia que queria. Você me destruiu, Thiago, pedaço por pedaço. Você e todos Os Treze. Tiraram de mim as pessoas que mais amei e colocaram em risco as que amo. — Estalo a língua, balançando a cabeça. Ele começa a dar passos para trás, mas aponto um dedo em sua direção: — Parado. — Olho para Nanquim, que desliza em direção a uma segunda porta. — Antônio, volte aqui! A brincadeira não tem graça sem você.

O senhor gira sobre os próprios calcanhares e, de maxilar trincado, pisa duro em minha direção. Lado a lado, os dois se encaram, temerosos, e uma satisfação quase insana jorra em meu peito. Ah, que sensação maravilhosa. Afinal, a víbora achou que tinha algum controle sobre mim e, no fim, quem está sendo controlado é ele. O próprio me mostrou como derrotá-lo: deixá-lo me seduzir foi a resposta. Tornou-se vulnerável a cada vez que eu cedia mais para ele. Ao mesmo tempo, tornei-me cada vez mais forte, como um súcubo que se alimenta de sua virilidade.

— Thiago, dirija-se até o painel de controle e acesse as bombas atômicas, sim?

Ele arregala os olhos ao meu pedido, mas obedece em silêncio. Vejo Nanquim engolir em seco e rio, deixando um tapinha em seu ombro ao passar por ele. Posiciono-me ao lado do homem, vendo-o acessar os comandos e ativando os códigos necessários ao passo que travo o sistema para ninguém me incomodar.

De súbito, um sinal no monitor semitransparente chama minha atenção e vejo que a guerra lá fora minimizou, dividindo-se em dois lados. Tenho um vislumbre de Lya e Ranna conversando antes de uma tela holográfica surgir no ar. Semicerro os olhos, chamando Nanquim. Ao meu pedido, ele explica se tratar de doze representantes d'Os Treze, enquanto ele mesmo deveria ser o décimo terceiro. Sorrio com isso, afinal, os outros estão descantando meus "convidados" durante a conversa com Lya. Por fim, Ranna fecha um semiacordo com eles, o que me é recompensador.

Encaro seu rosto pela imagem da câmera, sabendo o quanto ela é maravilhosa, em "n" motivos. Ela sofreu tanto (ou mais) quanto o resto de nós, mas saber que sua vida não é sua, saber que foi uma arma, usada como método de manipulação contra a própria comunidade... isso tende a mudar a visão de alguém, de corrompê-la, mas não Ranna. A loira é mais forte do que imagina e tem aguentado a barra melhor do que qualquer um. Melhor do que eu. Eu só espero que ela fique bem, assim como meu ruivo...

... o qual me nego a pensar no momento.

— Tudo certo, Thiago? — indago, olhando as centenas de armas listadas. Ser um d'Os Treze tem seu lado bom. Ou nem tanto.

— Tudo... sim — responde, tentando lutar contra minhas ordens.

Sorrio, carregando minha voz com ainda mais vontade ao dizer:

— Ótimo, engatilhe-as.

Engolindo em seco, ele assente e, enquanto faz seu trabalho, coloco "Chained To The Rythm" para tocar durante a preparação do itinerário das armas. Balanço-me ao ritmo da música, o que soa como um absurdo para Thiago; já para seu pai, é como se eu estivesse prestes a invocar o tinhoso.

— Pronto — avisa o primeiro.

— Hm, muito bom. Agora prepare as de pulso eletromagnético — ordeno.

Futuro Conquistado #2 (Ficção LGBT)Onde histórias criam vida. Descubra agora